sexta-feira, 24 de julho de 2015

LEITURA AUSENTE NO CARDÁPIO DOCENTE

ESCOLA

Um terço dos professores não lê livros

Dados do Prova Brasil revelam que 55% dos docentes da educação básica não leem literatura com frequência. Resultado: afeta a formação do aluno.

Por Anna Simas

[...] Os professores da educação básica brasileira (ensino fundamental e médio) não gostam de ler. Segundo dados do questionário da Prova Brasil 2011, 21% dizem que leem às vezes e 34% nunca entram em contato com um livro. Ou seja, menos da metade tem essa prática. [...]


Influenciador
O principal efeito de um professor que não lê é a não formação de novos leitores. Ou seja, de alunos que não vão ter gosto pela leitura nem vão entender a importância dela. De acordo com o escritor e professor Paulo Venturelli, a leitura fundamental é a literária. É ela que vai desenvolver a inteligência e a sensibilidade, além de mudar a percepção que o professor tem do mundo e das coisas. “Esse é o problema principal da educação do Brasil, a falta de leitura. O professor não sabe o que fazer com o livro e não sabe ensinar o aluno a usá-lo.”
Por isso, mesmo que a pesquisa mostre que os índices são maiores em outros tipos de leitura, como jornal – 63% leem sempre – e revista – 65% leem sempre –, por exemplo, a leitura literária tem um papel que não pode ser substituído.
Segundo a pesquisa Re­­tratos da Leitura no Brasil 2012, do Instituto Pró-Livro e Ibope, o principal influenciador de leitura de crianças e jovens é o professor – 45%, superando o papel da mãe, que é de 43%.


Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br
Texto copiado e adaptado para postagem neste blog.

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Livro Virtual versus Livro Físico

Por Heitor Jorge Lau 
Mestre em Educação

            Como não poderia ser diferente, paira no ar uma discussão acirrada sobre qual o melhor meio de leitura: livro digital ou físico? Primeiramente vamos realizar uma tentativa de enumerar algumas características de uma obra digitalizada. Um e-book pesa menos e ocupa menos espaço. Ok! Ele também estaria isento do acúmulo de poeira e dos fungos de “plantão”. Pensando por um viés mais imediatista, o livro virtual pode ser adquirido a qualquer momento do dia e ser “saboreado” imediatamente (em tese). Bem, quando não for do agrado do leitor ele pode, simplesmente, com um toque no teclado enviá-lo para a inexistência. E o livro físico? É possível comparar um livro virtual com o físico da mesma forma como se compara um beijo. Um beijo recebido por intermédio da tela digital não comporta sentimentos. Traduzindo: colocar as mãos na capa, nas folhas, sentir o cheiro do novo (ou do velho), destacar as partes mais importantes através do sublinhar (pecado mortal) remete ao sentimento.

            Um livro, independente da tecnologia empregada para a sua existência, carrega consigo um valor simbólico que na sua representatividade social significa conhecimento, o qual transforma saber e cultura em processo de ensino aprendizagem. Há quem diga (e não são poucos) que apesar da leitura do livro físico ser recorrente, a sua existência está com os dias contados. É fato incontestável que o surgimento do livro eletrônico, concomitantemente às novas tecnologias, provocou um olhar mais atento sobre tal possibilidade. Contudo, uma reflexão precisa estar acima de qualquer dúvida: por que um deve ceder espaço para a existência do outro? Estaria um formato fadado a extinção para que o outro pudesse conquistar espaço na prateleira ou dentre os bits e bytes do ambiente eletrônico?

            O senso crítico é indispensável dentre tal discussão, uma vez que o termo “ocupar menos espaço” é relativo. É possível executar downloads de e-books com até 50 megabytes de tamanho. Qual o peso que se refere a afirmação anterior? Lógico, quilogramas. Todavia, o peso virtual também possui medida e não se resolve tal questão tão facilmente quanto se pensa. Não nos esqueçamos da velocidade e capacidade da conexão de acesso a internet! O Brasil, infelizmente, ainda “engatinha” atrás de condições excelentes de acesso à informação, seja ela relacionada a conexão ou pelo próprio meio, que é o computador não presente na totalidade das residências e escolas da sociedade brasileira. O bolor, com absoluta certeza, não irá danificar um e-book, mas um vírus virtual, este sim, e conforme o caso muito mais.

            O livro físico, por sua vez, é considerado uma “parte das artes gráficas que, compreendendo a judiciosa escolha de papéis e tintas, a tipografia, a ilustração e a encadernação, tem por fim a harmoniosa integração, no livro de sua dupla função, de objeto de estudo e de objeto de arte”. (Dicionário Aurélio). A definição anteriormente citada remete ao leitor que aprecia, não somente a leitura, mas o meio pelo qual a realiza. Para este tipo de individuo, um livro transcende a concepção de objeto para o estudo. A percepção é de um objeto que oferece conhecimento, cria aprendizagem e cultura, evoca sentimentos, quase um objeto de arte. Porém, uma legião considerável de leitores usa o impresso e pouco observa esta definição poética e sensibilizadora. Para muitos, um livro não passa de um meio físico de estudo, nada importando se ele será rasurado, rasgado ou abandonado na prateleira da estante mais próxima.
            Faz-se necessário e importante, ainda, citar o livro didático utilizado na escola. Nos livros didáticos inexiste ou há mínimo espaço para consensos de significado, pois os limites de atuação do leitor na construção dos sentidos são previamente planejados por professores ou autores. Portanto, não ocorre uma relação dialógica entre autor, texto e leitor. O novo “modelo” de livro, promovido por um suporte virtualizador transformou as relações sensoriais, elementos importantes no processo de leitura. O que antes era entendido como livro, cede espaço para uma nova formatação que constitui o não livro. A tela não possibilita a sensação do toque, do manuseio, como o livro tradicional. Não há mais uma relação afetiva; os sentidos não são mais os mesmos aguçados como no livro tradicional, no qual se fazem presentes e bem marcantes como o tato, o contato direto com o objeto, a visão, que é atraída pela cor, pelo formato e até o olfato que identifica se o livro tem cheirinho de novo ou usado. No livro eletrônico apenas a visão atua extensivamente.

            A leitura, então, pode ser considerada um processo de co-produção de sentidos de textos ou hipertextos, compreendidos como um processo complexo, que envolve aspectos cognitivos e de interatividade, no qual os conhecimentos prévios do leitor, suas experiências culturais, sociais e interativas, junto com as informações textuais, que são acionados para formarem o sentido e a compreensão da mensagem pretendida. Portanto, o sentido de qualquer texto, independente do meio pelo qual é acessado, não se encontra apenas em suas palavras, muito menos na mente do leitor, mas sim, especificamente na interação texto – leitor – contexto.

            Este embate de pontos de vista e preferências é, em parte, infrutífero. Na década de 80 do século passado, Marshall McLuhan profetizou o fim do livro físico. Contudo, o livro impresso, no seu formato milenar, apoiado e incentivado por grandes indústrias, continua “vivo”, com o seu público que certamente continuará resistente e fiel, concomitantemente, ao livro virtual. Em síntese, a discussão rende mais um século de debate, mas uma coisa é certa: gosto não se discute.


Heitor Jorge Lau