quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

PSICOPATOLOGIAS


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PSICOPATOLOGIAS

Por: Ms. Heitor Jorge Lau
Doutorando em Psicologia Cognitiva
Mestre em Educação
Pós-graduado em Gestão de Pessoas
Bacharel em Comunicação Social

            O intuito deste texto é proporcionar – da mesma forma que os anteriores – inquietudes e reflexões a partir das exposições sobre neuroses, psicoses, perversões, depressões, melancolias e demais psicopatologias. Também visa não tornar entediante a leitura desta redação, replicando os conteúdos descritos com tanta objetividade e nitidez, justamente para um leitor que possui todo o conhecimento possível sobre os diversos distúrbios neuróticos.

            A mente ardilosa

            “De médico e louco todo mundo tem um pouco” (dizia um antigo ditado). De neurótico, psicótico e perverso, também. O mais perturbante diante dos vários quadros de distúrbios do aparelho psíquico é a forma como eles se encontram silenciosamente “escondidos” e como se originam nas profundezas do inconsciente. Todavia, despertados por algum “gatilho” ou algo germinado, estimulado e trazido à tona num piscar de olhos após um período de dormência. E se as motivações não forem descobertas? Ou, se não estiverem lá, no inconsciente? Algumas vezes reações somáticas são perceptíveis, em muitos casos nem tanto. A mente, sempre ardilosa, revela uma capacidade ímpar de conduzir o ser humano pelos caminhos menos pesarosos, contudo, desenvolve desajustes de ordem física, mental ou de personalidade. 

            Um paciente com psiconeurose - distúrbio reconhecido como o reflexo das investidas infrutíferas de enfrentar os conflitos ou traumas do inconsciente -, por exemplo, com a sua mente recheada de dúvidas, tentará ocultar tudo que for possível do seu analista (e quem garante que não consegue?). O psicótico, por sua vez, não, uma vez que é cheio de certezas e nada teme por revelar aquilo que acredita “dentro do seu castelo”. Diante disso surge uma dúvida: é possível existir um neurótico com características psicóticas e vice-versa? Ou, será possível existir uma pessoa normal com características psicóticas ou neuróticas (ou deprimido, melancólico, pervertido, ...)? Através de uma ótica leiga, talvez sim.

            A complexidade dos indícios

            O psicótico com inquietação psicomotora versus o neurótico fóbico e ansioso; o psicótico com alucinações histéricas versus o neurótico com nervosismo acentuado pela neurastenia; ambos carregam em si características genéricas de perturbações distintas. Torna-se deveras dificílimo diagnosticar um indivíduo com um ou outro distúrbio, uma vez que a neurose não altera o potencial do raciocínio enquanto a psicose não altera a cognição, memória e consciência.

            Em 1973, David Rosenham, professor da Universidade de Stanford, elaborou e executou um experimento, conhecido até hoje como O Experimento de Rosenham. A experiência tinha como objetivo testar se os profissionais da saúde mental detinham a capacidade assertiva de diagnosticar distúrbios do Aparelho Psíquico. O catedrático convocou oito pseudopacientes que conseguiram internação em hospitais psiquiátricos. Em síntese, sete pacientes foram diagnosticados com esquizofrenia na internação e esquizofrenia em remissão na baixa hospitalar. Na segunda fase do experimento Rosenham alertou um hospital de que alguém faria a tal experiência (que na verdade não aconteceria). Resultado: de 193 pacientes avaliados 83 foram considerados pseudopacientes. Resultado: o professor acenou concretamente que a partir de “rótulos psiquiátricos específicos, tudo o que um paciente faz passa a ser interpretado conforme esse rótulo”[1]. (KLEINMAN, 2015, p. 213-216)
            Um analista precisa ser dotado de extrema capacidade perceptiva (além do conhecimento respectivo, é claro) para perceber diante de qual quadro se encontra.

            Os desvios da “normalidade”

            Um pervertido sexual é considerado depravado na medida em que age de forma indecente em lugar indevido. Ora, uma cidadã brasileira que “desfila” com os seios à mostra na beira da praia imediatamente será denunciada e consequentemente presa, autuada e processada por danos morais. Contudo, se a mesma cidadã desfilar seminua em pleno Sambódromo no período do Carnaval nada acontecerá – o exibicionismo deixa ser exibicionismo neste caso? Afinal, exibir partes íntimas do corpo está longe de ser devido ao calor. Um homem que expor seus órgãos genitais na beira da praia, igualmente, será denunciado, preso, autuado e processado por danos morais. No entanto, nos campos de naturismo o mesmo indivíduo pode permanecer completamente nu perante crianças, inclusive. Da mesma forma, o exibicionismo deixa ser exibicionismo neste caso? Há quem diga que se trata de um estilo de vida – na sua totalidade, será? Quem garante? Um cidadão que instala um equipamento para captar imagens íntimas das dependências de um imóvel, sem o consentimento (ou conhecimento) dos respectivos ocupantes, não configura infração da Lei (nesta exemplificação, se tratando apenas de pessoas adultas). Porém, se as imagens forem divulgadas ao público, seja pela internet ou outro meio, desta feita sim, trata-se de uma ação passível de denúncia, prisão, autuação e processo penal. Neste caso, o voyeurismo somente se configura ante a exposição não abalizada?  A sociedade brasileira é nitidamente paradoxal. Agora, como reagirá a mente de uma criança, um pré-adolescente ou adolescente diante de tantas contradições das convenções sociais e culturais. Será que o ato em si é perverso na raiz da atitude ou seria o local (ou a forma da ação) que determina o desvio de conduta? Mas qual lugar específico anula por completo uma atitude pervertida? Essas são apenas algumas antíteses de dar “nó” em mentes que ainda estão em formação (que dirá em mentes com distúrbios neuróticos ou psicóticos pronunciados). 

            Pulsões insatisfeitas da modernidade

            O ser humano detém uma capacidade ímpar de buscar satisfazer os seus desejos, por ele ilibados. Seria sensato compreender que se tratam de desejos platônicos, uma vez que eles nunca findam, jamais morrem, sobrevivem aos tempos, enfim, perduram porque são platônicos. O ser humano procura, busca, insiste naquilo que a sua mente imagina como o ideal, melhor, que consagra. Ele tornará a perseguir o inatingível porque o achado estará distante de ser como o pensado, idealizado, desejado. Nesta trajetória repleta de patologias psicossomáticas, sejam elas de cunho neurótico, psicótico, depressivo..., a vida acaba por ser quase que integralmente despida de valor pelo deslumbramento do desejo inalcançável.

            Essas indagações, a princípio primárias, são provenientes da observação de uma sociedade doente, talvez insana. Não no sentido de pessoas doentes, mas de hábitos que promovem a ansiedade, uma interminável e dolorosa angústia. Valorizar o outro em detrimento do EU parece ter se tornado uma constante. A constante angústia de depender da opinião alheia (opressão), a constante angústia de não receber um feedback da mensagem enviada a pouco pelo WhatsApp (ansiedade), a constante angústia de não ter recebido um like (talvez insuficiente) da recente postagem no Facebook (depressão), ..., enfim, tais inquietudes parecem estar assumindo a roupagem de “pulsões não satisfeitas”. Existem incontáveis pacientes prostrados em divãs mundo afora, mas como seria bom acomodar os hábitos, costumes e as culturas no lugar deles (ou antes deles).


[1] KLEINMAN, P. Tudo o que você precisa saber sobre psicologia.: um livro prático sobre o estudo da mente humana. São Paulo: Gente, 2015.

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