quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

ASSOCIAÇÕES LIVRES


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ASSOCIAÇÕES LIVRES
           
Por: Ms. Heitor Jorge Lau
Doutorando em Psicologia Cognitiva
Mestre em Educação
Pós-graduado em Gestão de Pessoas
Bacharel em Comunicação Social

              Freud, o Pioneiro

            A Psicanálise, muito embora tenha sido exaustiva e profundamente estudada por Freud, dedicação que lhe atribuiu o título de Pai da Psicanálise, pode ser considerada como um “produto” criado e aprimorado por vários profissionais no decorrer dos tempos (fato que, nas devidas proporções, ainda continua). Não há como negar que terapeutas como Charcot e Breuer, dentre outros não menos importantes (os outros, mesmo figurando como opositores de parte ou do todo das teorias de Freud), contribuíram contundentemente para os estudos, direcionamentos e redirecionamentos do constructo da Psicoterapia. Freud delineou um formato inédito de construir conhecimento a partir do seu trabalho, a ponto de provocar uma ruptura nos saberes até então tidos como eméritos no ocidente. Foi a partir do descaso da medicina com as Neuroses Histéricas que ele, Médico Neurologista, provocou uma verdadeira descontinuidade nas teorias da ciência e do conhecimento da época. Tamanha a influência do seu trabalho pode ser percebida em âmbitos da filosofia (desde aquela época) a neurociência (nesta época, p.ex.). É relevante perceber que a aplicação da Técnica Psicoterápica envolve os princípios da hermenêutica sucedidos por práticas clínicas. Esta característica permite ao terapeuta a confiança e a quase certeza de encontrar a gênese do problema e as possibilidades de cura.

            O Marco Zero

            Seria possível conceber a permanência de Sigmund Freud na instituição de saúde Salpêtrière, local onde Charcot atuava, como marco zero da Psicanálise. Neste ambiente Jean-Martin Charcot servia-se da hipnose para buscar compreender os sintomas dos pacientes. Ao Pai da Psicanálise coube o mérito maior de questionar que a Histeria não poderia mais ser apenas observada como uma enfermidade originária de condições orgânicas desfavoráveis ou até mesmo por se tratar de um simulacro, ótica tradicionalmente aceita na época. Freud, logo após a sua passagem pela instituição, semeou e amadurou o ato de escutar o paciente ao invés de apenas observá-lo, inovação esta, que transportou a Histeria da esfera orgânica para a psíquica e que, gradativamente, instigou o abandono da Hipnose e Sugestão.
           
            Psicoterapia pela Associação Livre

            Desta trajetória resplandece a Cura pela Fala, especificamente pelo tratamento despendido no caso de Anna O., reconhecido como de sucesso, paciente de Josef Breuer (médico que surge na vida de Freud). A Breuer pode ser creditado o sucesso do Método Catártico, processo que consistia em reviver os cenários traumáticos, resultando na Ab-reação (Freud e Breuer, criaram o termo Ab-reação para referenciar o ato de neutralizar reações patogênicas por intermédio da Catarse). Os trabalhos psicoterápicos que sucederam o de Anna O. contribuíram sistematicamente no sentido de interligar e sobrepor técnicas, práticas e teorias. Logo de início as teorias de Freud não se distanciavam muito do colega de Salpêtrière, uma vez que dentre os seus primeiros artigos sobre Histeria, as enfermidades eram correlacionadas com fatores meramente hereditárias, manifestas a partir de experiências traumáticas. Freud, em seguida, afirmou com intensa convicção que os fatores hereditários não deveriam ser percebidos como os causadores únicos e exclusivos das Neuroses, mas que outras condições poderiam suscitar Histerias (os traumas, p.ex.).

