SEXUALIDADE
Por: Ms. Heitor Jorge Lau
Doutorando em Psicologia Cognitiva
Mestre em Educação
Pós-graduado em Gestão de Pessoas
Bacharel em Comunicação Social
Estudos elucidaram
plenamente os estágios do desenvolvimento da sexualidade durante a evolução
humana, e as suas respectivas reações físicas e psicológicas e/ou vice-versa,
sejam elas decorrentes de etapas vivenciadas no timing correto ou interrompidas. Também foi possível reconhecer que
fatores hereditários, sociais e culturais influenciam (mas não determinam) o comportamento ou preferências que irão
“reluzir” no decorrer da vida sexual do indivíduo.
A
constituição do comportamento humano ou das suas neuroses, segundo Freud,
inevitavelmente transcorrem (também) pelas vias do desenvolvimento da
sexualidade. Logo, para que seja possível uma compreensão mais próxima do ideal
do termo ou composição da sexualidade faz-se necessário trafegar por saberes
multidisciplinares. A ideia dessa abordagem não é apenas expressar o
conhecimento adquirido, outrossim, suscitar a interrogação e curiosidade sobre os
fatores motivacionais de uma sexualidade, principalmente considerada “fora do
normal”. Também não é intuito adentrar em adversidades orgânicas, mas realizar
uma tentativa de observar contrapontos para reflexão e pesquisa.
As várias faces da sexualidade (e da vida
sexual)
O ser
humano sofre influência de vários fatores no transcorrer da sua trajetória de
vida. Alguns de ordem orgânica (anatômica ou disfuncional, por exemplo) e
outros de ordem química (medicamentos antidepressivos ou ansiolíticos – ou
outros). Também de ordem emocional ou uma combinação desta com a biológica e
química ou ambas.
O Pai da
Psicanálise, Freud, conseguiu descobertas importantes na sua delongada jornada de
estudos do aparelho psíquico ainda que as suas teorias tenham sido consideradas
como Pansexualismo, da forma que o Psiquiatra e Psicoterapeuta Jung expressou. Conversar
sobre sexualidade sem abarcar a questão das relações sexuais e suas multifaces
seria quase impossível no contexto da Psicanálise. As preferências ou impulsos
inconscientes que envolvem a prática sexual sempre foram recobertas de tabus,
regras, mitos e preconceitos. Os textos de Cavalcanti expressam nitidamente os
cenários e as crenças que envolveram as questões da cópula, gravidez, menstruação,
fertilidade, virilidade e cultos fálicos. Foram muitos passos até o momento em
que “a humanidade deu um grande salto ao separar os prazeres do sexo de seu
propósito biológico meramente reprodutivo”[1],
segundo Berne citado por Cavalcanti.
As
diferenças cristalinas e compreensíveis a respeito das concepções do erotismo entre
homens e mulheres são expressivas para o entendimento das reações do aparelho
psíquico, como disfunções sexuais ou transtornos do desejo sexual. Os
incitadores e supressores sexuais figuram, igualmente, dentre as questões meritórias
que o psicanalista precisa investigar no momento da Psicoterapia. Todo
Psicoterapeuta deve manter latente em sua mente: a exclusão “[...] do
diagnóstico de parafilia as práticas que se restringem ao relacionamento
sexual, de um ou mais indivíduos, enquanto isto não atrapalhe as outras áreas
de sua vida, nem causem sofrimento (para si ou para outrem)".
Outrora
várias práticas sexuais classificadas por Freud como “perversão”, na atualidade
encaradas com naturalidade desde que isentas de sofrimento físico ou emocional,
próprio ou de outrem, cada “preferência” (exibicionismo, fetichismo,
masturbação, voyeurismo e demais), necessitam de um olhar perspicaz na busca
por respostas. Não existe neste parágrafo uma tentativa de isentar ou
justificar uma ou outra prática, mas sim, a intenção de acenar para a
inevitabilidade do sentido de atenção, bom senso e critério técnico
(conjugados) no momento de diagnosticar e prognosticar, de definir o caminho a
seguir.
Uma reflexão (filosófica) sobre: influência ou espontaneidade?
