quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

PSICOPATOLOGIAS II


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PSICOPATOLOGIAS II
                      
Por: Ms. Heitor Jorge Lau
Doutorando em Psicologia Cognitiva
Mestre em Educação
Pós-graduado em Gestão de Pessoas
Bacharel em Comunicação Social

            Existe uma gama considerável de distúrbios do aparelho psíquico possíveis de serem considerados interlaçados - talvez um distúrbio conduza a outro ou um dependa de outro.  Com o intuito de redigir um texto que sintetize um pensamento crítico a partir do exposto, ao invés de meramente replicar os conhecimentos, foram destacados dois termos para o desenvolvimento de uma redação focada: transtorno e reação.

            Os parágrafos a seguir não visam defender algum ponto de vista ou conferir mérito maior ou menor a um ou outro pesquisador, seja ele profissional da área da saúde ou não. Nem tão pouco descreditar o mérito de estudos empíricos ou teóricos do passado e da atualidade. Por outro lado, ambiciona provocar o debate e a crítica. A ideia essencial seria exercitar um olhar enfático sobre as potencialidades da mente humana, capaz de imaginar e criar Psiconeuroses a partir de fatores causais que precipitem ou predispõem uma doença. A quem credite as reações humanas, única e exclusivamente, a processos que envolvem o corpo físico. William James, Psicólogo e Filósofo norte-americano, pai da Escola Filosófica conhecida como Pragmatismo, e um dos pioneiros da Psicologia Funcional, por exemplo, foi um deles. Esta visão reducionista dá “pouca ou nenhuma importância ao processo de avaliação mental da situação que provoca a emoção”. (DAMÁSIO, 2012, p; 128)[1]

            Contextualização de um ícone da medicina mental

            A fim de enriquecer a exposição que segue, um ilustre nome será introduzido na argumentação, Alfred Adler (1870-1937). Diplomado em medicina em 1895 pela Universidade de Viena, após especialização em Oftalmologia tornou-se um Psiquiatra. Membro fundador (em seguida presidente) da Sociedade Psicanalítica de Viena, iniciou uma fase de críticas e discordâncias frente as ideias de Freud (e de outros membros da instituição por ele presidida) no decorrer de sua trajetória, coeficientes que suscitaram a sua renúncia ao cargo ocupado.

            Apesar de um histórico de infância problemática, as adversidades serviriam de incentivo para a busca da titularidade de médico e posterior criação da Teoria da Personalidade. O aspecto importante da hipótese foi de encontro ao ponto culminante de Freud que preconizava os instintos inatos do ser humano como o princípio da motivação comportamental. Adler foi incisivo ao mencionar que todo indivíduo é influenciado e estimulado por impulsões sociais. Se por um lado Freud sublinhou o sexo, Adler focalizou os aspectos determinantes do interesse social no comportamento humano.

            O embate entre o Ego, de Freud, e o Self Criativo, de Adler, culminaram na redução do instinto sexual como determinante exclusivo da formatação do comportamento, ou seja, o ser humano seria um ser social antes de um ser sexual. Portanto, uma vez que o indivíduo é influenciado por impulsos sociais, ele se transforma numa criatura propensa a absorver todo e qualquer estímulo que o conduza para algum tipo de transtorno, basta estar com a mente fragilizada o suficiente para permitir tal feito.

            Cérebro – uma máquina de associações

            Era uma vez um garoto de apenas 10 anos de idade que anualmente desfrutava das férias de verão junto dos pais em uma bela praia gaúcha. Em certo janeiro os pais tiveram uma ideia “brilhante” de entretenimento: assistir O Tubarão, um inesquecível filme. O resultado foi traumático para a criança cuja mente encontrava-se fulminantemente imaginativa. A tenra faixa etária associada ao oceano contendo um tubarão à espreita foram os ingredientes necessários para que a criança não encontrasse “um pingo” de coragem para entrar nas águas do mar pelo resto da temporada. Motivo: a iminência de ser estraçalhado e devorado por um tubarão enorme com dentes gigantescos e afiados, surgido silenciosamente das profundezas do Oceano Atlântico. 

