quinta-feira, 22 de março de 2012

FALANDO SOBRE EDUCAÇÃO


Por Heitor Jorge Lau
Empresário e Mestrando em Educação
Pós-Graduado em Gestão de Recursos Humanos
Bacharel em Comunicação Social – Relações Públicas
_____  Introdução
            No ano de 1988 foi promulgada a Constituição da República Federativa do Brasil, fato histórico marcado pela manifestação explícita dos fundamentos básicos dos direitos civis, políticos e sociais dos cidadãos do Estado brasileiro. Os princípios sabiamente redigidos não são realidades integralmente vigentes porque foram pautados sob o prisma de metas e objetivos a serem constituídos e alcançados. A construção do cenário ideal da educação, de um projeto político pedagógico pleno e da formação docente não poderia ser diferente. Todo e qualquer projeto de construção nasce do imaginário para o concreto e isto não significa que durante a trajetória caminhos alternativos e desvios não possam perfeita e harmonicamente acontecer. Aliás, são vieses naturais e necessários e qualquer atalho milagroso que evitasse este percurso resultaria, de certa forma, em trabalho duvidoso. A humanidade sempre evoluiu em decorrência das rupturas, adaptações e transformações das normativas momentaneamente em vigor, e configurar uma expectativa contrária seria perda de tempo. O mundo contemporâneo trouxe novas tendências e anseios, transformou a visão das organizações e a escola não poderia deixar de ser inclusa na reconfiguração e reconstrução de suas práticas educacionais. O espaço escola e o cidadão professor ficaram igualmente expostos e sujeitos aos olhares críticos e ávidos da sociedade, por adaptações e respostas aos novos tempos. Talvez, nem todas as dúvidas fossem claras, ou nem todas as cobranças fossem coerentes, mas o certo que elas estavam presentes e figuram até hoje. Atualmente, tratar de assuntos relacionados a educação deveria ser tão corriqueiro quanto discorrer sobre matérias de outras áreas de atuação profissional. Mas parece não ser. Talvez, pelas complexidades que envolvem e caracterizam o processo ensino-aprendizagem, permeados de dimensões conceituais, normativas e estruturais. Independentemente de ser uma discussão de categoria habitual ou não, o fato é que a escola representa o ponto de partida - depois da educação familiar - para a construção do conhecimento formativo do aluno-cidadão.

____    Escola x Educador x Educando
            É relevante ressaltar que as instituições de ensino lidam diariamente com a diversidade humana (em formação) e em contrapartida com conteúdos rigorosamente normatizados. Lecionar significa encarar um desafio diário, intenso e ininterrupto. Assim, a conseqüência específica e direta desta dinâmica é que o educador precisa manter-se atualizado, reciclando teorias e técnicas de docência. No que dizem respeito às técnicas empreendidas, os horizontes são infinitamente fecundos e abrangentes. O docente deve navegar pelos campos do saber de forma multidisciplinar, absorvendo conteúdos da sociologia, filosofia, antropologia, psicologia, enfim, de várias disciplinas. Tudo porque o educando dos dias de hoje, principalmente do ensino médio, além do pouco interesse pelos conteúdos ministrados (tipicamente natural em decorrência da faixa etária), participa ativamente de um mundo recheado de informação cuja velocidade e acessibilidade é algo nunca presenciado antes. Esta mecânica prática-virtual categoriza o aluno como exigente máximo, e paradoxalmente desinteressado no ambiente escolar. Exigente porque ele ignora conteúdos “estáticos” transmitidos de forma linear, ou seja, sem o movimento da dinâmica virtual. Por outro lado, desinteressado porque o aprendizado deve acontecer quase instantaneamente, sem muito esforço e se possível sem avaliação. Estes panoramas são reflexos da virtualidade impingida pelo advento da internet e principalmente das redes sociais, onde as fronteiras e regras rígidas de convivência praticamente inexistem. Em decorrência disto, o professor, outrora reconhecido como exigente e disciplinador, está perdendo o fôlego, a paciência e o ânimo pela profissão. Ora, qual o fator que fomenta o ímpeto de qualquer ocupação? A resposta é simples: o desafio. Se, atualmente os desafios são tantos, sejam eles de ordem financeira, humana ou de recursos materiais, desanimar e “jogar a toalha” simplesmente não resolve a questão ou “recalibra” as intenções. A lista de motivos apresentados para justificar a queda de rendimento dos educadores é encabeçada pela baixa remuneração e pela falta de condições oferecidas pelos órgãos competentes das esferas municipais, estaduais e federais. Lógico, ignorar esta realidade seria insensato, todavia, não pode ser incentivo para o desgosto pela profissão. Um professor, acima de tudo, precisa estar diariamente munido de infindável resiliência e de eterna sede pelo saber. A convicção pelo exercício da docência, a vontade pela busca do conhecimento e a persistência são temperos que alimentam sua “alma profissional”. Outro detalhe reside no fato de que o processo de ensino-aprendizagem não deve ser concebido como um evento unilateral ou de via única. Ele acontece bilateralmente, em via de mão dupla, ou seja, o educando aprende, o educador também (“feliz aquele que ensina o que sabe e aprende o que ensina”). O educando não pode ser reconhecido como um observador passivo que aprende tudo que lhe é dito e ensinado, pelo contrário, ele deve ser percebido como personagem ativo do imenso cipoal de métodos e práticas educacionais.

