segunda-feira, 28 de junho de 2021

Transtorno de Pânico

 

 


    Traçando um perfil

    Vamos, inicialmente, traçar um quadro emocional instável de um paciente X. Quando o paciente X dirigiu-se ao consultório pela primeira vez, a sua vida estava mais ou menos desestruturada. No ano anterior, sem qualquer aviso, ele havia começado a experimentar sintomas de ansiedade tão graves que a sua vida estava, literalmente, paralisada. O Sr. X estava afastado do trabalho por motivos de saúde. Havia desistido de quase todas as suas atividades sociais e recreacionais. Boa parte do seu tempo, sentiase tão aterrorizado que nem saía de casa. Sua vida familiar havia se tornado um pesadelo estressante. Ele passava quase todo seu tempo compulsivamente buscando em si próprio os sintomas físicos gerados por sua ansiedade: tontura, fôlego reduzido, aumento dos batimentos cardíacos, desorientação. Quando os sintomas chegavam (e quase toda a atividade provocava o surgimento deles), Sr. X ficava incapacitado. Como resultado disso, mergulhou em uma profunda depressão; sentiase desesperado sobre seu futuro e procurou um Psicanalista como um último recurso. Tudo começou em um dia em que ele estava se exercitando na esteira da academia. O ar condicionado estava quebrado e ele estava suando profusamente, mas mantevese na esteira. Quando parou, sentiu uma certa falta de ar, como se estivesse sufocado. Começou a respirar mais rapidamente, tentando buscar mais ar, contudo, não conseguia. Além disso, o esforço fez com que ficasse tonto. Quando se sentou, percebeu que seu coração batia fortemente e pensou: “Será que estou tendo um ataque cardíaco? ”. Assustado, pediu que alguém o levasse até o hospital. Lá, enquanto esperava o médico chegar, sua respiração voltou ao normal. O médico examinouo e disse que não havia nada de errado. Enfim, ele foi para casa. Todavia, algo havia começado a acontecer, um tanto quanto perturbador. Ele começou a perder o fôlego com frequência. Toda vez que isso acontecia, ficava tonto ou desmaiava. Essa ansiedade fez com que seus batimentos cardíacos subissem, algo que o deixava ainda mais preocupado. O Sr. X parou de frequentar a academia, pois os exercícios físicos pareciam provocar tal condição. Parou de correr e de nadar, mas seus sintomas persistiram nos níveis mais baixos de atividade, até que o simples fato de caminhar os provocava. Depois de algum tempo, descobriu que estava experimentando os mesmos sintomas quando entrava em um elevador ou quando dirigia – ou diante de qualquer coisa que fosse minimamente estressante. Seu trabalho situava-se num prédio em um andar alto, e ele parou de usar o elevador, mas subir pelas escadas também estava fora de questão. Foi aí que parou de trabalhar. No final, ficava ansioso só de sair de casa, o que já não fazia mais. Sua vida ficou cada vez mais limitada. Seus médicos não encontravam qualquer anormalidade na sua condição física, mas o Sr. X percebia que era cada vez mais difícil fazer o que sempre fizera, ter uma vida normal. A situação chegou a tal ponto que ele começou a entrar em depressão.

    O que é Transtorno de Pânico?

    O que estava acontecendo ao Sr. X pode parecer estranho, mas não é incomum. Muitas pessoas passam pela mesma espécie de sintomas: são típicos do Ataque de Pânico. O Ataque de Pânico é o surgimento de ansiedade acerca do que acontece em seu corpo; pode ser definido como medo de suas próprias sensações. As pessoas que passam por um ataque de pânico podem sentir falta de ar, fortes batimentos cardíacos, zunidos, calafrios ou calores, sufocamento, engasgamento, suor, perda do controle sobre a bexiga, náusea, dores no peito e, frequentemente associada, uma sensação de ruína impeditiva. As pessoas que sofrem com isso acreditam que estejam tendo um ataque cardíaco ou colapso nervoso, ou ainda, que estejam ficando loucas. É claro que é possível ter esses sintomas por razões puramente fisiológicas. É por isso que é recomendável que as pessoas que têm essas respostas físicas passem por um exame médico para descartar a possibilidade de uma condição grave de saúde. Tais sintomas também podem ser encontrados em coisas simples como uso de cafeína ou álcool. Mas se esses fatores puderem ser eliminados como causas e os exames clínicos não comprovarem algo anormal, e os sintomas ainda persistirem, é provável que o paciente esteja sofrendo de um padrão clássico De Ataque de Pânico. O surgimento de um ataque está frequentemente ligado aos medos de encontrar determinadas situações no mundo real. Esses medos são muitas vezes chamados coletivamente de Agorafobia, palavra grega que significa, literalmente, “medo de praça pública”. Alguns ativadores típicos da Agorafobia são o esforço vigoroso, estar sozinho, dirigir por sobre pontes ou em túneis, multidões, lugares altos, águas profundas, trens, aviões, áreas abertas ou elevadores. Todas essas situações envolvem o tipo de estresse associado ao perigo – ou o que teria sido perigoso em um ambiente primitivo.

