DESEJO PESSOAL versus O "MELHOR" A SER FEITO
por Heitor Jorge Lau
A vida é um constante exercício de escolhas, e poucas perguntas são tão incômodas e essenciais quanto: devemos abdicar daquilo que desejamos em prol de algo que é o melhor a ser feito? Essa questão coloca em lados opostos o desejo—o impulso íntimo, a satisfação pessoal, o eu imediato—e o dever—a ação considerada a mais correta, moral ou estrategicamente superior, que beneficia um bem maior ou um futuro mais sólido.
A Perspectiva do Desejo
O desejo, em sua essência, é o motor da realização. É ele que nos impulsiona a buscar a felicidade, o prazer e o autodesenvolvimento. Renunciar sistematicamente aos próprios desejos em nome de um ideal externo de "melhor" pode levar à frustração, ao ressentimento e, em última análise, a uma vida sem autenticidade. Afinal, o que é o "melhor" se não inclui a satisfação e o bem-estar daquele que age? Desejos saudáveis e éticos devem ser perseguidos como parte de uma vida plena.
A Perspectiva do "Melhor" a Ser Feito
Por outro lado, o "melhor" a ser feito geralmente se refere a uma ação com validade ética, moral ou lógica superior. Pode ser o sacrifício necessário para o bem da família, a disciplina de estudar para um futuro promissor (em vez de sair), ou a ação ética que evita um dano a outrem, mesmo que signifique perder uma vantagem pessoal. Nesses casos, o ato de abdicar é visto não como uma perda, mas como um investimento. Ele demonstra maturidade e a capacidade de postergar a gratificação imediata em favor de um resultado mais significativo ou justo a longo prazo.
O Ponto de Equilíbrio: O "Melhor" para Quem?
A chave para esse dilema reside em questionar: o que exatamente constitui o "melhor" a ser feito, e para quem? - Quando o desejo é prejudicial: se o desejo é autodestrutivo, antiético ou prejudica terceiros, a renúncia não é apenas recomendada, mas necessária. O "melhor" a ser feito aqui é a manutenção da integridade pessoal e social. - Quando o desejo e o dever coincidem: a situação ideal é quando os caminhos se alinham, e o que mais desejamos é, coincidentemente, o mais benéfico. No entanto, na maioria das vezes, a escolha é dura. A armadilha do sacrifício vazio: é preciso cuidado para não cair na armadilha de sacrificar constantemente a si mesmo em nome de um "melhor" imposto por expectativas externas. O sacrifício só tem valor quando é feito com consciência e leva a um resultado concreto que justifica a renúncia. O "melhor" a ser feito deve, em última instância, levar a um mundo onde também exista espaço para a felicidade e a realização pessoal.
A resposta não é um "sim" ou "não" categórico. A decisão de renunciar ao desejo pelo dever exige discernimento. É uma balança onde pesamos a urgência e a ética do desejo contra a importância e o impacto do dever. Devemos abdicar daquilo que desejamos quando esse desejo for menor, mais egoísta ou mais destrutivo que a força e a justiça do "melhor" a ser feito. Porém, devemos sempre lutar para construir uma vida onde o "melhor" a ser feito inclua—e não anule—a nossa busca por uma existência autêntica e satisfatória. A verdadeira sabedoria reside em saber quando o preço da realização pessoal é alto demais e quando o preço da renúncia é a perda da própria essência.
Uma breve explanação sobre a imagem ilustrativa desse texto:
A imagem representa o dilema entre o desejo e o "melhor a ser feito" através de uma balança, tornando a metáfora da escolha e do equilíbrio imediatamente compreensível.
1. O lado esquerdo: o desejo (o prazer imediato, o eu pessoal)
A Maçã Vermelha Flamejante: a maçã é um símbolo universalmente reconhecido do desejo, da tentação e do prazer imediato. O fogo ao seu redor intensifica essa ideia de paixão, impulso e, por vezes, um desejo que pode ser "ardente" ou até "consumidor", como discutido no texto.
2. O lado direito: o "melhor" a ser feito (o dever, o crescimento, o bem-estar a longo prazo)
A pirâmide sólida com uma planta crescendo e uma cidade na base:
A pirâmide: representa estrutura, fundação, planejamento e o futuro construído. Simboliza a estabilidade e a solidez que advêm das escolhas consideradas "melhores" a longo prazo (como estudar, trabalhar, construir uma vida).
A planta crescendo no topo: indica crescimento, desenvolvimento, renovação e vida. É o resultado positivo e sustentável das escolhas feitas com sabedoria e responsabilidade, o "fruto" do que é "melhor a ser feito".
A cidade na base: sugere o impacto social e a construção de um futuro coletivo, ou mesmo a construção da própria vida de forma estruturada.
3. O centro: a escolha e o equilíbrio
A balança: é o símbolo central do dilema e da ponderação. A mão segurando a balança representa o indivíduo tomando a decisão, a nossa agência na busca pelo equilíbrio.

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