____    Tecnologia
            Também é proeminente reconhecer que as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) em sala de aula acabam se tornando aliadas dos educadores neste festival de interações. Mas, não esqueçamos que as TIC não comportam soluções e conteúdos completos para o aprendizado, mesmo que aproximem o aluno da escola e do professor por harmonizar a relação ensinar versus aprender. Trata-se de um meio de comunicação mais próximo da realidade do educando. Mas, dominar as tecnologias da informação é mister, pois o direcionamento correto e a imposição de limites, tanto da utilização como do acesso a conteúdos pertinentes, é absolutamente necessário no processo ensino-aprendizagem.

____    Papel do Educador
            O papel do professor não apenas diante do uso das TIC em sala de aula, mas num contexto mais amplo, é postar-se como mestre e mentor sempre disposto e disponível. Afinal, como dito anteriormente, o cerne das questões de relacionamento são, quase na totalidade, de caráter subjetivo e individual. O educando, ao procurar o educador espera reação imediata, e deixar qualquer questão, por menos relevante que possa parecer, sem a devida atenção e resposta, é semear o descrédito em ambas as partes – o educando desacredita o professor por ter sido negligenciado. O educador é protagonista do cenário da educação e o educando é coadjuvante (mas, personagem ativo e indispensável na construção do processo). Talvez, aqui esteja a grande questão e carência técnica do educador diante do desafio de tentar manter-se sempre no ápice das atenções dentro da sala de aula: ser protagonista. Não é tarefa fácil, pois exige uma performance espetacular e três noções fundamentais: consciência de si, dos outros e da existência das diferenças; controle absoluto dos desejos e impulsos pessoais; e responsabilidade por suas ações e conseqüências.

____    Relações Sociais
            A visão de Vygotsky sustentava que o homem somente alcança funções psicológicas superiores às básicas por intermédio das relações sociais. Mas tais relações possuem sua gênese no âmbito familiar, centro de toda iniciação e fundamentação sólida do sujeito-humano. Ainda que as famílias personifiquem o professor como sendo o centro transmissor do conhecimento, o aluno como sendo o receptor passivo do conhecimento, e finalmente, a escola como sendo o local que ocorre a transmissão deste conhecimento. Diante de tantas personificações e expectativas equivocadas, o processo ensino-aprendizagem tornar-se palco diário de desentendimentos. O resultado disto tudo pode ser percebido pela visão distorcida de um do “professor despreparado e ineficaz”. Indubitavelmente, os estímulos recebidos no lar são responsáveis diretos por todo desenvolvimento das competências necessárias para a aprendizagem.

