terça-feira, 16 de agosto de 2011

RELAÇÕES HUMANAS

Por Heitor Jorge Lau
Relações Públicas, Pós-Graduado em Gestão de Pessoas
Mestrando em Educação 
 
    A busca incessante por conhecimento, a motivação impulsionadora do desenvolvimento interpessoal, e a conseqüente plenitude das relações interpessoais colocam o homem, obrigatoriamente, na categoria de ser social. Desta forma, ele encontra-se infinitamente distante da condição de homo clausus (homem fechado em si mesmo) porque simultaneamente influencia e é influenciado pelo mundo que o cerca. É possível compreender esta observação bilateral na medida em que se reflita sobre o ciclo inicial de vida de todo indivíduo. O homem ao nascer é recebido e cuidado por várias pessoas, que provavelmente jamais verá novamente. Posteriormente, outras, muitas delas residentes fora do seu círculo de familiares e amigos, também nortearão caminhos a percorrer durante grande parte da sua vida, o quê, aliás, é condição básica para a sua sobrevivência nas jornadas pessoal e profissional. Qual o significado disto? Esta ordem natural dos fatos evita que o homem torne-se um eremita por natureza, e propicia relações, até certo ponto, estáveis com o mundo. Assim, a biografia de cada um é configurada, desde o nascimento, por intermédio das relações com os outros, sendo que por uma ótica sociológica, ninguém teria condições de desenvolver-se completamente sem passar pela experimentação social. São as experiências com os outros que irão, indubitavelmente, determinar aptidões, tendências, atitudes, virtudes e imperfeições comportamentais, suficientes e capazes de conectar ou distanciar uma pessoa das outras e vice-versa. É possível afirmar que este processo de aprendizado induzido, que possui sua gênese no momento do nascimento, é vitalício e não há forma de provocar sua interrupção. Contudo, as pessoas chegam à fase adulta “recheadas” de padrões e regras sociais, muitas delas sequer questionadas até então, tornando-as até certo ponto um tanto bitoladas. Mas é importante salientar que apesar de todas as forças modeladoras que acompanham cada individuo desde a infância, os parâmetros instituídos podem ser modificados e revestidos com outra roupagem, mesmo porque são todos resultantes de apropriações e criações de novos modelos ou possibilidades de viver em grupo. A evolução humana atinge o ápice da contrariedade no momento em que tudo aquilo que lhe foi dito e ensinado depara-se com controvérsias ou vieses que vão de encontro às convicções assumidas. Apesar deste confronto inevitável, os interesses individuais e grupais que mais cedo ou mais tarde acabam por se entrecruzar, são responsáveis pelas relações interpessoais, e cada indivíduo tem a incumbência de procurar novos horizontes e descobrir as verdades que lhe convier. É sabido que a homogeneidade ou uniformidade de pensamentos não contribui de forma satisfatória para o desenvolvimento interpessoal e muito menos para as relações interpessoais, ou seja, um sujeito somente se constitui plenamente a partir de experiências complexas e com seus diferentes. Esta multiplicidade de informações provoca o acréscimo de maturidade, sensibilidade e um aprimoramento da capacidade de adaptação as circunstâncias diversas. Existe um ditado popular que expressa “que uma ação vale mais que mil palavras”, mas seria inovador afirmar que a comunicação sábia em parceria com a ação apropriada gera resultados dobrados, afinal, o correto é comportar-se de acordo com o discurso proferido. Adotar uma postura autêntica, pautada por princípios éticos e respaldada por atitudes condizentes, transmite carisma e credibilidade. Cabe lembrar que é notório que as organizações estão buscando a excelência nas relações com seus clientes através da quebra de paradigmas, aproximação por intermédio de mídias sociais, aumento de interatividade e aprimoramento da comunicação (saber ouvir, e muito). Esta exigência mercadológica aplica-se de igual forma às relações interpessoais, pois se trata de uma questão de adaptação e sobrevivência diante de um mercado acirradamente competitiva. É uma busca frenética por respostas apropriadas para as questões apresentadas. Nunca haverá respostas ou caminhos mais acertados para as questões que insurgirem, mas seria sagaz ficar atento as respostas (feedback) provenientes das ações efetivadas. Por isso que o conhecimento adquirido, acumulado e transformado, se traduz num repertório de soluções possíveis, capaz de indicar e delinear caminhos alternativos. Como citado anteriormente, disposições complexas e incertas conduzem a novas fontes de idéias. Investir esforços contínuos no desenvolvimento pessoal, com vistas a excelência das relações, deve ser percebido como investimento instrutivo de resultados certos, mesmo que o retorno aconteça a médio ou longo prazo. A persistência, o menosprezo pelo desânimo e conformismo, são fatores que nunca podem ser desconsiderados porque é essencial a motivação. Carlos Drummond de Andrade[1], certa vez expressou: - A minha vontade é forte, mas a minha disposição de obedecer-lhe é fraca. Permanecer motivado é a única forma de seguir em frente no processo cognitivo voltado ao aprimoramento pessoal. Gracián (2001, p. 25) escreveu que “fazer um sábio no presente exige mais do que exigiu para fazer sete no passado. E atualmente é preciso mais habilidade para se lidar com um só homem do que antigamente com todo um povo”. Estas palavras denotam nitidamente o grau de complexidade existente nas relações interpessoais do mundo contemporâneo e um indivíduo será exatamente o reflexo daquilo que ele sabe. Ser sábio exige sapiência nas expressões e prudência nas ações, sem em momento algum sobrepujar outrem. Portanto, diante deste maremoto de novas contextualizações a respeito do desenvolvimento e relacionamento interpessoal, o importante é flexibilizar a mente, a fim de caminhar por terrenos fecundos que o conhecimento existente pode proporcionar.



