terça-feira, 3 de maio de 2022

Conflito entre gerações? Será?

 

    Muitos acreditavam e ainda acreditam que a juventude é uma época de rebeldia, independência, amor à liberdade... Não seria mais para um grupo de companheiros de geração, com espírito de rebanho, temor do isolamento, subserviência à voz corrente, ânsia de sentir-se igual e aceito pela maioria cínica e autoritária, disposição de tudo ceder e prostituir em troca de uma vaguinha de neófito no grupo dos sujeitos bacanas. O jovem, é verdade, rebela-se muitas vezes contra pais e professores, mas é porque sabe que no fundo estão do seu lado e jamais revidarão suas agressões com força total. A luta contra os pais é um teatrinho, um jogo de cartas marcadas no qual um dos briguentos luta para vencer e o outro para ajudá-lo a vencer. Muito diferente é a situação do jovem ante os da sua geração, que não têm para com ele as complacências do paternalismo. Longe de protegê-lo, essa massa barulhenta e cínica recebe o novato com desprezo e hostilidade que lhe mostram, desde logo, a necessidade de obedecer para não sucumbir. É dos companheiros de geração que ele obtém a primeira experiência de um confronto com o poder, sem a mediação daquela diferença de idade que dá direito a descontos e atenuações. É o reino dos mais fortes e mais descarados, que se afirma com toda a sua crueza sobre a fragilidade do recém-chegado, impondo-lhe provações e exigências antes de aceitá-lo como membro da horda. A quantos ritos e protocolos, a quantas humilhações não se submete o postulante, para escapar à perspectiva aterrorizante da rejeição, do isolamento. Para não ser devolvido, impotente e humilhado, aos braços da mãe, ele tem de ser aprovado num exame que lhe exige menos coragem do que flexibilidade, capacidade de amoldar-se aos caprichos da maioria — a supressão, em suma, da personalidade.

    É verdade que ele se submete a isso com prazer, com ânsia de apaixonado que tudo fará em troca de um sorriso condescendente. A massa de companheiros de geração representa, afinal, o mundo, o mundo grande no qual o adolescente, emergindo do pequeno mundo doméstico, pede ingresso. E o ingresso custa caro. O candidato deve, desde logo, aprender todo um vocabulário de palavras, gestos, olhares, todo um código de senhas e símbolos: a mínima falha expõe ao ridículo, e a regra do jogo é em geral implícita, devendo ser adivinhada antes de conhecida, macaqueada antes de adivinhada. O modo de aprendizado é sempre a imitação — literal, servil e sem questionamentos. O ingresso no mundo juvenil dispara a toda velocidade o motor de todos os desvarios humanos: o desejo mimético onde o objeto não atrai por suas qualidades intrínsecas, mas por ser simultaneamente desejado por um outro, o mediador. Não é de espantar que o rito de ingresso no grupo, custando tão alto investimento psicológico, termine por levar o jovem à completa exasperação, impedindo-o, simultaneamente, de despejar seu ressentimento de volta sobre o grupo mesmo, objeto de amor que se sonega e por isto tem o dom de transfigurar cada impulso de rancor em novo investimento amoroso. Para onde, então, se voltará o rancor, senão para a direção menos perigosa.

    A família surge como o bode expiatório providencial de todos os fracassos do jovem no seu rito de passagem. Se ele não logra ser aceito no grupo, a última coisa que lhe há de ocorrer será atribuir a culpa de sua situação à vaidade e ao cinismo dos que o rejeitam. Numa cruel inversão, a culpa de suas humilhações não será atribuída àqueles que se recusam a aceitá-lo como homem, mas àqueles que o aceitam como criança. A família, que tudo lhe deu, pagará pelas maldades da horda que tudo lhe exige. Eis a que se resume a famosa rebeldia do adolescente: amor ao mais forte que o despreza, desprezo pelo mais fraco que o ama. Todas as mutações se dão na penumbra, na zona indistinta entre o ser e o não ser: o jovem, em trânsito entre o que já não é e o que não é ainda, é, por fatalidade, inconsciente de si, de sua situação, das autorias e das culpas de quanto se passa dentro e em torno dele...

