PSICOPATOLOGIAS II
Por: Ms. Heitor Jorge Lau
Doutorando em Psicologia Cognitiva
Mestre em Educação
Pós-graduado em Gestão de Pessoas
Bacharel em Comunicação Social
Existe uma
gama considerável de distúrbios do aparelho psíquico possíveis de serem
considerados interlaçados - talvez um distúrbio conduza a outro ou um dependa
de outro. Com o intuito de redigir um
texto que sintetize um pensamento crítico a partir do exposto, ao invés de
meramente replicar os conhecimentos, foram destacados dois termos para o
desenvolvimento de uma redação focada: transtorno
e reação.
Os
parágrafos a seguir não visam defender algum ponto de vista ou conferir mérito
maior ou menor a um ou outro pesquisador, seja ele profissional da área da
saúde ou não. Nem tão pouco descreditar o mérito de estudos empíricos ou teóricos
do passado e da atualidade. Por outro lado, ambiciona provocar o debate e a
crítica. A ideia essencial seria exercitar um olhar enfático sobre as
potencialidades da mente humana, capaz de imaginar e criar Psiconeuroses a
partir de fatores causais que precipitem ou predispõem uma doença. A quem
credite as reações humanas, única e exclusivamente, a processos que envolvem o
corpo físico. William James, Psicólogo e Filósofo norte-americano, pai da
Escola Filosófica conhecida como Pragmatismo, e um dos pioneiros da Psicologia
Funcional, por exemplo, foi um deles. Esta visão reducionista dá “pouca ou
nenhuma importância ao processo de avaliação mental da situação que provoca a
emoção”. (DAMÁSIO, 2012, p; 128)[1]
Contextualização de um ícone da medicina
mental
A fim de enriquecer
a exposição que segue, um ilustre nome será introduzido na argumentação, Alfred
Adler (1870-1937). Diplomado em medicina em 1895 pela Universidade de Viena,
após especialização em Oftalmologia tornou-se um Psiquiatra. Membro fundador (em
seguida presidente) da Sociedade Psicanalítica de Viena, iniciou uma fase de
críticas e discordâncias frente as ideias de Freud (e de outros membros da
instituição por ele presidida) no decorrer de sua trajetória, coeficientes que
suscitaram a sua renúncia ao cargo ocupado.
Apesar de
um histórico de infância problemática, as adversidades serviriam de incentivo
para a busca da titularidade de médico e posterior criação da Teoria da Personalidade. O aspecto
importante da hipótese foi de encontro ao ponto culminante de Freud que preconizava
os instintos inatos do ser humano como o princípio da motivação comportamental.
Adler foi incisivo ao mencionar que todo indivíduo é influenciado e estimulado
por impulsões sociais. Se por um
lado Freud sublinhou o sexo, Adler focalizou os aspectos determinantes do
interesse social no comportamento humano.
O embate
entre o Ego, de Freud, e o Self
Criativo, de Adler, culminaram na redução do instinto sexual como determinante
exclusivo da formatação do comportamento, ou seja, o ser humano seria um ser
social antes de um ser sexual. Portanto, uma vez que o indivíduo é influenciado
por impulsos sociais, ele se transforma numa criatura propensa a absorver todo
e qualquer estímulo que o conduza para algum tipo de transtorno, basta estar com a mente fragilizada o suficiente para
permitir tal feito.
Cérebro – uma máquina de associações
Era uma
vez um garoto de apenas 10 anos de idade que anualmente desfrutava das férias
de verão junto dos pais em uma bela praia gaúcha. Em certo janeiro os pais
tiveram uma ideia “brilhante” de entretenimento: assistir O Tubarão, um
inesquecível filme. O resultado foi traumático para a criança cuja mente
encontrava-se fulminantemente imaginativa. A tenra faixa etária associada ao
oceano contendo um tubarão à espreita foram os ingredientes necessários para
que a criança não encontrasse “um pingo” de coragem para entrar nas águas do
mar pelo resto da temporada. Motivo: a iminência de ser estraçalhado e devorado
por um tubarão enorme com dentes gigantescos e afiados, surgido silenciosamente
das profundezas do Oceano Atlântico.