[1] Carlos Drummond de Andrade, nascido em Itabira, em 31 de outubro de 1902, falecido no Rio de Janeiro, 17 de agosto de 1987, foi um poeta, contista e cronista brasileiro de expressão.

REFERÊNCIAS

ARMSTRONG, Michael. Como ser um gerente melhor: um guia completo de A-Z de técnicas comprovadas e conhecimentos essenciais. Tradução: Nivaldo Montingelli Jr. São Paulo: Clio, 2008.

CHIAVENATO, Idalberto. Gestão de pessoas: o novo papel dos recursos humanos nas organizações. Rio de Janeiro: Campus, 1999.

CSIKSZENTMIHALYI, Mihaly. A descoberta do fluxo: a psicologia do envolvimento com a vida cotidiana. Tradução: Pedro Ribeiro. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

DAVENPORT, T.; PRUSAK, L. Ecologia da informação: por que só a tecnologia não basta para o sucesso na era da informação. São Paulo: Futura, 1998.

Empregabilidade. Disponível em: < http: //pt.wikipedia.org/ wiki/ Empregabilidade >. Acesso em: 05 maio 2011.

EPSTEIN, Isaac. Teoria da informação. 2ª ed. São Paulo: Ática, 1988.

GIRARDI, L. J.; QUADROS, O. J. Filosofia: aprendendo a pensar. 17ª ed. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 2001.

GRACIÁN, Baltasar. A arte da prudência. São Paulo: Martin Claret, 2001.

HSM MANAGEMENT. Um legado de sete décadas. Número 54, volume 01, jan./fev. 2006, p. 24-28.

JO-ELLAN, D.; MAZZARELLA, M. Decifrar pessoas: como entender e prever o comportamento humano. Tradução: Sônia Augusto. São Paulo: Alegro, 2000.

LUCKESI, C. C., PASSOS, E. S. Introdução à filosofia: aprendendo a pensar. São Paulo: Cortez, 1996.

MAILHIOT, G. B. Dinâmica e gênese dos grupos. 3ª ed. São Paulo: Livraria Duas Cidades, 1976.