            Esta revelia com relação as teorias, até então creditadas, obriga Freud a encontrar fundamentos para justificar o seu ponto de vista científico. Neste interim o Pai da Psicanálise cogita a chance de que algum fator de natureza sexual pudesse, também, figurar como causa das Neuroses Histéricas. Um tempo após Freud ter se desvinculado de Salpêtrière e ter trabalhado com Breuer, a associação de muitos pontos científicos em comum entre eles origina estudos mais aprofundados sobre a Histeria, e culmina no termo Conversão. A Conversão seria compreendida como a expressão sintomática da Neurose, ou seja, o corpo “falando” através de reações intensas como paralisias (ou menos intensas). Em síntese, o trauma que se alojasse no inconsciente do paciente por “Recalcamento” se manifestaria sob a “roupagem” de uma enfermidade orgânica como paralisia parcial ou total de um membro, tosse intensa, crises emocionais, por exemplo. O Recalque diz respeito a repressão ou mecânica de defesa da psique do paciente, o qual rejeita tudo aquilo que lhe agride psicologicamente e que se manifesta através de expressões sintomáticas ou sonhos (que, aliás, os Sonhos também são citados por Freud como manifestações dos desejos do inconsciente).

            A Cura pela Fala que posteriormente foi denominada de Associação Livre, é uma investigação que faz emergir das profundezas do inconsciente os “sinais” que perturbam a psique do acometido por comportamentos ou sensações perturbadoras. Ao Psicanalista cabe, então, a capacidade (esta deveras aguçada) de conectar e compreender tais sinais sem eliminar totalmente os sintomas sintomáticos até o final do tratamento. Esse Tratamento Psicoterápico possibilita o abrandamento gradativo dos sintomas do paciente a partir do ato de relembrar (e por que não entender como reviver) sensações relacionadas aos fatos históricos que deixaram “cicatrizes” traumáticas e inacessíveis na psique. Um aspecto deveras importante notabilizado pelo Pai da Psicanálise foi que nenhuma, absolutamente nenhuma, exposição do paciente por intermédio do processo investigativo deveria ser negligenciada ou ignorada. Cada detalhe avistado nas Associações Livres do paciente, método que Freud desenvolveu após presenciar a técnica de Hipnotismo empregada por Charcot  e Breuer para curar os sintomas da Histeria de Conversão (Conversão é a transmutação de um indício psíquico em sintoma orgânico - cegueira, paralisia total ou parcial de membros, contraturas musculares, e outros), compõe um mosaico de informações dispersas e alojadas no inconsciente que servirão de substrato para análise e continuidade da terapia.

            É possível afirmar que o Método de Associação Livre obtém sucesso porque o paciente expressa tudo que surgir à mente sem a preocupação de sentido ou relevância. As revelações, inevitavelmente, estarão dentro do contexto que está sendo investigado. Com o emprego desta técnica o paciente faz emergir aspectos traumáticos e ocultos durante a sessão (“diálogo”). O ocultamento, por assim dizer, dos episódios traumáticos do paciente são transportados do plano consciente para o inconsciente, processo denominado de Recalcamento. Assim, todos os incidentes traumáticos alojados no inconsciente devido ao recalque compõem os sintomas da Neurose Histérica. A prova mais contundente que Freud percebeu sobre o sucesso da Associação Livre foi o desaparecimento dos sintomas orgânicos diante do ato de rememorar, “conduzir” o paciente através da terapia em direção à lembrança, provocando o desabrochar das emoções, o caminho da Catarse.

            O processo de Associação Livre, quando conduzido de forma que o paciente sinta confiança e liberdade para expressar tudo aquilo que lhe ocorrer à mente, sem receio de que o dito possa ser criticado, ignorado ou rejeitado por ser irrelevante ou sem sentido obtém resultados surpreendentes (segundo histórico). É importante ter em mente que a escuta atenta e analítica das revelações do paciente deve ser isenta de qualquer forma de expectativa por parte do analista, mesmo porque o rumo, o direcionamento da análise é determinado pelo próprio paciente. Enfim, ao analista compete afastar o máximo possível o seu paciente dos sentidos da lógica para que ele revele os sinais que formam (coerentemente) os traumas do inconsciente.

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