sábado, 9 de setembro de 2023

REDES SOCIAIS - A RECEITA PARA ALIENAR CÉREBROS DESATENTOS

 

 

Um estudo realizado há mais de uma década por uma renomada instituição norte-americana alertara na época que o Facebook e Twitter (principalmente) teriam a potencialidade de viciar o internauta, muito maior do que o tabaco e bebida alcoólica. É importante ressaltar que até mesmo o próprio Steve Jobs, “pai” da Apple, nunca permitiu que os seus filhos tivessem contato demasiado com tais tecnologias (e outras) porque afirmara que as redes sociais poderiam afetar os mais jovens com maior intensidade e facilidade (no entanto, parece que este detalhe se estendeu a todas as faixas etárias). Entre as causas mais contundentes da dependência das redes sociais estão: a baixíssima autoestima, a insatisfação pessoal, a depressão e, inclusive, a falta de afeto, carência que muitas vezes os internautas procuram preencher com os “famosos” likes. O fato é que as pessoas buscam compulsivamente nas redes sociais um experimentar intenso e uma sensação de satisfação que, no entanto, pode ser contraproducente uma vez que geram, ao longo do tempo, a dependência emocional da opinião dos outros. A verdade é que - diante do parecer técnico de muitos especialistas - o uso das redes sociais pode acarretar em dependências acompanhadas de suas preocupantes consequências: distanciamento da vida real, distanciamento das relações familiares, depressão, ansiedade, isolamento, irritabilidade, perda de controle sobre a própria existência … Quanto menor a faixa etária do internauta maior o risco de “cair” na dependência. Os motivos determinantes são: tendência para a impulsividade, necessidade de ter influência social ampla e expansiva e, finalmente, a necessidade de reafirmar a identidade de grupo. A permanência excessiva nas redes sociais debilita, indiscutivelmente, os laços que unem os seres humanos.

quem categorize como sinais mais comuns do dependente das redes: estresse diante da ausência de acesso à internet; nervosismo quando o sinal de acesso à internet não funciona ou encontra-se mais lento do que o normal; ímpeto incontrolável de dar aquela olhadinha nas redes sociais logo ao acordar pela manhã e antes de deitar à noite; inquietude caso o celular não estiver ao alcance da mão; ansiedade ao ouvir o “plim” no celular; caminhar utilizando as redes sociais (já presenciei gente tropeçando e caindo na calçada); mal-estar e desespero se não receber likes, retweets ou visualizações; uso das redes sociais ao dirigir (prática comum); necessidade irresistível de publicar qualquer coisa da vida diária (vou ao banho, tomando café, dor de cabeça, fazendo xixi... tá loko!); perceber a vida dos outros como melhor do que a própria; ir na academia e não largar – NÃO LARGAR – o celular durante os exercícios (eis algo irritante porque a pessoa passa mais tempo no telefone do que se exercitando – e “monopolizando o aparelho). Enfim, a lista vai longe...e ter paciência deixou de ser uma virtude. Passou a ser uma necessidade.

Perder a noção do tempo e deixar tarefas de lado é algo comum quando se está imerso no mundo digital e incontáveis vezes as pessoas acabam passando mais tempo em seus refúgios virtuais que na vida real. As redes sociais dominaram a mente de boa parte dos internautas provocando mudanças de hábitos que interferem diretamente no raciocínio, como por exemplo:

Estimular a compra compulsiva: as redes sociais são um prato cheio para captar consumidores dada a quantidade de tempo que os internautas permanecem conectadas, aumentando consideravelmente a possibilidade de caírem na compra compulsiva. As facilidades dos marketplaces e os anúncios repetitivos das mídias sociais oferecem agilidade na compra, alimentando hábitos de consumo desenfreado (e muitas vezes desnecessários). Afinal, ao contrário do que ocorre nas lojas físicas, tudo está ali, apelativo e saltitante, ao alcance de dois cliques e um número de cartão. E, segundo consta, há ainda a possibilidade de devolução posterior do produto ou valor da compra, caso sobrevenha uma onda de arrependimento (que se revela ilusória, pois quase nunca se concretiza). É como ir faminto ao supermercado: se compra tudo o que vê pela frente, e como a fome não passa, se compra mais e mais e mais...