____    Ambiente Formativo do Docente
            Diante de tantas concepções e questões relacionadas ao processo ensino-aprendizagem, existe um lado positivo disto tudo. O ambiente escolar continua sendo o cenário ideal para a formação plena do docente. Todas as instituições de ensino comportavam problemas antes das reformas educacionais e continuam contendo, mesmo depois terem sido implementadas. Lógico, determinadas carências que independem de reformas, precisam ser corrigidas como ausência de bibliotecas quantitativamente e qualitativamente satisfatórias, ambientes tecnológicos mais modernos, acesso a cursos de gabarito voltados à reciclagem de conhecimentos prático-teóricos, entre outras. Os processos de ensino sofreram, no decorrer da sua história, várias reformulações justificadas por uma democratização sócio-cultural mais eficaz e mais recentemente pela necessidade de ajuste aos desafios que a globalização fez insurgir. Concernente ao ensino médio, a “antiga escola” que era objetivamente pautada pela propedêutica tornou-se obsoleta e inaceitável nos dias atuais porque o educando não é efetivamente preparado para o mercado de trabalho. Em contrapartida, paralelamente os cursos profissionalizantes atendem este quesito em detrimento de uma formação mais abrangente. Portanto, nenhuma das duas atende plenamente o modelo de mundo existente. Parece que há uma tentativa de congregar os dois perfis educacionais de forma a preparar o aluno para “a vida” ao invés de somente para uma provável graduação. Estar preparado para a vida transcende a simples idéia de construir um saber voltado à mera reprodução de dados, pelo contrário, significa saber se informar e argumentar, ser crítico e “inventor” de novas propostas, e acima de tudo, ser um eterno aprendiz.

____    A Escola do Mundo Contemporâneo
            As exigências formativas do mundo moderno evocam da educação um enfoque contextual mais amplo. Todas as reformas educacionais promovidas intentaram uma adaptação as novas demandas, e às instituições de ensino e aos professores, resta a incumbência de formular projetos pedagógicos que contemplem as diretrizes propostas concomitantemente às propostas transversais da própria escola. Os parâmetros curriculares sugeridos na última década parecem coerentes e viáveis, e a prova disto está no fato de que as orientações educacionais sugerem uma articulação inter-áreas, desbancando a concepção errônea de que cada disciplina possui caráter estritamente individual e “sacrário”, ou seja, a interdisciplinaridade é possível e necessária. O processo ensino-aprendizagem é complexo pela natureza da sua matéria prima básica: pessoas; e, é intricado pela quantidade de modelos mentais, cada um forjado por culturas e contextos pessoais dos mais diversos. Esta característica deveria incentivar a possibilidade do ensino via interdisciplinaridade, todavia, com o cuidado extremo de várias disciplinas do currículo não tratarem do mesmo tema no decorrer do mesmo período letivo. A interdisciplinaridade não pode ser compreendida como uma simples integração de diversas disciplinas no contexto de algum projeto curricular, deveria, sim, garantir uma unidade das práticas pedagógicas.

____    Consideração final
            Um profissional da educação deve, obrigatoriamente, saber o que faz em sala de aula e porque esta realizando de uma forma ao invés de outra. O professor detentor da capacidade de buscar conhecimento ininterruptamente e de se auto-reinventar (condições sine qua non) é o agente de mudanças que toda escola precisa.

segunda-feira, 5 de março de 2012

A DIFÍCIL ARTE DE COACHING


   
Por Heitor Jorge Lau
Empresário e Mestrando em Educação
Pós-Graduado em Gestão de Recursos Humanos
Bacharel em Comunicação Social – Relações Públicas

