ASSOCIAÇÕES LIVRES
Por: Ms. Heitor Jorge Lau
Doutorando em Psicologia Cognitiva
Mestre em Educação
Pós-graduado em Gestão de Pessoas
Bacharel em Comunicação Social
Freud, o Pioneiro
A
Psicanálise, muito embora tenha sido exaustiva e profundamente estudada por
Freud, dedicação que lhe atribuiu o título de Pai da Psicanálise, pode ser
considerada como um “produto” criado e aprimorado por vários profissionais no
decorrer dos tempos (fato que, nas devidas proporções, ainda continua). Não há
como negar que terapeutas como Charcot e Breuer, dentre outros não menos
importantes (os outros, mesmo figurando como opositores de parte ou do todo das
teorias de Freud), contribuíram contundentemente para os estudos, direcionamentos
e redirecionamentos do constructo da Psicoterapia. Freud delineou um formato
inédito de construir conhecimento a partir do seu trabalho, a ponto de provocar
uma ruptura nos saberes até então tidos como eméritos no ocidente. Foi a partir
do descaso da medicina com as Neuroses
Histéricas que ele, Médico
Neurologista, provocou uma verdadeira descontinuidade nas teorias da ciência e
do conhecimento da época. Tamanha a influência do seu trabalho pode ser
percebida em âmbitos da filosofia (desde aquela época) a neurociência (nesta
época, p.ex.). É relevante perceber que a aplicação da Técnica Psicoterápica envolve os princípios da hermenêutica
sucedidos por práticas clínicas. Esta característica permite ao terapeuta a
confiança e a quase certeza de encontrar a gênese do problema e as possibilidades
de cura.
O Marco Zero
Seria
possível conceber a permanência de Sigmund Freud na instituição de saúde Salpêtrière, local onde Charcot atuava,
como marco zero da Psicanálise. Neste ambiente Jean-Martin Charcot servia-se da
hipnose para buscar compreender os sintomas dos pacientes. Ao Pai da
Psicanálise coube o mérito maior de questionar que a Histeria não poderia mais
ser apenas observada como uma
enfermidade originária de condições orgânicas desfavoráveis ou até mesmo por se
tratar de um simulacro, ótica tradicionalmente aceita na época. Freud, logo
após a sua passagem pela instituição, semeou e amadurou o ato de escutar o
paciente ao invés de apenas observá-lo, inovação esta, que transportou a
Histeria da esfera orgânica para a psíquica e que, gradativamente, instigou o
abandono da Hipnose e Sugestão.
Psicoterapia pela
Associação Livre
Desta
trajetória resplandece a Cura pela Fala,
especificamente pelo tratamento despendido no caso de Anna O., reconhecido como
de sucesso, paciente de Josef Breuer (médico que surge na vida de Freud). A
Breuer pode ser creditado o sucesso do Método
Catártico, processo que consistia em reviver os cenários traumáticos,
resultando na Ab-reação (Freud e
Breuer, criaram o termo Ab-reação para referenciar o ato de neutralizar reações
patogênicas por intermédio da Catarse). Os trabalhos psicoterápicos que
sucederam o de Anna O. contribuíram sistematicamente no sentido de interligar e
sobrepor técnicas, práticas e teorias. Logo de início as teorias de Freud não
se distanciavam muito do colega de Salpêtrière,
uma vez que dentre os seus primeiros artigos sobre Histeria, as enfermidades
eram correlacionadas com fatores meramente hereditárias, manifestas a partir de
experiências traumáticas. Freud, em seguida, afirmou com intensa convicção que
os fatores hereditários não deveriam ser percebidos como os causadores únicos e
exclusivos das Neuroses, mas que outras condições poderiam suscitar Histerias
(os traumas, p.ex.).