Um termo
que se originou a partir do Latim, concupiscens,
cujo significado é: “o que tem um forte desejo”; derivativo da palavra
concupera: “ter forte desejo”, remete ao fato de que o ser humano nasce com uma
característica nata, a de querer sempre mais e desejar aquilo que não possui.
Um importante filósofo da Grécia Antiga, Platão, esboçara dois idealismos
platônicos. Um definido como conhecimento
sensível, dito como ínfero e ilusório, obtido somente pelos caminhos do
corpo, pela experimentação que conduziria para um caminho não salutar. O outro,
o conhecimento inteligível, tido
como sublime e elevado, que poderia ser encontrado no universo das ideias e formas,
acessado somente pelo exercício intelectual, pelo raciocínio.
Diante
desses dois idealismos paira uma questão: como ter a convicção do acerto perante
as ideias ou a certeza do erro sem trilhar pelos caminhos da experimentação?
Esse breve momento de inspiração filosófica (se é que pode ser considerado
filosófico) emerge com o objetivo de salientar o quanto o ser humano necessita
da experiência para comprovar suas suspeitas (como o amor requer a experiência
para conhecer a profundidade, intensidade e sustentabilidade da relação). Cabe
lembrar que algumas experiências levadas à prática podem acarretar em
transtornos recalcados.
A educação
impingida pelos pais, as relações sociais, a cultura vivenciada surge no mundo
das ideias, ou seja, acontece inicialmente muito mais no discurso do que
propriamente na prática, no universo das ideias e formas - o conhecimento
inteligível em ação. O passo seguinte, impulsionado ou não pelos pais, amigos
ou habitantes do mundo, é que trará as respostas concretas de sucesso ou insucesso,
do correto ou incorreto, do aceito ou não aceito - o conhecimento sensível em
ação.
O
indivíduo, enquanto criança plenamente dependente dos seus responsáveis diretos
(o que comer, beber, vestir, brincar, etc.), encontra-se a mercê da escolha de qual
conhecimento eles decidiram naquele momento ou para suas vidas, sensível ou
inteligível (ou ambos, conforme circunstância ou conveniência). Contudo, em
seguida a criança inteiramente submissa, passa a se transformar na criança que
toma decisões - sejam manifestas ou enrustidas.
Impossibilitada
de agir ou reagir (coagida) de acordo com as suas preferências ou juízos,
inicia a construção de artimanhas para realizar (todos ou em parte) os seus desejos, que imperam sobre as
necessidades. Essa façanha evolutiva é conduzida através dos tempos e nas
fases subsequentes o talento para praticar e realizar desejos e fantasias toma uma
forma silenciosa, anônima, secreta...as vezes, no fundo, “auto preconceituosa”.
Há mais de
quatro décadas a OMS esboçara que a sexualidade faz parte da personalidade de
cada pessoa e, inevitavelmente, impossível de ser excluída dos demais âmbitos
da vida. A sexualidade se constitui com o passar dos anos a partir de tudo que
o ser humano se permite sentir e não pelo que os outros permitem sentir. Assim
como outros aspectos humanos mudam com a vida (por intermédio da teoria e
experiência), a sexualidade de igual forma se transforma, se reinventa.
Enfim, sem
levar em conta qualquer supressor ou incitador biológico (órgão genital impotente,
disfuncional, etc.), químico (produto medicamentoso depressivo ou ansiolítico,
etc.) ou cultural da sexualidade ou da atividade sexual (seja esta qual for), o
importante é buscar entender a origem motivacional para tal e perceber o grau
de interferência negativa sobre o sujeito. Indiscutivelmente
torna-se complexa a tarefa de identificar a gênese de um provável desarranjo
psicossexual.
“O remorso crónico, e com isto todos os moralistas estão de
acordo, é um sentimento bastante indesejável. Se considerais ter agido mal,
arrependei-vos, corrigi os vossos erros na medida do possível e tentai
conduzir-vos melhor na próxima vez. E não vos entregueis, sob nenhum pretexto,
à meditação melancólica das vossas faltas. Rebolar no lodo não é, com certeza,
a melhor maneira de alguém se lavar”. (Huxley, Aldous. Admirável mundo novo).
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