MIRANDA, R. C. da R. O uso da informação na formulação de ações estratégicas pelas empresas. Ciência da Informação. Brasília, v.28, n.03, p. 284-290, set./dez. 1999.

MOSCOVICI, Fela. Desenvolvimento interpessoal. 5ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1975.

MUSSAK, Eugenio. Metacompetência: uma nova visão do trabalho e da realização pessoal. São Paulo: Gente, 2003.

NEWSTROM, J. W. Psicologia organizacional: o comportamento humano no trabalho. Tradução: Ivan Pedro Ferreira Santos. 12ª ed. São Paulo: McGraw-Hill, 2008.

WEISINGER, Hendrie. Inteligência emocional no trabalho: como aplicar os conceitos revolucionários da I.E. nas relações profissionais, reduzindo o estresse, aumentando sua satisfação, eficiência e competitividade. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

INTELGÊNCIA EMOCIONAL

Por Heitor Jorge Lau
Relações Públicas, Pós-Graduado em Gestão de Pessoas e Mestrando em Educação
* Capítulo 3 apresentado em MBA de Gestão de Recursos Humanos

    O desenvolvimento e o relacionamento interpessoal são constituídos, paulatinamente, a partir do acúmulo de informações relacionadas ao ‘eu’ e dos outros, sobretudo, sob uma ótica criteriosa, voltada excepcionalmente aos indícios da importância e relevância delas. Com subsídios consistentes é possível moldar e assumir comportamentos adequados aos diversos contextos existentes, conduta denominada de inteligência emocional. A competência fundamental da inteligência emocional consiste em compreender a si próprio e às incontáveis situações interpessoais do cotidiano. Decifrar as várias facetas comportamentais qualifica a capacidade de organização de pensamentos, sentimentos e atitudes, tornando possível a articulação do comportamento diante das demandas mediatas e imediatas do ambiente organizacional. Coleman citado por Armstrong (2008, p. 94), define inteligência emocional como sendo “a capacidade para reconhecer nossos próprios sentimentos e os dos outros, para nos motivar, para administrar bem as emoções em nós mesmos e nos outros”. Parece que aqueles profissionais que obtiveram êxito no mercado de trabalho e de certa forma melhoraram a qualidade de vida, justamente são as que detêm habilidade de reconhecimento dos significados das emoções e suas conseqüentes interrelações. Ser dotado destas características possibilita uma performance mais perspicaz na gestão dos eventuais problemas ou situações oriundas das relações entre pessoas. Administrar interrelações não é o mesmo que ignorar ou sufocar ações e reações próprias e dos outros. Diante de uma condição de eminente desacordo a tendência do ser humano é reagir na defensiva, sendo em muitos casos utilizado uma comunicação mais impetuosa. Porém, ouvir, “sorver”, refletir e finalmente reagir de forma sensata e ponderada é o caminho do equilíbrio das relações interpessoais. Este controle das emoções exige autoconsciência porque somente assim é possível reagir de forma adequada defronte um processo de comunicação estressante. Ter conhecimento das peculiaridades dos pensamentos através de uma avaliação estritamente cognitiva, evita qualquer tipo de alteração fisiológica indesejável, anula praticamente as possibilidades ou tendências de ação destemperada. Dimitrius e Mazzarella (2000, p. 8), salientam que

as decisões não são melhores do que as informações sobre o qual elas se baseiam. Informações incorretas ou incompletas podem levar a uma conclusão incorreta [...]. Assim, antes de poder decodificar efetivamente as pessoas, é preciso reunir informações confiáveis sobre elas. [...].