    O mundo contemporâneo atingiu um dinamismo antes nunca percebido, provocando mudanças de hábitos e convertendo identidades, até então ditas como ideais, em “identidades ultrapassadas”. O homem moderno tornou-se um indivíduo fragmentado, multifacetado. Esta nova ótica retirou de todo cidadão a estabilidade do ser e agir conforme paradigmas instituídos e aceitos como únicos, acertados e perpétuos. Portanto, o homem-família, o homem-social, o homem-trabalho, acaba sentindo despreparo e desconforto por ter que administrar simultaneamente um cabedal de perfis e personalidades de grupos heterogêneos. Naquilo que concerne às relações de trabalho, que é o foco principal deste texto, o novo paradigma das interrelações pessoais é infinitamente mais delicado e compassivo. A questão é: como lidar com tanta diversidade cultural, intelectual e social ao mesmo tempo, e sob intensa e constante pressão? Neste cenário extremamente diversificado o profissional de coaching desenvolve um verdadeiro e difícil “trabalho de arte”. Justamente porque o seu papel está na façanha de influenciar o coachee sem apresentar soluções prontas sejam elas práticas ou teóricas, sem subjugar. A influência deve ser sutil, porém, alicerçada por conhecimento prático-teórico suficientes para motivar a busca por novos saberes e soluções. É importante ressaltar que, quando a necessidade presencial do profissional de coaching é reconhecida pelo próprio coachee a mecânica de todo processo flui de forma mais espontânea. No entanto, quando percebida por alguém de grau mais elevado na escala hierárquica do coachee, a relutância é natural e provável, afinal, “outro” estará apontando uma carência talvez não admitida. Diante do exposto é notório o fato de que o maior entrave nas relações coach versus coachee não ancora nos problemas propriamente ditos, mas sim, no administrar o subjetivo. E, é relevante evidenciar que o subjetivo é tempero indissociável da pluralidade de interpretações. Cada coachee traz consigo uma personalidade construída por diferentes pessoas e ambientes pelos quais manteve contato por sua vida, e isto, não está registrado em algum diário ou manual operacional. Todo seu conhecimento prático-teórico também. Este capital intangível possui um valor inquestionável para aquele que o detém e resume-se, na maioria das vezes, em sinônimo de algo intransferível e imutável. Esta imutabilidade, muitas vezes inconsciente, é que determina radicalmente a resistência contra as modificações das bases de valores pessoais. O ser humano ressente-se em abrir mão de tudo que lhe custou tempo e dinheiro. Por isso, e acima de tudo, o coach precisa deter a prática das relações interpessoais e conhecer tudo que for possível sobre as variáveis que moldam e conduzem o comportamento humano. O homem é um ser cognitivo inato e permanecerá num sistema organizacional recheado de complexidades por grande parte de sua vida, ora sendo influenciado, ora influenciando, ou seja, ele será produto e produtor do meio que vive. O ser humano visto como peça fundamental de todo e qualquer sistema de produção, precisa adequar suas características pessoais, especificamente suas potencialidades e limitações. O profissional de coaching terá a incumbência árdua de buscar compreender o incompreendido pelo coachee, e de fazê-lo expressar o compreendido, porém não expresso. Assim, cabe à relação coach x coachee identificar e ajustar modelos que influenciam diretamente aspectos psicológicos e sociais decorrentes das relações de trabalho. Portanto, o processo de coaching, além de reformular e corrigir práticas e relações de trabalho, sejam elas pessoais ou operacionais, resulta em acréscimo de conhecimentos multidisciplinares a todos os envolvidos.


Referências:
ARAÚJO, A. Coach. Um Parceiro para o seu Sucesso. São Paulo: Gente, 1999.

CHIAVENATO, I. Administração de Recursos Humanos. São Paulo: Atlas, 1980.

KRAUSZ, R.R. Coaching Executivo: A conquista da Liderança. São Paulo: Nobel, 2007.

SIMÕES, J.J. Psicologia e Dinâmica da Vida em Grupo. São Paulo: Loyola, 1980.

SOUZA, P. R. M de. A Nova Visão do Coaching na Gestão por Competências: A Integração da Estratégia. São Paulo: Qualitymark, 2007.