quarta-feira, 10 de agosto de 2011

INTELGÊNCIA EMOCIONAL

Por Heitor Jorge Lau
Relações Públicas, Pós-Graduado em Gestão de Pessoas e Mestrando em Educação
* Capítulo 3 apresentado em MBA de Gestão de Recursos Humanos

    O desenvolvimento e o relacionamento interpessoal são constituídos, paulatinamente, a partir do acúmulo de informações relacionadas ao ‘eu’ e dos outros, sobretudo, sob uma ótica criteriosa, voltada excepcionalmente aos indícios da importância e relevância delas. Com subsídios consistentes é possível moldar e assumir comportamentos adequados aos diversos contextos existentes, conduta denominada de inteligência emocional. A competência fundamental da inteligência emocional consiste em compreender a si próprio e às incontáveis situações interpessoais do cotidiano. Decifrar as várias facetas comportamentais qualifica a capacidade de organização de pensamentos, sentimentos e atitudes, tornando possível a articulação do comportamento diante das demandas mediatas e imediatas do ambiente organizacional. Coleman citado por Armstrong (2008, p. 94), define inteligência emocional como sendo “a capacidade para reconhecer nossos próprios sentimentos e os dos outros, para nos motivar, para administrar bem as emoções em nós mesmos e nos outros”. Parece que aqueles profissionais que obtiveram êxito no mercado de trabalho e de certa forma melhoraram a qualidade de vida, justamente são as que detêm habilidade de reconhecimento dos significados das emoções e suas conseqüentes interrelações. Ser dotado destas características possibilita uma performance mais perspicaz na gestão dos eventuais problemas ou situações oriundas das relações entre pessoas. Administrar interrelações não é o mesmo que ignorar ou sufocar ações e reações próprias e dos outros. Diante de uma condição de eminente desacordo a tendência do ser humano é reagir na defensiva, sendo em muitos casos utilizado uma comunicação mais impetuosa. Porém, ouvir, “sorver”, refletir e finalmente reagir de forma sensata e ponderada é o caminho do equilíbrio das relações interpessoais. Este controle das emoções exige autoconsciência porque somente assim é possível reagir de forma adequada defronte um processo de comunicação estressante. Ter conhecimento das peculiaridades dos pensamentos através de uma avaliação estritamente cognitiva, evita qualquer tipo de alteração fisiológica indesejável, anula praticamente as possibilidades ou tendências de ação destemperada. Dimitrius e Mazzarella (2000, p. 8), salientam que

as decisões não são melhores do que as informações sobre o qual elas se baseiam. Informações incorretas ou incompletas podem levar a uma conclusão incorreta [...]. Assim, antes de poder decodificar efetivamente as pessoas, é preciso reunir informações confiáveis sobre elas. [...].

            A decodificação não se processa somente através de palavras escritas ou ditas, ela acontece, também, pelo entendimento de um gesto, um fato, uma atitude e até mesmo pelo silêncio. Este diálogo coloca a linguagem verbal e não verbal de expressão humana sob tutela da compreensão. Girardi e Quadros (2001) definem a compreensão como sendo uma “abertura mental” traduzida pela aptidão de ouvir e condição de situar-se do ponto de vista de outrem. Desta feita, seria insensato esperar qualquer feedback positivo de alguém ou grupo de pessoas que não tenha recebido originalmente um tratamento condigno em determinado momento. Toda e qualquer observação, ação ou crítica precisa ser efetuada sob uma ótica construtiva de maneira que todos tirem proveito da situação. É perceptível, empiricamente, a dificuldade que o ser humano possui para manter sob controle as emoções relacionadas a raiva e ansiedade, ainda mais se elas forem associadas a inabilidade de comunicação. Aprimorar a inteligência emocional nada mais é do que potencializar o emprego das emoções na busca por resultados positivos nas relações interpessoais. Weisinger (2001, p. 15) cita os quatro componentes que dão origem a inteligência emocional:

* capacidade de perceber, avaliar e expressar corretamente uma emoção. * a capacidade de gerar ou ter acesso a sentimentos quando eles puderem facilitar sua compreensão de si mesmo ou de outrem. * a capacidade de compreender as emoções e o conhecimento derivado delas. * a capacidade de controlar as próprias emoções para promover o crescimento emocional e intelectual.