            A decodificação não se processa somente através de palavras escritas ou ditas, ela acontece, também, pelo entendimento de um gesto, um fato, uma atitude e até mesmo pelo silêncio. Este diálogo coloca a linguagem verbal e não verbal de expressão humana sob tutela da compreensão. Girardi e Quadros (2001) definem a compreensão como sendo uma “abertura mental” traduzida pela aptidão de ouvir e condição de situar-se do ponto de vista de outrem. Desta feita, seria insensato esperar qualquer feedback positivo de alguém ou grupo de pessoas que não tenha recebido originalmente um tratamento condigno em determinado momento. Toda e qualquer observação, ação ou crítica precisa ser efetuada sob uma ótica construtiva de maneira que todos tirem proveito da situação. É perceptível, empiricamente, a dificuldade que o ser humano possui para manter sob controle as emoções relacionadas a raiva e ansiedade, ainda mais se elas forem associadas a inabilidade de comunicação. Aprimorar a inteligência emocional nada mais é do que potencializar o emprego das emoções na busca por resultados positivos nas relações interpessoais. Weisinger (2001, p. 15) cita os quatro componentes que dão origem a inteligência emocional:

* capacidade de perceber, avaliar e expressar corretamente uma emoção. * a capacidade de gerar ou ter acesso a sentimentos quando eles puderem facilitar sua compreensão de si mesmo ou de outrem. * a capacidade de compreender as emoções e o conhecimento derivado delas. * a capacidade de controlar as próprias emoções para promover o crescimento emocional e intelectual.

            O tempo que cada pessoa passa relacionando-se com outras no dia-a-dia já seria o suficiente para justificar o grau de importância dado ao desenvolvimento interpessoal e inteligência emocional. Forjar relações sólidas e sustentáveis exige destreza nas interrelações porque o cotidiano de um ambiente organizacional (ou social) é recheado de expressões de euforia e ódio, de desfechos de contentamento e insatisfações. O caminho deste construto pode até vestir uma roupagem complicada de difícil percurso, mas não se trata de propósito inatingível, pelo contrário, é completamente realizável a partir da busca da autoconsciência, e principalmente pelo fator motivação, que é incrementado pelo gradativo acréscimo de dominância sobre as emoções e reações. O segredo está em transformar os pensamentos e comportamentos em vantagem própria e evitar qualquer espécie de idéia pré-concebida a respeito de alguém. Weisinger (2001) expressa algumas dicas de como evitar distorções no raciocínio, como: jamais proferir comentários de proporções descabidas ou exageradas, porque transmitem a idéia de que qualquer evento que porventura venha a ocorrer, aplicar-se-á a todos os casos similares. Exemplo: “O pessoal daquele departamento é sempre estressado!”; Não rotular as pessoas a fim de evitar a pré-concepção de que a situação narrada é definitivamente insolúvel. Exemplo: “O Fulano é irredutível!”; Não conjeturar a partir de algum pensamento infundado, mesmo porque esta prática se parece muito com adivinhação, e pode provocar transtornos. Exemplo: “O Beltrano parece não ter interesse no assunto!”; Procurar não estabelecer regras de conduta pessoal no que diz respeito a como comportar-se diante de determinadas situações. Não é fácil uma vez que existe uma linha muito tênue entre o quê é de cunho pessoal e não interfere nos procedimentos organizacionais, e o quê é regra da empresa e deve ser inquestionavelmente assimilado. Exemplo: “O Supervisor deveria felicitar os aniversariantes do mês!”; E, procurar não multiplicar o grau de importância de um acontecimento. Exemplo está naquele individuo que declara não suportar mais trabalhar sob pressão, quando na verdade o mercado de trabalho vive sob intensa e constante pressão. A princípio todos os exemplos a serem evadidos da mente consciente, anteriormente citados, são provenientes da impulsividade natural do ser humano, incorporados através da repetição de atitudes frente a questões e problemas no decorrer da vida. Importante é primeiramente reconhecê-los e no segundo momento administrá-los. Weisinger (2001, p. 63) exemplifica dizendo que “a vida é uma série de situações que exigem algum tipo de reação, então nenhuma situação é inerentemente problemática; é a ineficácia da [...] reação que torna a situação problemática”. Um exemplo para corroborar com a citação pode ser percebido no indivíduo que não consegue embarcar num ônibus e lança a culpa no tráfego que estava muito congestionado. Ora, será que a culpa do acontecido não ancora justamente na ineficiência do cidadão em administrar o processo de chegar a tempo hábil, levando em consideração as variáveis pessoais e externas? Neste caso simulado ainda há uma alternativa, encontrar uma solução para o ocorrido, ao invés de “lamentar o leite derramado”. Neste momento entra em ação o potencial intrínseco na inteligência emocional. Ainda com relação ao exemplo anterior, será que o ajuste do despertador com duas horas ou mais de antecedência não teria evitado o problema? Também, o horário escolhido para o embarque não poderia ser o de menos movimento no trânsito? Tal exemplificação e questionamentos parecem ter discorrido da reflexão sobre inteligência emocional ou relações interpessoais, mas não, o ato de conhecer a si próprio e os outros, e os contextos externos é que formatam a habilidade plena de resolver problemas, sejam eles de ordem pessoal ou grupal. Sob um prisma mais condensado, relacionar-se nada mais é do que suprir qualquer necessidade mútua, sendo ela efêmera ou duradoura, salutar ou problemática; relacionar-se de forma absoluta é primar pela sustentabilidade da interação por intermédio do reconhecimento dos limites e expectativas almejadas. Portanto, as relações interpessoais são complexas por causa da multiplicidade de personalidades intelectuais e culturais existentes, e pelo visto não há como negar que o indivíduo somente será capaz de suportar aos contínuos estágios de desenvolvimento interpessoal, e conviver com os sabores e dissabores das suas relações interpessoais, através da sua conformação segundo os ditames da sociedade contemporânea.

