quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

SUICÍDIO

 

        Hoje o dia nasceu triste! Dia novo, notícia nova! O novo dia não é novidade apesar de ser mais um milagre ainda estarmos vivos e sentados em cima de uma casca de ovo, como dissera Stephen Hawking. A novidade está no suicídio de um conhecido, distante, mas conhecido. A primeira reação: meu deus! A segunda reação, uma pergunta: por que? Como a resposta morreu junto, não há resposta, pelo menos a livre de especulação e adivinhação. É possível apenas falar sobre a questão do suicídio, nada mais.

        Um dos maiores estudiosos sobre suicídio, Durkheim, afirmara que o suicídio é um ato final de desespero do indivíduo. Logo, não quer mais viver. Muito se ouve “daqueles que ficam” (por exemplo): que covarde; não parecia alguém com problemas; parecia um ser humano tão tranquilo; que pessoa louca; não tinha motivos; já apresentava sinais ...e por aí vai! Analisar este ato não é apenas analisar o indivíduo, mas também os contextos nos quais o suicida vivia, eventos que anteciparam o fato em si, o acumulo de conjunturas anteriores. Todavia, mesmo diante de evidencias claras ou obscuras, ainda assim, de concreto só existe uma certeza: ninguém, absolutamente ninguém, sabe o que se passa na mente das pessoas. Podem ser ansiedades cumulativas e intensas, depressões constantes e repetitivas, tristezas crescentes e infindáveis. Muitos conseguem “levar”, outros nem tanto.

A princípio, o suicídio é um fenômeno multifatorial e multi-determinado, ou seja, as causas são diversas, podendo envolver fatores genéticos, biológicos, psicológicos, sociais ou culturais. E engana-se aquele que pensa que mais de um fenômeno não acontece simultaneamente, por outro lado, geralmente ocorrem parceirados. No entanto, antes que o indivíduo venha a cometer o suicídio, há uma série de pensamentos que ele experimenta. Portanto, esses pensamentos envolvem os desejos de morte e ideias de como é possível dar fim a própria vida. Em outras palavras, esses pensamentos são chamados de ideação suicida.

Os números de suicídio podem ser maiores, isto porque os casos de suicídio podem não estar claros. Dessa forma, podem ser registrados com outra causa de morte, afetando sensivelmente as estatísticas. O grupo de risco mais acentuado diz respeito ao gênero masculino. Os principais fatores motivadores são alcoolismo, drogadição, abuso físico ou sexual, perda ou separação de pais na infância, instabilidade familiar, ausência de apoio social, isolamento social, perda afetiva recente ou outro acontecimento muito estressante, desemprego, aposentadoria, desesperança, ansiedade intensa, vergonha, baixa estima, inflexibilidade diante de adversidades, rigidez cognitiva, labilidade do humor ou perfeccionismo exacerbado.

Pode parecer exagero ou bobagem, mas pensar em suicídio é uma coisa que faz parte da natureza humana, e é estimulada pela possibilidade de escolha. O impulso também é uma reação natural, porém é mais comum nas pessoas que estão exaustas por dentro e emocionalmente fragilizadas diante de situações que despertam a possibilidade de cometer o suicídio. O suicídio resulta de uma crise de duração maior ou menor, que varia de pessoa para pessoa. Não está necessariamente ligado a uma doença mental, mas sim a um momento crítico que poderia ser superado, mas que para o suicida a solução está fora de alcance.

Diante de uma visão simplista sempre surgem duas interrogações: Por que não procurou ajuda? Por que não conversou com alguém? As respostas, pelo menos as leigas, também são simplistas: Isto vai passar! Isto não é nada! Tem que ter força de vontade! Eu também já fui assim! Este tipo de “ajuda” menospreza não somente o problema em questão, mas a pessoa também. Afinal, dizer que o problema vai passar ou que é uma questão de força de vontade somente reduz o suicida e o suicídio a importância de ambos ao mínimo ou nada. O suicídio foi e continua sendo um tabu entre a maioria das pessoas. É um assunto proibido e que agride várias crenças. O tabu também se sustenta porque muitos veem o suicida como um fracassado, seja lá qual for o fracasso – como pai; filho; profissional; cônjuge; social... Por outro lado, o ser humano, por natureza, não se sente confortável para falar da morte porque expõe os limites e fraquezas pessoais. Esse tabu apenas piora a situação. Enfim, o suicídio jamais deve ser encarado como um ato isolado e sem motivo algum. Um copo de água para quem tem sede é a salvação e para quem tem diante de si um oceano a disposição é apenas um recipiente com algo dentro, sem emoção. Até porque as grandezas não são mensuráveis pela forma, quantidade e importância, mas por questões estritamente subjetivas, individuais e pessoais. Tudo e nada possuem a mesma importância e peso na vida. É uma questão de ponto de vista!