Transtorno de Ansiedade – Fobia –
Personalidade
O mesmo
(ou, provavelmente mais intenso) fluxo de adrenalina produzido durante o filme
era reprisado no momento do deslocamento até a beira da praia – quanto mais
perto da água, mais acentuada as Reações da Fobia. Surge então, neste contexto,
a Fobia por Associação. Dentre as várias Psicopatologias existentes, a Fobia foi escolhida para dar
prosseguimento ao raciocínio. Por mais numerosas que fossem as tentativas de
fazer a criança entender que a história assistida era ficção e que jamais tal
fato aconteceria, a Fobia permaneceu e prevaleceu.
As funções
do Córtex Frontal - responsável pelo julgamento, controle de impulsos, e pensamento
crítico (dentre as demais funções) - foram inteiramente subjugadas pelas
funções da Amigdala - ativada em situações com marcante significado emocional. Esse
episódio traumático real poderia ser facilmente substituído por um outro
qualquer associado ao Transtorno de Humor, Hipocondria, Disfunção Sexual ou
Ansiedade Generalizada... basta pensar nas histórias de vida por algum momento.
Questões: – Como seria a mente da criança se os pais a obrigassem a entrar na
água? Ou, se o medo virasse motivo de piada? Seria sensato afirmar que o pavor
de uma temporada poderia perdurar por uma vida por intermédio de um Transtorno causador do Medo, ou Pânico,
ou Fobia... e suas respectivas Reações.
As defesas da mente contra o enfrentamento dos problemas
É
interessante ressaltar que tanto Adler quanto Freud concordavam que os
mecanismos psíquicos geram artifícios defensivos para as Neuroses. Um indivíduo
com Distúrbio Neurótico detém a incapacidade de administrar os problemas do
cotidiano a partir do desenvolvimento de “salvaguardas”
(um conceito importante de Adler, congênere aos mecanismos Freudianos de
defesa). Três salvaguardas foram categorizadas (na época): Desculpas; Agressão; Distanciamento. A primeira constitui,
ardilosamente, desculpas para os fracassos da vida (a culpa jamais recai sobre
o próprio indivíduo); A segunda, Agressão, busca culpados por tais fracassos; a
terceira, o Distanciamento, infligi postergações, justifica os fracassos pela debilidade
de impedir os problemas originários dos fracassos da vida (vitimização).
Considerações finais
Um
comportamento considerado anormal - biológico ou sociológico (baseado em
patologias conhecidas do cérebro: orgânicas ou biogênicas), psicogênico (quando
não é patologia cerebral conhecida:), ou sociogênico (fatores sociológicos)
pode ser identificado, remediado, evitado ou controlado. Resta refletir sobre
os tipos e quantidade de reações emocionais que já se encontram inatas no ser
humano desde o seu nascimento e quais são instigadas por indução ou pela
ausência de orientação. É perfeitamente aceitável que algumas reações
emocionais pré-programadas internamente, como o medo, possam ser acionadas
frente a estímulos externos.
Por exemplo:
não tenho medo de entrar no mar, desde que inexista tubarões. Neste exemplo o
medo encontra-se (de certa forma) predisposto, todavia, necessita de um estímulo
precipitante. As Reações do corpo humano físico e mental independem da
identificação do objeto estimulante, ou seja, uma pessoa não demanda perceber
um tubarão por perto, basta enxergar uma barbatana (seja ela de um golfinho)
para permanecer longe do mar.
Portanto,
se o corpo é dotado de Córtices Sensoriais para detectar, classificar e enviar
os sinais para as Amigdalas, como evitar ou driblar as Neuroses que “rodeiam” o
dia-a-dia de cada indivíduo. Os Transtornos Cognitivos, as Perturbações
Neuróticas, enfim, as Reações Psicossomáticas podem ser desencadeadas (ou não)
por um simples ato de assistir um filme errado, no local e tempo inapropriado.
Haja Freud, Jung, Adler e toda a sociedade psicanalítica para tantos vieses de
possíveis perturbações do Aparelho Psíquico.
“Só
não existe o que não pode ser imaginado”.
Murilo Mendes
[1]
DAMÁSIO, R. A. O Erro de Descartes:
emoção, razão e o cérebro humano. 3ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
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