Referências:


ARMSTRONG, Michael. Como ser um gerente melhor: um guia completo de A-Z de técnicas comprovadas e conhecimentos essenciais. Tradução: Nivaldo Montingelli Jr. São Paulo: Clio, 2008.
  
GIRARDI, L. J.; QUADROS, O. J. Filosofia: aprendendo a pensar. 17ª ed. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 2001.

JO-ELLAN, D.; MAZZARELLA, M. Decifrar pessoas: como entender e prever o comportamento humano. Tradução: Sônia Augusto. São Paulo: Alegro, 2000.

WEISINGER, Hendrie. Inteligência emocional no trabalho: como aplicar os conceitos revolucionários da I.E. nas relações profissionais, reduzindo o estresse, aumentando sua satisfação, eficiência e competitividade. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

DESENVOLVIMENTO INTERPESSOAL

Por Heitor Jorge Lau
Relações Públicas, Pós-Graduado em Gestão de Pessoas e Mestrando em Educação
* Capítulo 2 apresentado em MBA de Gestão de Recursos Humanos
 
          A produtividade de um indivíduo, grupo de trabalho ou de uma organização, depende de fatores que perpassam a competência profissional, sobretudo o grau de mutualidade de interesses e deveres existente nas relações interpessoais. Mailhiot (1976, p. 67), ao referenciar os estudos de Schutz[1], que originalmente tratam da teoria das necessidades interpessoais, afirma que todos os grupos de trabalho possuem “necessidades de inclusão, controle e afeição, respectivamente”. Portanto, ser aceito por membros de um grupo, ser responsável pela coexistência dele, e finalmente ser reconhecido e valorizado por todos, são fatores que contribuem diretamente para o efetivo bem estar entre pessoas que convivem no mesmo ambiente organizacional. Estes elementos tidos como essenciais para um excelente relacionamento interpessoal provocam comprometimento e envolvimento nas ações conjuntas, possibilitando assim, a experimentação uma vez que as verdadeiras habilidades comportamentais são desveladas. Mussak (2003, p. 29) declara que

engana-se quem diz que o homem é um animal que aprendeu a pensar. Na verdade, ele continua aprendendo a pensar. [...] Mas o ato de pensar não é uma dádiva apenas da biologia; depende também da vida social. [...] o que difere o homem dos animais é o pensamento, mas não se deve esquecer que o que difere os homens uns dos outros é a qualidade desse pensamento.
           