            Transtorno de Ansiedade – Fobia – Personalidade

            O mesmo (ou, provavelmente mais intenso) fluxo de adrenalina produzido durante o filme era reprisado no momento do deslocamento até a beira da praia – quanto mais perto da água, mais acentuada as Reações da Fobia. Surge então, neste contexto, a Fobia por Associação. Dentre as várias Psicopatologias existentes, a Fobia foi escolhida para dar prosseguimento ao raciocínio. Por mais numerosas que fossem as tentativas de fazer a criança entender que a história assistida era ficção e que jamais tal fato aconteceria, a Fobia permaneceu e prevaleceu.

            As funções do Córtex Frontal - responsável pelo julgamento, controle de impulsos, e pensamento crítico (dentre as demais funções) - foram inteiramente subjugadas pelas funções da Amigdala - ativada em situações com marcante significado emocional. Esse episódio traumático real poderia ser facilmente substituído por um outro qualquer associado ao Transtorno de Humor, Hipocondria, Disfunção Sexual ou Ansiedade Generalizada... basta pensar nas histórias de vida por algum momento. Questões: – Como seria a mente da criança se os pais a obrigassem a entrar na água? Ou, se o medo virasse motivo de piada? Seria sensato afirmar que o pavor de uma temporada poderia perdurar por uma vida por intermédio de um Transtorno causador do Medo, ou Pânico, ou Fobia... e suas respectivas Reações.

            As defesas da mente contra o enfrentamento dos problemas

            É interessante ressaltar que tanto Adler quanto Freud concordavam que os mecanismos psíquicos geram artifícios defensivos para as Neuroses. Um indivíduo com Distúrbio Neurótico detém a incapacidade de administrar os problemas do cotidiano a partir do desenvolvimento de “salvaguardas” (um conceito importante de Adler, congênere aos mecanismos Freudianos de defesa). Três salvaguardas foram categorizadas (na época): Desculpas; Agressão; Distanciamento. A primeira constitui, ardilosamente, desculpas para os fracassos da vida (a culpa jamais recai sobre o próprio indivíduo); A segunda, Agressão, busca culpados por tais fracassos; a terceira, o Distanciamento, infligi postergações, justifica os fracassos pela debilidade de impedir os problemas originários dos fracassos da vida (vitimização).

            Considerações finais

            Um comportamento considerado anormal - biológico ou sociológico (baseado em patologias conhecidas do cérebro: orgânicas ou biogênicas), psicogênico (quando não é patologia cerebral conhecida:), ou sociogênico (fatores sociológicos) pode ser identificado, remediado, evitado ou controlado. Resta refletir sobre os tipos e quantidade de reações emocionais que já se encontram inatas no ser humano desde o seu nascimento e quais são instigadas por indução ou pela ausência de orientação. É perfeitamente aceitável que algumas reações emocionais pré-programadas internamente, como o medo, possam ser acionadas frente a estímulos externos.

            Por exemplo: não tenho medo de entrar no mar, desde que inexista tubarões. Neste exemplo o medo encontra-se (de certa forma) predisposto, todavia, necessita de um estímulo precipitante. As Reações do corpo humano físico e mental independem da identificação do objeto estimulante, ou seja, uma pessoa não demanda perceber um tubarão por perto, basta enxergar uma barbatana (seja ela de um golfinho) para permanecer longe do mar.

            Portanto, se o corpo é dotado de Córtices Sensoriais para detectar, classificar e enviar os sinais para as Amigdalas, como evitar ou driblar as Neuroses que “rodeiam” o dia-a-dia de cada indivíduo. Os Transtornos Cognitivos, as Perturbações Neuróticas, enfim, as Reações Psicossomáticas podem ser desencadeadas (ou não) por um simples ato de assistir um filme errado, no local e tempo inapropriado. Haja Freud, Jung, Adler e toda a sociedade psicanalítica para tantos vieses de possíveis perturbações do Aparelho Psíquico.
“Só não existe o que não pode ser imaginado”.
Murilo Mendes


[1] DAMÁSIO, R. A. O Erro de Descartes: emoção, razão e o cérebro humano. 3ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

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