            O tempo que cada pessoa passa relacionando-se com outras no dia-a-dia já seria o suficiente para justificar o grau de importância dado ao desenvolvimento interpessoal e inteligência emocional. Forjar relações sólidas e sustentáveis exige destreza nas interrelações porque o cotidiano de um ambiente organizacional (ou social) é recheado de expressões de euforia e ódio, de desfechos de contentamento e insatisfações. O caminho deste construto pode até vestir uma roupagem complicada de difícil percurso, mas não se trata de propósito inatingível, pelo contrário, é completamente realizável a partir da busca da autoconsciência, e principalmente pelo fator motivação, que é incrementado pelo gradativo acréscimo de dominância sobre as emoções e reações. O segredo está em transformar os pensamentos e comportamentos em vantagem própria e evitar qualquer espécie de idéia pré-concebida a respeito de alguém. Weisinger (2001) expressa algumas dicas de como evitar distorções no raciocínio, como: jamais proferir comentários de proporções descabidas ou exageradas, porque transmitem a idéia de que qualquer evento que porventura venha a ocorrer, aplicar-se-á a todos os casos similares. Exemplo: “O pessoal daquele departamento é sempre estressado!”; Não rotular as pessoas a fim de evitar a pré-concepção de que a situação narrada é definitivamente insolúvel. Exemplo: “O Fulano é irredutível!”; Não conjeturar a partir de algum pensamento infundado, mesmo porque esta prática se parece muito com adivinhação, e pode provocar transtornos. Exemplo: “O Beltrano parece não ter interesse no assunto!”; Procurar não estabelecer regras de conduta pessoal no que diz respeito a como comportar-se diante de determinadas situações. Não é fácil uma vez que existe uma linha muito tênue entre o quê é de cunho pessoal e não interfere nos procedimentos organizacionais, e o quê é regra da empresa e deve ser inquestionavelmente assimilado. Exemplo: “O Supervisor deveria felicitar os aniversariantes do mês!”; E, procurar não multiplicar o grau de importância de um acontecimento. Exemplo está naquele individuo que declara não suportar mais trabalhar sob pressão, quando na verdade o mercado de trabalho vive sob intensa e constante pressão. A princípio todos os exemplos a serem evadidos da mente consciente, anteriormente citados, são provenientes da impulsividade natural do ser humano, incorporados através da repetição de atitudes frente a questões e problemas no decorrer da vida. Importante é primeiramente reconhecê-los e no segundo momento administrá-los. Weisinger (2001, p. 63) exemplifica dizendo que “a vida é uma série de situações que exigem algum tipo de reação, então nenhuma situação é inerentemente problemática; é a ineficácia da [...] reação que torna a situação problemática”. Um exemplo para corroborar com a citação pode ser percebido no indivíduo que não consegue embarcar num ônibus e lança a culpa no tráfego que estava muito congestionado. Ora, será que a culpa do acontecido não ancora justamente na ineficiência do cidadão em administrar o processo de chegar a tempo hábil, levando em consideração as variáveis pessoais e externas? Neste caso simulado ainda há uma alternativa, encontrar uma solução para o ocorrido, ao invés de “lamentar o leite derramado”. Neste momento entra em ação o potencial intrínseco na inteligência emocional. Ainda com relação ao exemplo anterior, será que o ajuste do despertador com duas horas ou mais de antecedência não teria evitado o problema? Também, o horário escolhido para o embarque não poderia ser o de menos movimento no trânsito? Tal exemplificação e questionamentos parecem ter discorrido da reflexão sobre inteligência emocional ou relações interpessoais, mas não, o ato de conhecer a si próprio e os outros, e os contextos externos é que formatam a habilidade plena de resolver problemas, sejam eles de ordem pessoal ou grupal. Sob um prisma mais condensado, relacionar-se nada mais é do que suprir qualquer necessidade mútua, sendo ela efêmera ou duradoura, salutar ou problemática; relacionar-se de forma absoluta é primar pela sustentabilidade da interação por intermédio do reconhecimento dos limites e expectativas almejadas. Portanto, as relações interpessoais são complexas por causa da multiplicidade de personalidades intelectuais e culturais existentes, e pelo visto não há como negar que o indivíduo somente será capaz de suportar aos contínuos estágios de desenvolvimento interpessoal, e conviver com os sabores e dissabores das suas relações interpessoais, através da sua conformação segundo os ditames da sociedade contemporânea.

Referências:


ARMSTRONG, Michael. Como ser um gerente melhor: um guia completo de A-Z de técnicas comprovadas e conhecimentos essenciais. Tradução: Nivaldo Montingelli Jr. São Paulo: Clio, 2008.
  
GIRARDI, L. J.; QUADROS, O. J. Filosofia: aprendendo a pensar. 17ª ed. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 2001.

JO-ELLAN, D.; MAZZARELLA, M. Decifrar pessoas: como entender e prever o comportamento humano. Tradução: Sônia Augusto. São Paulo: Alegro, 2000.

WEISINGER, Hendrie. Inteligência emocional no trabalho: como aplicar os conceitos revolucionários da I.E. nas relações profissionais, reduzindo o estresse, aumentando sua satisfação, eficiência e competitividade. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

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