Desenvolver habilidades interpessoais requer convívio social, porém, pautada pela capacidade de percepção e respeito pelas diferenças, fruto da flexibilidade comportamental, e reflexa da inteligência emocional persistentemente desenvolvida. O desenvolvimento interpessoal ocorre justamente pelas diferenças de opiniões, atitudes e contextos. O pensador grego Heráclito[2] - mesmo que sua vivência tenha ocorrido na época em que a velocidade dos fatos era incalculavelmente lenta - vislumbrou a idéia da unidade dos opostos. Segundo este pensador, tudo que porventura possa vir a existir na vida, é rigorosamente composto por eventos singularmente opostos, todavia complementares. O significado deste pensamento é que naturalmente sempre existirão contradições ou divergências de opinião, concepções e percepções de vida em desacordo, mas que invariavelmente devem ser entendidas como naturais, e conseqüentemente aceitas. Qualquer tentativa de suprimir as contradições convergiria, segundo ele, na extinção da realidade porque ela é inconstante e detentora dos opostos. A partir desta afirmação é possível assumir que o desenvolvimento interpessoal tem sua gênese no exercício da percepção de si e do externo, na procura das informações e geração de novos conhecimentos, e particularmente na adaptação as novas realidades, muitas delas completamente avessas as próprias convicções. Aceitar a opinião contrária significa aprendizado a partir da tolerância. O grau de tolerância existente em cada indivíduo é oriundo dos paradigmas elaborados e praticados durante a vida pessoal e profissional por motivos síncronos: os psicológicos. Exemplo disto pode ser analisado nos reflexos que o grau de autoestima, a capacidade adaptativa, e a tolerância às mudanças desenvolvidas na vida pessoal, exercem sobre a vida profissional e vice-versa. O desenvolvimento interpessoal, necessariamente, acontece “de dentro para fora”, ou seja, inicia pela autoavaliação do estado intelectual e emocional atual. Mas, é interessante ressaltar que todas as formas de autoavaliação sempre são difíceis de executar pela complexidade presente na personalidade do ser humano, fundamentalmente no que diz respeito às relações com os outros indivíduos. Joseph Luft e Harry Ingham desenvolveram, na década de 60, uma modelo conceitual importantíssimo para auxiliar no processo de percepção de um indivíduo em relação a si próprio e aos outros, a Janela de Johari. O resultado obtido através desta ferramenta reflete a condição presente da comunicação interpessoal diante dos relacionamentos com os grupos de interesse, por intermédio da autopercepção e percepção dos outros. Ela serve especificamente para formatar uma representação mental dos comportamentos humanos, mas principalmente fornecer subsídios para uma reflexão diante das prováveis dificuldades ligada as relações interpessoais. Csikszentmihalyi (1999, p. 80), deixa nítida a relevância de um relacionamento interpessoal saudável quando afirma que

quando pensamos sobre os melhores e os piores estados emocionais da vida, provavelmente atribuímos sua causa a outras pessoas. [...] De todas as coisas que normalmente fazemos, a interação com os outros é a menos previsível. [...] Não há dúvida de que o bem-estar está profundamente ligado aos relacionamentos e que a consciência reverbera com o feedback que recebemos de outras pessoas.