    Portanto, estão claramente ligados à nossa programação evolutiva. Entretanto, o fator a ser acrescentado é o de que a Agorafobia geralmente envolve não apenas o medo de certos perigos, mas o medo de que as reações da mente e do corpo a esses perigos fugirão do controle: de que a pessoa terá um ataque cardíaco ou um colapso, de que perderá a sanidade ou algo semelhante, e até mesmo de que ocorrerá o óbito. O indicador central é o medo de suas próprias sensações e emoções (algumas pessoas têm Ataque de Pânico, mas não têm medo de situações específicas, isto é, não tem “Agorafobia”). Se alguém tem esses sintomas de Agorafobia regularmente, especialmente se as situações levam, de maneira consistente, a Ataques de Pânico, é possível que tenha desenvolvido o Transtorno de Pânico, que é um transtorno em que o medo de um Ataque de Pânico se torna mais ou menos constante. O critério não é necessariamente se ou com que frequência os Ataques de Pânico surgem, mas se é desenvolvido ou não um medo permanente de tais ataques. O Transtorno de Pânico e a Agorafobia estão geralmente associados. Os medos agorafóbicos podem atacar em qualquer lugar e a qualquer momento, embora pareçam mais comuns sob determinadas condições. Cerca de 60% dos Ataques de Pânico se devem à Hiperventilação. Ao se respirar rapidamente (Hiperventilação), é inalado muito mais oxigênio do que o necessário e a quantidade de dióxido de carbono inalado é em quantidade insuficiente. Assim, o sangue contém oxigênio em demasia (Hipocapnia). Isso faz com que as artérias e vasos sanguíneos se contraiam, bloqueando o fluxo de oxigênio ao cérebro, o que leva a sensações de tontura e sufocação. Os Ataques de Pânico muitas vezes ocorrem no meio da noite, possivelmente por causa da Apneia do Sono ou de mudanças no dióxido de carbono. Esses ataques noturnos de pânico frequentemente acordam a pessoa, deixandoa em estado de confusão e agitação. A maior parte das pessoas consegue voltar a dormir quando percebe o que aconteceu. Contudo, quem sofre de Ataque de Pânico pode ficar demasiadamente aterrorizado e não voltar a dormir – sente que esses ataques noturnos são um sinal de catástrofe iminente. Muitos pacientes acreditam que seus sintomas de pânico são sinais de um Ataque de Pânico; toda noite vão dormir sem a certeza de que acordarão pela manhã. Às vezes, as situações que acionam os Ataques de Pânico podem ser bastante incomuns. Parece absurdo, mas alguém pode ter pânico ativado pela presença de nuvens no céu. Como? À medida que o sol é encoberto, o paciente experimenta uma sensação avassaladora de maus pressentimentos: medo de sair em um dia de sol porque as nuvens poderiam aparecer. Isso pode levar a um diagnóstico equivocado de psicose. Mas longe disso”. Trata-se apenas de um Transtorno de Pânico com Agorafobia.

    O Transtorno de Pânico é tratável?

    A condição é passível de tratamento e o Transtorno de Pânico poderá melhorar substancialmente em dois meses, a partir do uso de uma Terapia Cognitivo-Comportamental estruturada. A maior parte das pessoas tratados dessa maneira mantém sua condição de melhora, expressando decréscimo tanto na ansiedade quanto na depressão. É muito importante salientar que, como todos os transtornos da ansiedade não tratados, o Transtorno de Pânico e a Agorafobia podem resultar em uma combinação debilitadora de ansiedade e depressão. Não é incomum que o problema persista durante anos, talvez décadas. Algumas ficam tão incapacitadas que não conseguem mais trabalhar. Outras são incapazes de ter vida social ou de viajar – em casos extremos, podem até não sair de casa. Às vezes, o medo de doenças físicas se torna uma profecia que acaba por se cumprir: as pessoas com Transtorno de Pânico são mais propensas a desenvolver doenças cardiovasculares, aneurismas, embolia pulmonar ou derrames cerebrais. Também são mais aptas a ficarem deprimidas e a tentarem o suicídio. Se não for tratado, o Transtorno de Pânico pode ser uma condição devastadora.

 

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