Esta
revelia com relação as teorias, até então creditadas, obriga Freud a encontrar
fundamentos para justificar o seu ponto de vista científico. Neste interim o
Pai da Psicanálise cogita a chance de que algum fator de natureza sexual
pudesse, também, figurar como causa das Neuroses Histéricas. Um tempo após
Freud ter se desvinculado de Salpêtrière
e ter trabalhado com Breuer, a associação de muitos pontos científicos em comum
entre eles origina estudos mais aprofundados sobre a Histeria, e culmina no
termo Conversão. A Conversão seria
compreendida como a expressão sintomática da Neurose, ou seja, o corpo
“falando” através de reações intensas como paralisias (ou menos intensas). Em
síntese, o trauma que se alojasse no inconsciente do paciente por
“Recalcamento” se manifestaria sob a “roupagem” de uma enfermidade orgânica
como paralisia parcial ou total de um membro, tosse intensa, crises emocionais,
por exemplo. O Recalque diz respeito
a repressão ou mecânica de defesa da psique do paciente, o qual rejeita tudo
aquilo que lhe agride psicologicamente e que se manifesta através de expressões
sintomáticas ou sonhos (que, aliás, os Sonhos também são citados por Freud como
manifestações dos desejos do inconsciente).
A
Cura pela Fala que posteriormente foi denominada de Associação Livre, é uma investigação
que faz emergir das profundezas do inconsciente os “sinais” que perturbam a
psique do acometido por comportamentos ou sensações perturbadoras. Ao
Psicanalista cabe, então, a capacidade (esta deveras aguçada) de conectar e
compreender tais sinais sem eliminar totalmente os sintomas sintomáticos até o
final do tratamento. Esse Tratamento Psicoterápico possibilita o abrandamento
gradativo dos sintomas do paciente a partir do ato de relembrar (e por que não
entender como reviver) sensações relacionadas aos fatos históricos que deixaram
“cicatrizes” traumáticas e inacessíveis na psique. Um aspecto deveras
importante notabilizado pelo Pai da Psicanálise foi que nenhuma, absolutamente
nenhuma, exposição do paciente por intermédio do processo investigativo deveria
ser negligenciada ou ignorada. Cada detalhe avistado nas Associações Livres do paciente, método que Freud desenvolveu após
presenciar a técnica de Hipnotismo empregada por Charcot e Breuer para curar os sintomas da Histeria de Conversão (Conversão é a transmutação
de um indício psíquico em sintoma orgânico - cegueira, paralisia total ou
parcial de membros, contraturas musculares, e outros), compõe um mosaico de
informações dispersas e alojadas no inconsciente que servirão de substrato para
análise e continuidade da terapia.
É
possível afirmar que o Método de
Associação Livre obtém sucesso porque o paciente expressa tudo que surgir à
mente sem a preocupação de sentido ou relevância. As revelações,
inevitavelmente, estarão dentro do contexto que está sendo investigado. Com o
emprego desta técnica o paciente faz emergir aspectos traumáticos e ocultos
durante a sessão (“diálogo”). O ocultamento, por assim dizer, dos episódios
traumáticos do paciente são transportados do plano consciente para o inconsciente,
processo denominado de Recalcamento.
Assim, todos os incidentes traumáticos alojados no inconsciente devido ao
recalque compõem os sintomas da Neurose
Histérica. A prova mais contundente que Freud percebeu sobre o sucesso da
Associação Livre foi o desaparecimento dos sintomas orgânicos diante do ato de
rememorar, “conduzir” o paciente através da terapia em direção à lembrança,
provocando o desabrochar das emoções, o caminho da Catarse.
O
processo de Associação Livre, quando conduzido de forma que o paciente sinta
confiança e liberdade para expressar tudo aquilo que lhe ocorrer à mente, sem
receio de que o dito possa ser criticado, ignorado ou rejeitado por ser
irrelevante ou sem sentido obtém resultados surpreendentes (segundo histórico).
É importante ter em mente que a escuta atenta e analítica das revelações do
paciente deve ser isenta de qualquer forma de expectativa por parte do
analista, mesmo porque o rumo, o direcionamento da análise é determinado pelo
próprio paciente. Enfim, ao analista compete afastar o máximo possível o seu
paciente dos sentidos da lógica para que ele revele os sinais que formam
(coerentemente) os traumas do inconsciente.
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