            O desenho da Janela de Johari é formado por um quadrado dividido em quatro áreas iguais, sendo que: a parte localizada no canto superior esquerdo, área I, possui o termo ‘eu aberto’; canto superior direito, área II, ‘eu cego’; canto inferior esquerdo, área III, ‘eu secreto’; e, canto inferior direito, área IV, ‘eu desconhecido’. A coluna da esquerda, formada pelas áreas I e III, é representada pelo termo ‘conhecido pelo eu’. A coluna da direita, formada pelas áreas II e IV é representada pelo termo ‘não conhecido pelo eu’. A linha superior, formada pelas áreas I e II é representada pelo termo ‘conhecido pelos outros’. A linha inferior, formada pelas áreas III e IV é representada pelo termo ‘não conhecido pelos outros’. A exatidão das informações que indicarão cada uma das áreas citadas é resultado de uma análise consciente e fidedigna dos motivos que levaram a tal conclusão. Por exemplo, quando um indivíduo conhece a si próprio, e os outros também, a área I, ‘eu aberto, surge na Janela de Johari. Neste caso, pressupõe-se que a eficácia interpessoal no que concerne a troca de informações está fluindo com naturalidade e eficácia, e a visibilidade parece ser efetiva. Porém, se o indivíduo não conhece a si próprio, mas os outros o conhecem, a área II, ‘eu cego, aparece na Janela. Esta situação demonstra que o indivíduo faz criticas ao modo como os outros se comportam sem, no entanto, perceber o seu próprio. Tal vicissitude torna a eficácia interpessoal inadequada e inibida. A área III, ‘eu secreto’, indica que o individuo conhece a si, mas os outros não. A princípio esta posição denota uma pessoa autoritária e com sua eficiência interpessoal lesada. O ‘eu desconhecido’, pertencente à área IV, demonstra um indivíduo desconhecido por si e pelos outros, com suas competências e atributos ocultos. Exercitar o processo da Janela de Johari conduz a possibilidade de transformação de alguma área do relacionamento interpessoal, ora prejudicado, para uma condição próxima do ideal. Mussak (2003, p. 50), salienta que “saber conviver com idiossincrasias pode ser a diferença entre o sucesso e o fracasso de uma empreitada da qual participam várias pessoas [...]”. Para alcançar o pleno sucesso nas relações interpessoais também é obrigatório deter a propriedade sobre o processo de comunicação verbal e não verbal. Apropriar-se destas habilidades é imprescindível para quem ambiciona entender e ser fazer entender, e assim, aprimorar as relações entre pessoas e grupos sociais. A comunicação efetiva acontece na medida em que informações são transmitidas a outrem de forma clara, objetiva e compreensível. O processo de comunicação exige: mensagem, emissor, meio, código e receptor. A mensagem é o conteúdo a ser enviado com o intuito de chamar a atenção através da transmissão de “idéias, fatos, pensamentos e valores. Sua meta é fazer que o receptor compreenda a mensagem do modo como ela foi concebida”. (Newstrom, 2008, p.45). A comunicação eficiente constrói links de entendimento entre todas as partes envolvidas, possibilitando o compartilhamento de sentimentos e saberes, eliminando possíveis ruídos e conseqüentes incompreensões. O ciclo de comunicação inicia no emissor e encerra no receptor, mesmo que este venha, porventura, dar um feedback. O feedback é a resposta que o receptor da mensagem envia ao emissor após reconhecê-la, interpretá-la e utilizá-la. Nem sempre esta etapa é executada pelo receptor por motivos mais variados. Portanto, é interessante considerar a recepção da mensagem como etapa final do processo de comunicação, mesmo porque, a partir do feedback, iniciará um novo fluxo com novas informações. O motivo principal desta concisa explanação sobre a importância da comunicação, apesar de ser parte integrante do relacionamento interpessoal eficiente, é chegar ao termo feedback e remetê-lo ao processo da Janela de Johari. Favorecer o feedback transforma a comunicação em processo de duas vias, gera reciprocidade, incentiva a interatividade. Assim, essencialmente a comunicação, particularmente o solicitar e oferecer feedback, afeta a forma da Janela de Johari. Esta é uma maneira atrativa e prudente de perceber e enquadrar o grau de eficiência do relacionamento interpessoal quando avaliada através do modelo proposto por Luft e Ingham. Segundo Moscovici (1975, p. 63), toda conscientização

traz em si as possibilidades de mudança, através da nova percepção da realidade externa ou interna. Se a percepção se modifica, vários outros planos do processo psicológico também se modificam levando o indivíduo não apenas a ver diferente, mas a sentir e pensar de forma diferente e, conseqüentemente, a agir de outra maneira.

