quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Real e Irreal

 Mente humana – Novo Rumo

 

Por: Ms. Heitor Jorge Lau
 Psicanalista
Mestre em Educação
Pós-graduado em Gestão de Pessoas
Bacharel em Comunicação Social

 

    Para o cérebro não existe o real e irreal.

    Tudo não passa de relações químicas e impulsos físicos.

    O que diferencia o real (concreto e possível) do irreal (impossível e imaterial) é o conhecimento acumulado no decorrer da vida.

    Tudo, absolutamente tudo, não passa de comparações.

Vício e Hábito

Mente humana – Novo Rumo

Por: Ms. Heitor Jorge Lau
Psicanalista
Mestre em Educação
Pós-graduado em Gestão de Pessoas
Bacharel em Comunicação Social

 

    O vício, seja ele qual for, é reflexo da insatisfação, ao contrário do que a maioria das pessoas pensa.

    A satisfação proporciona o bem estar por algum período e este timing de deleite impede a repetição consecutiva e ininterrupta.

    Por sua vez, a insatisfação impulsiona uma nova tentativa... imediatamente.

    A satisfação conduz ao hábito; a insatisfação conduz ao vício.

segunda-feira, 26 de outubro de 2020

O autismo natural da criança

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Por: Ms. Heitor Jorge Lau
Psicanalista
Mestre em Educação
Pós-graduado em Gestão de Pessoas
Bacharel em Comunicação Social
 
            O conhecimento do mundo é feito segundo formas ou configurações e, na criança, se faz também dessa maneira, com formas ou configurações que se multiplicam e se substituem ao infinito. Cada idade, desde o nascimento até os 12 anos, tem as suas formas próprias, nos vários sentidos das aptidões humanas. Esta referência diz respeito à esfera da vida intelectual, da atividade psicomotora, das emoções, da memória, dos órgãos psicomotores, das ideias que, sucessivamente, as crianças vão fazendo do mundo exterior, e assim por diante. Seria praticamente impossível não lembrar de Jean Piaget - biólogo, psicólogo e epistemólogo suíço. Considerado um dos mais importantes pensadores do século XX, defendeu uma abordagem interdisciplinar para a investigação epistemológica e fundou a Epistemologia Genética, teoria do conhecimento com base no estudo da gênese psicológica do pensamento humano. Não haveria necessidade de reconhecer que o mundo infantil é completamente diverso do mundo dos adultos. As crianças possuem “gestalts” particulares. A criança até três anos de vida, somente reconhece o seu mundo infantil, ignorando por completo o universo dos adultos. O que não é desejado é veementemente negado, sob um ponto de vista individual (e egoísta) estritamente sentimental. A partir do terceiro ano de vida, talvez até o sétimo ou oitavo, a criança começa a admitir e reconhecer os dois mundos: o seu exclusivo, de acordo com os seus interesses instintivos e o dos adultos. Do sétimo ao décimo ano de vida é que o mundo real começa a ser aceito, e há uma ordenação hierárquica de ambos, graças ao que as fantasias e a vida psíquica infantil se submetem às exigências da realidade. É quase possível conceber este trajeto de descobertas como uma vida infantil “autista”. Seria um autismo natural que vai se desmantelando com o passar dos anos a fim de ceder lugar a realidade. Entretanto, se a realidade for excessivamente hostil, é de admitir que a sua aceitação seja difícil e que o indivíduo conserve as “sobras autistas” ou os “mecanismos autistas” pela vida adulta afora. Porém, quando o desenvolvimento se desenrola sem muitas dificuldades, o aprimoramento hierárquico da lógica sobre o mundo autista acontece constantemente. As preocupações corriqueiras dos adultos não possuem lugar na vida infantil e tudo que a criança tira do mundo adulto será, certamente, introduzido no seu mundo autista. É relevante entender que não somente os objetos fazem parte desta captura e transformação, fazem parte também, os animais, os adultos, os pais e os irmãos (principalmente). Na ânsia de envolver a todos neste mundo particular a criança alça mão de artifícios que lhe são peculiares (ou acessíveis no momento). Os adultos, por sua vez, podem se deixar envolver ou não, através da imposição de suas vontades. Contudo, também podem se deixar arrastar, não contribuindo (ou contribuindo pouco) para que a criança aceite a realidade. A única certeza é que não proporcionar aquilo que a criança precisa se traduz em hostilidade, por outro lado, dar além do necessário é superprotegê-la. Enfim, se as crianças nascem dotadas de alguma disposição nervosa (quase sempre sim, em decorrência do enfrentamento com o mundo exterior e real), os pais também se tornam aflitos por enxergarem perigos, males e ameaças onde, de fato, não existem. Surge então, a neurose infantil. Após uma delongada teorizada surge ou resta uma dúvida: em que momento da vida de um paciente, a sua trajetória natural (“autista”) foi interrompida e qual foi o gatilho emocional que fez emergir um suposto descontrole físico-emocional?