Senso Denotativo x Conotativo

    Este exercício tem por objetivo provocar ou demonstrar os dois tipos de sentidos ou sensações existentes na análise dos seres humanos ao visualizarem algo (seja imagem, foto, paisagem...). Existem dois sentidos: o sentido denotativo e conotativo - área de estudos da semiótica e semiologia. Sentido denotativo revela a designação de algo por um sinal que o representa. Seria basicamente a revelação ou expressão do sentido das palavras que se refere diretamente “à coisa”, e não às sugestões por ela provocada. Conotação é o sentido mais amplo que se pode atribuir a um termo abstrato, além da sua significação própria ou sua intenção propriamente dita. É o sentido que uma palavra ou coisa pode vir a ter como consequência de associações provocadas pelo seu significado comum, e que varia segundo a experiência, vivência e sensibilidade do ouvinte ou leitor, dependendo ainda do contexto em que ele se encontra. No âmbito da estilística, conotação se emprega, muitas vezes, como o equivalente do sentido figurado ou metafórico, em oposição ao sentido próprio, comum ou denotativo. Como objeto de análise para este exercício, uma fotografia foi a coisa selecionada para efeitos de estudo.

    Tente analisar a foto abaixo de forma denotativa, ou seja, observe a e anote tudo que a imagem (realmente, concretamente, expressa).

 



 

 

 

 

 

 

 

    Vamos agora aos resultados (compare com os seus):


ANÁLISE DENOTATIVA

Registro fotográfico em preto & branco;

- Criança nua;

- Cor branca;

- Olhos e boca fechados;

- Cabelos escuros;

- Pés cruzados;

- Postada em posição fetal entre duas mãos;

- Não se enxerga o sexo do bebê por estar oculto atrás dos joelhos;

- Somente estão constantes na fotografia as mãos do adulto que ampara o bebê, estando o restante do corpo oculto.

 

ANÁLISE CONOTATIVA

- A expressão do verdadeiro significado da Vida com toda a pureza do ser humano.

- Revela uma serenidade existente no recém-nascido;

- Descreve o amparo e proteção que as crianças merecem receber diante de um mundo cheio de perigos e incertezas;

- Sua expressão facial demonstra a completa e fascinante alienação aos problemas existentes da jornada da vida;

- Transmite uma imagem digna de ser símbolo da paz entre os homens. Dois seres de gerações distintas, com desproporções acentuadas, juntos em uma cena de perfeita harmonia e convívio;

- Também existe um aspecto na cena que revela sentimentos de confiança. A confiança de sentir-se segura e amparada perante o desconhecido, porém, acolhedor.

- Ela ensina que tudo na vida começa de forma humilde e pequena.

- O bebê necessita do adulto para sobreviver, crescer e ter um futuro.

- Nascemos puros e livres.

 

    Esta análise revela que em nosso cotidiano praticamos obrigatória e necessariamente análise denotativa e conotativa de todas as coisas. Não notamos tal fato por ser um processo mascarado pelo automatismo inerente de nossas funções cerebrais. Mas, ao dispensar determinado tempo para observar atentamente os sentidos da denotação e conotação, é possível observar incontáveis aspectos relevantes:

- Uma análise denotativa requer uma visão extremamente analítica, de modo que a avaliação deve ser centrada rigidamente no objeto;

- Requer também, um “congelamento” da visão emocional, pois, existe a tendência de ocorrer um cruzamento ou invasão do sentimental dentro do racional;

- Uma análise conotativa torna-se mais fácil e fluente, afinal, a liberdade de pensamento e expressão dão asas à imaginação;

- A conotação está livre das amarras do racional e da lógica, portanto, nos isenta de culpa e nos dá a liberdade para o erro.

 

    Nunca podemos esquecer que as experiências, as vivências e a sensibilidade do ouvinte ou leitor, devem ser consideradas. Levando em conta tais fatores é possível chegar à conclusão que a análise de um objeto é relativizada por duas capacitações:

- Capacidade intelectual-interpretativa: quanto mais acentuada for esta capacidade, maior será a habilidade e tendência de análise denotativa das coisas;

- Capacidade emocional-sensitiva: quanto mais acentuada for esta capacidade, maior será a habilidade e tendência de análise conotativa das coisas.

 

O ideal, portanto, é o equilíbrio entre as duas capacitações.