terça-feira, 16 de agosto de 2011

RELAÇÕES HUMANAS

Por Heitor Jorge Lau
Relações Públicas, Pós-Graduado em Gestão de Pessoas
Mestrando em Educação 
 
    A busca incessante por conhecimento, a motivação impulsionadora do desenvolvimento interpessoal, e a conseqüente plenitude das relações interpessoais colocam o homem, obrigatoriamente, na categoria de ser social. Desta forma, ele encontra-se infinitamente distante da condição de homo clausus (homem fechado em si mesmo) porque simultaneamente influencia e é influenciado pelo mundo que o cerca. É possível compreender esta observação bilateral na medida em que se reflita sobre o ciclo inicial de vida de todo indivíduo. O homem ao nascer é recebido e cuidado por várias pessoas, que provavelmente jamais verá novamente. Posteriormente, outras, muitas delas residentes fora do seu círculo de familiares e amigos, também nortearão caminhos a percorrer durante grande parte da sua vida, o quê, aliás, é condição básica para a sua sobrevivência nas jornadas pessoal e profissional. Qual o significado disto? Esta ordem natural dos fatos evita que o homem torne-se um eremita por natureza, e propicia relações, até certo ponto, estáveis com o mundo. Assim, a biografia de cada um é configurada, desde o nascimento, por intermédio das relações com os outros, sendo que por uma ótica sociológica, ninguém teria condições de desenvolver-se completamente sem passar pela experimentação social. São as experiências com os outros que irão, indubitavelmente, determinar aptidões, tendências, atitudes, virtudes e imperfeições comportamentais, suficientes e capazes de conectar ou distanciar uma pessoa das outras e vice-versa. É possível afirmar que este processo de aprendizado induzido, que possui sua gênese no momento do nascimento, é vitalício e não há forma de provocar sua interrupção. Contudo, as pessoas chegam à fase adulta “recheadas” de padrões e regras sociais, muitas delas sequer questionadas até então, tornando-as até certo ponto um tanto bitoladas. Mas é importante salientar que apesar de todas as forças modeladoras que acompanham cada individuo desde a infância, os parâmetros instituídos podem ser modificados e revestidos com outra roupagem, mesmo porque são todos resultantes de apropriações e criações de novos modelos ou possibilidades de viver em grupo. A evolução humana atinge o ápice da contrariedade no momento em que tudo aquilo que lhe foi dito e ensinado depara-se com controvérsias ou vieses que vão de encontro às convicções assumidas. Apesar deste confronto inevitável, os interesses individuais e grupais que mais cedo ou mais tarde acabam por se entrecruzar, são responsáveis pelas relações interpessoais, e cada indivíduo tem a incumbência de procurar novos horizontes e descobrir as verdades que lhe convier. É sabido que a homogeneidade ou uniformidade de pensamentos não contribui de forma satisfatória para o desenvolvimento interpessoal e muito menos para as relações interpessoais, ou seja, um sujeito somente se constitui plenamente a partir de experiências complexas e com seus diferentes. Esta multiplicidade de informações provoca o acréscimo de maturidade, sensibilidade e um aprimoramento da capacidade de adaptação as circunstâncias diversas. Existe um ditado popular que expressa “que uma ação vale mais que mil palavras”, mas seria inovador afirmar que a comunicação sábia em parceria com a ação apropriada gera resultados dobrados, afinal, o correto é comportar-se de acordo com o discurso proferido. Adotar uma postura autêntica, pautada por princípios éticos e respaldada por atitudes condizentes, transmite carisma e credibilidade. Cabe lembrar que é notório que as organizações estão buscando a excelência nas relações com seus clientes através da quebra de paradigmas, aproximação por intermédio de mídias sociais, aumento de interatividade e aprimoramento da comunicação (saber ouvir, e muito). Esta exigência mercadológica aplica-se de igual forma às relações interpessoais, pois se trata de uma questão de adaptação e sobrevivência diante de um mercado acirradamente competitiva. É uma busca frenética por respostas apropriadas para as questões apresentadas. Nunca haverá respostas ou caminhos mais acertados para as questões que insurgirem, mas seria sagaz ficar atento as respostas (feedback) provenientes das ações efetivadas. Por isso que o conhecimento adquirido, acumulado e transformado, se traduz num repertório de soluções possíveis, capaz de indicar e delinear caminhos alternativos. Como citado anteriormente, disposições complexas e incertas conduzem a novas fontes de idéias. Investir esforços contínuos no desenvolvimento pessoal, com vistas a excelência das relações, deve ser percebido como investimento instrutivo de resultados certos, mesmo que o retorno aconteça a médio ou longo prazo. A persistência, o menosprezo pelo desânimo e conformismo, são fatores que nunca podem ser desconsiderados porque é essencial a motivação. Carlos Drummond de Andrade[1], certa vez expressou: - A minha vontade é forte, mas a minha disposição de obedecer-lhe é fraca. Permanecer motivado é a única forma de seguir em frente no processo cognitivo voltado ao aprimoramento pessoal. Gracián (2001, p. 25) escreveu que “fazer um sábio no presente exige mais do que exigiu para fazer sete no passado. E atualmente é preciso mais habilidade para se lidar com um só homem do que antigamente com todo um povo”. Estas palavras denotam nitidamente o grau de complexidade existente nas relações interpessoais do mundo contemporâneo e um indivíduo será exatamente o reflexo daquilo que ele sabe. Ser sábio exige sapiência nas expressões e prudência nas ações, sem em momento algum sobrepujar outrem. Portanto, diante deste maremoto de novas contextualizações a respeito do desenvolvimento e relacionamento interpessoal, o importante é flexibilizar a mente, a fim de caminhar por terrenos fecundos que o conhecimento existente pode proporcionar.



[1] Carlos Drummond de Andrade, nascido em Itabira, em 31 de outubro de 1902, falecido no Rio de Janeiro, 17 de agosto de 1987, foi um poeta, contista e cronista brasileiro de expressão.

REFERÊNCIAS

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