 

quinta-feira, 24 de setembro de 2020

O REAL e o IMAGINÁRIO: ETERNO CONFRONTO

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Por: Ms. Heitor Jorge Lau
Psicanalista
Mestre em Educação
Pós-graduado em Gestão de Pessoas
Bacharel em Comunicação Social

 

     O imaginário humano possui a capacidade extraordinária de tornar determinadas ocorrências suscetíveis a exageros e distorções. Esse processo é típico do homem, ser capaz de adulterar, moldar e certificar deliberadamente certos aspectos do factual, de acordo com sua visão, interpretação, sensibilidade, emoção e conveniência.

            Mas a pergunta é: como seria a vida sem o extraordinário? É impressionante como o incomum parece provocar grande fascínio nas pessoas, a ponto de influir no seu modo de agir e pensar, transformando o excepcional em mito, crença e em determinados contextos em “verdadeiro”. É importante perceber que, não raramente, a ficção procura, até mesmo, justificar ou explicar a realidade.

            A página preliminar do livro Pensar o somático: imaginário e patologia, de Sami-Ali contém uma epígrafe de Ibn Arabi (1164-1240) que diz o seguinte: “Nada seríamos, não fosse a imaginação”. A mensagem intrínseca na oração é relevante. Afinal, desde os tempos bíblicos o imaginário, segundo registros preservados, é uma constante. O caráter e as proporções que determinados relatos da época alcançaram, delineiam a fé cristã há milhares de anos, por exemplo.

            Cabe ressaltar que, neste momento, não existe qualquer motivo ou tentativa de pôr em dúvida ou adentrar no mérito da veracidade dos fatos. A exemplificação elencada almeja suscitar no leitor a reflexão sobre a potencialidade do imaginário. Deseja evidenciar que certos fenômenos e manifestações podem permanecer legitimados e certificados por meses, anos, milênios.

            Todavia existem criações, originárias da mesma fase citada anteriormente, que perderam sua validade por não encontrar mais respaldo em um contexto mais moderno, mais intelectivo. Criaturas mitológicas como o Minotauro, por exemplo, foram imaginários que obtiveram sua valorização, sua veneração e respeitabilidade pelo medo dos castigos impostos por uma eventual desconsideração. Mas o ser humano evolui e parte daquilo que foi pertinente um dia deixa de ser noutro.

            O homem ao nascer, independentemente do período histórico, apesar de dotado da capacidade de raciocinar, primeiramente imagina. O primeiro contato com os objetos, sons, odores é assimilado pelos sensores físicos, mas a significação não possui lógica ou comparação com alguma experiência vivenciada, portanto, não passa de pura imaginação. Pois é justamente este imaginário que constitui os sentidos e molda a gênese do mundo de cada vivente.

            Afinal, se o imaginário já faz parte do indivíduo desde sua concepção, por que não é aceito com naturalidade por algumas pessoas? Quiçá, simplesmente pelo fato de o termo comportar certa confusão semântica desde sua origem. Numa acepção mais simplista, é compreendido como desvario e ausência de honestidade, ou seja, qualquer criação oriunda do imaginário é encarada com incredulidade e suspeição. Se o racional tem status de verdadeiro, a imaginação é produto do inconsistente.

            Teorias à parte, o fato é que todo ser humano possui uma essência imperscrutável e o imaginário lhe pertence. É nesse universo insondável, repleto de segredos, que os dados e as informações do mundo físico são reprocessadas sob uma nova roupagem, um novo significado, onde o lobo vira lobisomem, o morcego transforma-se em vampiro, e a mula-sem-cabeça, que além da ausência da caixa craniana, ainda serve de protagonista de histórias assustadoras.

            Mas o imaginário não aflora somente em relatos e lendas espantosas. A arte, de forma geral, é inspirada, sim, pela capacidade imaginativa do poeta, do compositor, do pintor, do escritor. Nela são encontradas todas as maneiras imaginativas de traduzir o já manifesto e compreendido, descritas de forma a atiçar a mente e o coração do homem que, além de racional, é também emocional.