Ampliação da necessidade da aprovação alheia: um número considerável de internautas utiliza as redes sociais na ânsia de encontrar algum tipo de validação social, ou seja, permanecem muito tempo conectados por sentirem a necessidade constante de aprovação alheia. Como nesses ambientes virtuais existe uma enorme quantidade de pessoas dispostas a opinar (até mesmo sem que isso lhes seja solicitado), as redes sociais acabam produzindo, de uma maneira ou de outra, algum nível de descontrole, que pode se refletir em outras áreas da vida, especialmente a emocional, causando danos muitas vezes difíceis de reverter.

Insatisfação com a própria vida: ninguém publica momentos ruins da própria vida para o mundo ver. Logo, permanecer tempo demais logado nas redes sociais pode gerar a sensação de que todos estão vivendo muito bem, aproveitando a vida (“menos eu”). Estudos recentes relacionados aos danos causados pelas redes sociais demonstraram que um em cada três internautas se sentia pior quando visualizava as redes sociais – em especial quando visualizavam fotos de pessoas em férias.

Queda do nível de atenção mental: não é segredo para ninguém que qualquer notificação mínima de celular chama a atenção instantaneamente. Acostumados à presença e à comodidade dos aparelhos eletrônicos, a atenção se volta para eles tão logo emitam a menor vibração. Desta forma, o cérebro se programa para atender ao estímulo produzido pelo celular, e retira o foco de atenção de quaisquer outras atividades que se esteja desempenhando. Por exemplo: quantos acidentes de trânsito ocorrem com a utilização do celular no volante? E não adianta deixar o celular de lado ou com a tela virada para baixo, pois o cérebro processará a informação de que o aparelho continua ali e pode tocar a qualquer momento.

Perda da independência do pensamento: dentre os danos causados pelas redes sociais, um bastante comum causado pelos excessos da navegação nas redes sociais é o “efeito manada”. O instinto humano de ser aceito é algo inconsciente e, portanto, praticamente inevitável. E se na vida social muitos são levados a se comportar como os demais – seja para se sentir aceito e acolhido, ou para não “destoar” ou parecer estranho perante os outros – imagine essa mesma pressão no mundo virtual, onde a “manada” é exponencialmente maior e a competição por atenção chega a ser cruel. O resultado é a perda gradual da independência do pensamento, pois instintivamente é preciso pertencer ao grupo no qual “se está” inserido.

Diversidade de interpretações: este efeito pode ser percebido na redução da capacidade de pensar por si próprio. Basta notar a quantidade de haters dissimulando ódio gratuitamente. E pior: o tamanho da influência que essas pessoas exercem no meio virtual. Haters é uma palavra de origem inglesa e que significa "os que odeiam" ou "odiadores" na tradução literal para a língua portuguesa. O termo hater é bastante utilizado na internet para classificar algumas pessoas que praticam "bullying virtual" ou "cyber bullying". Pessoalmente, a comunicação verbal vem acompanhada de trejeitos, gestos, entonações e intencionalidades diferentes, que favorecem o entendimento correto de uma mensagem. Já no meio virtual, todo o entendimento se restringe ao que se lê, pura e exclusivamente reproduzido pela linguagem verbal-escrita. Uma vez privados das certezas do que o outro quer dizer, a tendência será a de usar a imaginação, na tentativa de compreender a comunicação que se deseja estabelecer. E é exatamente nessa multiplicidade de interpretações que mora o risco, sendo essa a provável origem da maioria das discussões intermináveis (e estúpidas) via internet. A comunicação restrita tende a ser mal interpretada e a violência virtual pode ter sérias consequências no mundo real.

Zygmunt Bauman, lembram? O sociólogo antecipou a crise das relações no seu famoso livro “Amor Líquido”, muito antes do uso insano e desenfreado das redes. O conteúdo representa o quanto as relações e os vínculos afetivos tornam-se descartáveis, facilmente substituíveis e dispersas. A impressão é que tudo acaba em curtir, compartilhar, seguir de volta, acumular, bloquear e silenciar seguidores. Interessante perceber que os usuários possuem muitos, muitos amigos, centenas, milhares de amigos nas redes. Aham! Sim! Claro! Viver on-line é “maravilhoso” pelas possibilidades sem fronteira. Entretanto, na vida real, o cenário e os “atores” são outros. A dinâmica das redes sociais segue uma regra previsível: nem sempre o que está sendo publicado condiz com a realidade. Essa fragilidade é posta, sobretudo, no que diz respeito às relações interpessoais. Enfim, quem dera o cérebro pensasse mais do que os dedos e respondesse as seguintes questões: Afinal, as redes sociais aproximam ou afastam das “trocas reais”? Como essa superficialidade compromete a saúde psicológica?