            O termo feedback, tão utilizado e incorporado ao nosso cotidiano vocabular detém importância máxima nas relações interpessoais. O exercício de postar-se disponível para dar e receber informação, sem dúvida, é complexo porque na medida em que o ser humano toma consciência de si, diante de outro, também reconhece suas limitações. É um encontro singular por ser revelador, e assustador por existir um reconhecimento do limiar e limite da liberdade de expressão verbal e não-verbal. A descoberta do verdadeiro ‘eu’ revela a complexidade existente nas relações justamente porque elas não são isentas de questões problemáticas, muitas das quais não são extintas pelo simples fato de serem defrontadas de maneira belicosa. Na busca pelo relacionamento interpessoal excelente, é necessário reconhecer que “sendo o homem um ser essencialmente social, suas ações terão sempre reflexos, influências, irradiações sobre o meio social, além da repercussão sobre o agente”. (Girardi e Quadros, 2001, p. 54). Assim, é sensato perceber a inexistência de uma ação que não perpasse os limites do individualismo. Portanto, o domínio e habilidade de construir relacionamentos interpessoais excelentes reside na arte de perceber, transformar, adaptar e administrar elementos comportamentais pessoais, e tolerar as características alheias. Os estímulos e reações do ser humano, suas particularidades e seus vieses, poderiam ser resumidos por uma declaração de Winston Churchill[3], em 1939, no início da segunda grande guerra: - a Rússia é uma charada embrulhada num mistério dentro de um enigma. A Rússia, neste caso, seria o homem e seus pensamentos, valores e comportamentos, muitos dos quais em conflito. O desafio encontra-se em identificar padrões, conseguir compreende-los e adaptá-los.


[1] Will, Schutz. Psicólogo e Consultor americano, autor da teoria “The Human Element“.
[2] Heráclito de Éfeso. Filófoso grego pré-socrático considerado por muitos estudiosos o pensador pré-socrático mais importante, por formular com veemência o problema da unidade permanente do ser diante da pluralidade e mutabilidade das coisas transitórias. Acesso em 17/05/11: http://educacao.uol.com.br/biografias/heraclito-de-efeso.jhtm.
[3] Sir Winston Leonard Spencer-Churchill (1874-1965) foi um político, estadista, escritor, jornalista, orador e historiador britânico, famoso principalmente por sua atuação como primeiro-ministro do Reino Unido durante a Segunda Guerra Mundial. Acesso: http://pt.wikipedia.org/wiki/Winston_Churchill, em 19/05/2011.

Referências:
ARMSTRONG, Michael. Como ser um gerente melhor: um guia completo de A-Z de técnicas comprovadas e conhecimentos essenciais. Tradução: Nivaldo Montingelli Jr. São Paulo: Clio, 2008.

CSIKSZENTMIHALYI, Mihaly. A descoberta do fluxo: a psicologia do envolvimento com a vida cotidiana. Tradução: Pedro Ribeiro. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

GIRARDI, L. J.; QUADROS, O. J. Filosofia: aprendendo a pensar. 17ª ed. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 2001.

JO-ELLAN, D.; MAZZARELLA, M. Decifrar pessoas: como entender e prever o comportamento humano. Tradução: Sônia Augusto. São Paulo: Alegro, 2000.


MAILHIOT, G. B. Dinâmica e gênese dos grupos. 3ª ed. São Paulo: Livraria Duas Cidades, 1976.

MOSCOVICI, Fela. Desenvolvimento interpessoal. 5ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1975.

WEISINGER, Hendrie. Inteligência emocional no trabalho: como aplicar os conceitos revolucionários da I.E. nas relações profissionais, reduzindo o estresse, aumentando sua satisfação, eficiência e competitividade. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.