            Os exemplos anteriores denotam a presença do imaginário como fomentador da imaginação. Essa consideração parece sem nexo ou redundante, mas aquele que lê, assiste ou ouve, aprecia e constrói o seu imaginário pessoal de acordo com a sua interpretação e conveniência. Conclui-se, então, que não há como negar: o imaginoso sempre esteve e sempre fará parte do cotidiano do homem, mesmo porque essa capacidade lhe é conferida naturalmente.

            Assim, após uma explanação, mesmo que deveras sucinta sobre o tema imaginário, foi possível observar que o mundo real coexiste com o irreal explícito e suscitado e, por que não afirmar, ainda, que os dois necessariamente dependem um do outro porque a reflexão, tão necessária na humanidade, é instigada pela controvérsia. E, o imaginário quase sempre desperta a curiosidade e provoca a polêmica, a discussão.

            Também, os produtos da imaginação possuem sentidos conotativos, por isso estão sujeitos à discriminação como sendo oriundos dos insanos ou loroteiros. Segundo Malebranche (apud DURAND, 1998, p. 10), a imaginação “é suspeita de ser a amante do erro e da falsidade”. Aqui se percebe que a subjetividade não é interpretada no sentido literal da palavra. O subjetivo é particular e indeterminável, portanto, deveria ser isento de crítica ou comparação, entretanto, muitas vezes não é.

            Outro detalhe, talvez o mais importante, é que o imaginário não é restrito àquele que é dotado de maior capacidade intelectual ou cultural. Logo, qualquer um pode construir, usufruir e disseminar uma ideia oriunda da imaginação. Por isso, o imaginário tem a potencialidade de difundir as representações coletivas do povo como é o caso das lendas e histórias populares.

            O imaginário, enquanto propriedade própria do ser humano, se entretece com o real por meio da criação metafórica do mundo numa reciprocidade da qual só de modo paulatino e por meio de uma gradual compreensão podem desprender-se como termos distintos. Portanto, a verdade é que o imaginário se tornou parte integrante e indissociável da elaboração de qualquer discurso proferido pelo homem e do qual não pode prescindir.

 

A LIBERDADE EXISTE?

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Por: Ms. Heitor Jorge Lau
Psicanalista
Mestre em Educação
Pós-graduado em Gestão de Pessoas
Bacharel em Comunicação Social

 

    O filósofo alemão Kant brincou com a ideia da liberdade do pássaro, imaginando uma pomba ágil, indignada contra a resistência do ar que a impedia de voar mais depressa. Na verdade, é justamente essa resistência que lhe serve de suporte, pois seria impossível voar no vácuo. Se o voo livre do pássaro é uma ilusão, da mesma forma podemos dizer que incorremos em engano semelhante ao nos considerarmos capazes de liberdade absoluta. Analisemos: a partir do princípio do determinismo, tudo que existe no mundo está sujeito à lei da casualidade. A ciência só é possível porque o conhecimento da relação necessária entre causa e efeito - isto é, o conhecimento dos determinismos naturais - leva à descoberta das leis da natureza e permite que sejam feitas previsões e desenvolvidas técnicas.


     Não há como negar que também o ser humano se acha preso a determinismos: tem um corpo sujeito às leis da física e da química, é um ser vivo que pode ser compreendido pela biologia. Por isso, já no século XVIII, os matemáticos franceses D' Holbach e La Mettrie reduziam os atos humanos a elos de uma cadeia causal universal. Já, no século XIX, o filósofo francês Taine, discípulo direto de Augusto Comte, afrimava que não somos livres, mas determinados pelo momento, pelo meio e pela raça. Essa concepção influenciou os intelectuais daquele século, inclusive a literatura naturalista. No Brasil, quem ler O Cortiço e/ou Mulato, de Aluísio Azevedo, identificará as forças incontroláveis do meio e da raça agindo de forma inexorável no comportamento das pessoas.

    Herdeiros dessa visão determinista, Watson e Skinner, psicólogos contemporâneos da corrente comportamentalista, admitem que o ser humano tem a ilusão de ser livre, mas na verdade apenas desconhece as causas que atuam sobre ele. A ciência do comportamento conheceria de tal forma as motivações, que seria possível prever e portanto planejar o comportamento humano. Concluindo, além dos determinismos psicológicos, podemos acrescentar os culturais: ao nascer, encontramos um mundo já constituído e recebemos como herança a moral, a religião, a organização social e política, a língua, enfim, os costumes que de certa forma moldam nossa maneira de sentir e pensar. Então, a liberdade existe?