quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

SEXUALIDADE


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SEXUALIDADE

Por: Ms. Heitor Jorge Lau
Doutorando em Psicologia Cognitiva
Mestre em Educação
Pós-graduado em Gestão de Pessoas
Bacharel em Comunicação Social

            Estudos elucidaram plenamente os estágios do desenvolvimento da sexualidade durante a evolução humana, e as suas respectivas reações físicas e psicológicas e/ou vice-versa, sejam elas decorrentes de etapas vivenciadas no timing correto ou interrompidas. Também foi possível reconhecer que fatores hereditários, sociais e culturais influenciam (mas não determinam) o comportamento ou preferências que irão “reluzir” no decorrer da vida sexual do indivíduo. 

            A constituição do comportamento humano ou das suas neuroses, segundo Freud, inevitavelmente transcorrem (também) pelas vias do desenvolvimento da sexualidade. Logo, para que seja possível uma compreensão mais próxima do ideal do termo ou composição da sexualidade faz-se necessário trafegar por saberes multidisciplinares. A ideia dessa abordagem não é apenas expressar o conhecimento adquirido, outrossim, suscitar a interrogação e curiosidade sobre os fatores motivacionais de uma sexualidade, principalmente considerada “fora do normal”. Também não é intuito adentrar em adversidades orgânicas, mas realizar uma tentativa de observar contrapontos para reflexão e pesquisa.

            As várias faces da sexualidade (e da vida sexual)

            O ser humano sofre influência de vários fatores no transcorrer da sua trajetória de vida. Alguns de ordem orgânica (anatômica ou disfuncional, por exemplo) e outros de ordem química (medicamentos antidepressivos ou ansiolíticos – ou outros). Também de ordem emocional ou uma combinação desta com a biológica e química ou ambas.

            O Pai da Psicanálise, Freud, conseguiu descobertas importantes na sua delongada jornada de estudos do aparelho psíquico ainda que as suas teorias tenham sido consideradas como Pansexualismo, da forma que o Psiquiatra e Psicoterapeuta Jung expressou. Conversar sobre sexualidade sem abarcar a questão das relações sexuais e suas multifaces seria quase impossível no contexto da Psicanálise. As preferências ou impulsos inconscientes que envolvem a prática sexual sempre foram recobertas de tabus, regras, mitos e preconceitos. Os textos de Cavalcanti expressam nitidamente os cenários e as crenças que envolveram as questões da cópula, gravidez, menstruação, fertilidade, virilidade e cultos fálicos. Foram muitos passos até o momento em que “a humanidade deu um grande salto ao separar os prazeres do sexo de seu propósito biológico meramente reprodutivo”[1], segundo Berne citado por Cavalcanti.

            As diferenças cristalinas e compreensíveis a respeito das concepções do erotismo entre homens e mulheres são expressivas para o entendimento das reações do aparelho psíquico, como disfunções sexuais ou transtornos do desejo sexual. Os incitadores e supressores sexuais figuram, igualmente, dentre as questões meritórias que o psicanalista precisa investigar no momento da Psicoterapia. Todo Psicoterapeuta deve manter latente em sua mente: a exclusão “[...] do diagnóstico de parafilia as práticas que se restringem ao relacionamento sexual, de um ou mais indivíduos, enquanto isto não atrapalhe as outras áreas de sua vida, nem causem sofrimento (para si ou para outrem)". 

            Outrora várias práticas sexuais classificadas por Freud como “perversão”, na atualidade encaradas com naturalidade desde que isentas de sofrimento físico ou emocional, próprio ou de outrem, cada “preferência” (exibicionismo, fetichismo, masturbação, voyeurismo e demais), necessitam de um olhar perspicaz na busca por respostas. Não existe neste parágrafo uma tentativa de isentar ou justificar uma ou outra prática, mas sim, a intenção de acenar para a inevitabilidade do sentido de atenção, bom senso e critério técnico (conjugados) no momento de diagnosticar e prognosticar, de definir o caminho a seguir.

            Uma reflexão (filosófica) sobre: influência ou espontaneidade?

            Um termo que se originou a partir do Latim, concupiscens, cujo significado é: “o que tem um forte desejo”; derivativo da palavra concupera: “ter forte desejo”, remete ao fato de que o ser humano nasce com uma característica nata, a de querer sempre mais e desejar aquilo que não possui. Um importante filósofo da Grécia Antiga, Platão, esboçara dois idealismos platônicos. Um definido como conhecimento sensível, dito como ínfero e ilusório, obtido somente pelos caminhos do corpo, pela experimentação que conduziria para um caminho não salutar. O outro, o conhecimento inteligível, tido como sublime e elevado, que poderia ser encontrado no universo das ideias e formas, acessado somente pelo exercício intelectual, pelo raciocínio.

            Diante desses dois idealismos paira uma questão: como ter a convicção do acerto perante as ideias ou a certeza do erro sem trilhar pelos caminhos da experimentação? Esse breve momento de inspiração filosófica (se é que pode ser considerado filosófico) emerge com o objetivo de salientar o quanto o ser humano necessita da experiência para comprovar suas suspeitas (como o amor requer a experiência para conhecer a profundidade, intensidade e sustentabilidade da relação). Cabe lembrar que algumas experiências levadas à prática podem acarretar em transtornos recalcados.

            A educação impingida pelos pais, as relações sociais, a cultura vivenciada surge no mundo das ideias, ou seja, acontece inicialmente muito mais no discurso do que propriamente na prática, no universo das ideias e formas - o conhecimento inteligível em ação. O passo seguinte, impulsionado ou não pelos pais, amigos ou habitantes do mundo, é que trará as respostas concretas de sucesso ou insucesso, do correto ou incorreto, do aceito ou não aceito - o conhecimento sensível em ação.

            O indivíduo, enquanto criança plenamente dependente dos seus responsáveis diretos (o que comer, beber, vestir, brincar, etc.), encontra-se a mercê da escolha de qual conhecimento eles decidiram naquele momento ou para suas vidas, sensível ou inteligível (ou ambos, conforme circunstância ou conveniência). Contudo, em seguida a criança inteiramente submissa, passa a se transformar na criança que toma decisões - sejam manifestas ou enrustidas.

            Impossibilitada de agir ou reagir (coagida) de acordo com as suas preferências ou juízos, inicia a construção de artimanhas para realizar (todos ou em parte) os seus desejos, que imperam sobre as necessidades. Essa façanha evolutiva é conduzida através dos tempos e nas fases subsequentes o talento para praticar e realizar desejos e fantasias toma uma forma silenciosa, anônima, secreta...as vezes, no fundo, “auto preconceituosa”. 

            Há mais de quatro décadas a OMS esboçara que a sexualidade faz parte da personalidade de cada pessoa e, inevitavelmente, impossível de ser excluída dos demais âmbitos da vida. A sexualidade se constitui com o passar dos anos a partir de tudo que o ser humano se permite sentir e não pelo que os outros permitem sentir. Assim como outros aspectos humanos mudam com a vida (por intermédio da teoria e experiência), a sexualidade de igual forma se transforma, se reinventa.

            Enfim, sem levar em conta qualquer supressor ou incitador biológico (órgão genital impotente, disfuncional, etc.), químico (produto medicamentoso depressivo ou ansiolítico, etc.) ou cultural da sexualidade ou da atividade sexual (seja esta qual for), o importante é buscar entender a origem motivacional para tal e perceber o grau de interferência negativa sobre o sujeito. Indiscutivelmente torna-se complexa a tarefa de identificar a gênese de um provável desarranjo psicossexual.
           
“O remorso crónico, e com isto todos os moralistas estão de acordo, é um sentimento bastante indesejável. Se considerais ter agido mal, arrependei-vos, corrigi os vossos erros na medida do possível e tentai conduzir-vos melhor na próxima vez. E não vos entregueis, sob nenhum pretexto, à meditação melancólica das vossas faltas. Rebolar no lodo não é, com certeza, a melhor maneira de alguém se lavar”. (Huxley, Aldous. Admirável mundo novo).


[1] Tópicos em Sexualidade, p. 18.

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