segunda-feira, 14 de junho de 2021

Atenção e Consciência


 A natureza da atenção e da consciência

             A atenção envolve processos conscientes e inconscientes. As atividades do subconsciente, como o próprio termo expressa, não fazem parte da camada da consciência, portanto, difíceis de perceber e estudar. É significativo saber que a mente humana possui limitação para armazenar informações, a qual demarca o extremo que a concentração pode chegar. A compensação ou equilíbrio de estímulos externos e internos é que possibilitam a concentração apenas naquilo que interessa. A pré-consciência, por sua vez, se constitui a partir dos sentimentos de percepção consciente e dos conteúdos da consciência propriamente dito, sendo que uma parcela significativa desta poderá estar sob domínio do processo de atenção. DiGirolamo e Griffin (2003) citados por Sternberg (2016) afirmam que tanto a atenção como a consciência compõem dois conjuntos sobrepostos, entretanto, parciais. A Consciência detém informações que estão em um nível mais profundo da mente, isto é, não fazem parte da consciência momentaneamente. Porém, todas elas podem ser resgatadas, a qualquer momento, quando necessárias para o desenvolvimento de processos cognitivos.

 

            Processos Controlados versus Processos Automáticos

           Os Processos Automáticos, como a própria nomenclatura sugere, não exigem domínio consciente, todavia, curiosamente, são executados conscientemente. Existem Processos Automáticos que ocorrem seguidamente de forma simultânea, neste caso, denominados de Processos Paralelos. Os Processos Controlados se configuram conscientemente, mas de forma sequencial, e por esta razão demandam mais tempo para o processamento das informações. Segundo Posner e Snyder (1975) citados por Sternberg (2016), os Processos Automáticos são singularizados por três características: são ocultos da consciência; não são propositais; e, requerem e empregam parcos recursos da atenção. Os processos automáticos e controlados parecem estar em uma sequência ininterrupta, uma vez que grande parte deles inicia controladamente e encerra-se automaticamente. É possível concluir que os aprendizados recentes são inicialmente controlados, transformando-se em automáticos na medida em que se tornam rotineiros, repetitivos. E, por serem habituais tornam-se mais facilmente acessíveis ao controle consciente. A mudança de controlado para automático é conhecida como procedimentalização. O processo de tornar automático qualquer procedimento pode ser compreendido como a conjugação de vários procedimentos (passo-a-passo) em um “único”. O termo “único” deve ser interpretado como a execução de um grupo de etapas com a utilização mínima ou nula de recursos cognitivos, ou seja, não requer até mesmo um grau mínimo de atenção. Uma questão importante e indispensável no raciocínio sobre automatização diz respeito ao fato de que os processos automatizados ao exigirem o mínimo de esforço e controle da consciência, possibilitam o acúmulo de ‘múltiplos comportamentos automáticos’. No entanto, a biologia do sistema nervoso comprova que é humanamente impossível ou deveras dificultoso controlar vários processos automáticos que exijam estímulos acentuados.

            O ser humano é dotado de características biológicas que propiciam o aprendizado e a execução de processos controlados e automáticos. Mas, este aprendizado, esta captação de informações acontece por um princípio básico: a detecção de sinais. Os sinais podem ser importantes ou inexpressivos, alarmantes ou tranquilizantes, enfim, é necessário que ocorra uma seleção dentre um conjunto de sinalizações variadas, aqueles que precisam ser levados em conta de imediato ou futuramente. O estado de alerta para a detecção de sinais é importante porque eles são acompanhados de ‘fatores de distração’, os quais podem conduzir à tomada de decisão equívoca.

 

            A Natureza da Detecção de Sinais

           A Teoria da Detecção de Sinais (TDS) conceitua que o processo de perceber um sinal depende da existência ou inexistência, e de constatar ou desconhecer um possível estímulo. Neste ínterim podem acontecer os acertos de detecção, as detecções falsas, as falhas de detecção, e as rejeições de detecção (neste caso, ocorre o acerto em perceber a inexistência de um sinal). A TDS envolve a atenção, percepção e memória. A percepção de qualquer informação (sinal) presente no ambiente se concretiza na mesma proporção do estado de alerta do indivíduo, ou seja, quanto mais atento ele estiver, mais propenso a identificar sinais. A capacidade de distinguir sinais de pouca intensidade está estritamente ligada à capacidade perceptual. E, a amplitude da memória ou o repertório de informações armazenadas (memorizadas) facilita a identificação de sinais, mesmo fracos, uma vez que surge a lembrança de algo anteriormente vivenciado. Contudo, permanecer vigilante parece ser fator indispensável para a detecção de sinais. A vigilância é o estado de alerta que uma pessoa mantém prolongadamente durante a procura de algum ‘estímulo-alvo’ do seu interesse. Um sentido que exerce forte influência sobre a vigilância é a expectativa. Cientificamente, a presença da possibilidade diante da vigilância estimula o estado de alerta e a procura por sinais.

 

            Teorias de Atenção Seletiva do Filtro e do Gargalo

           Os tipos de Atenção Seletiva podem variar segundo alguns modelos propostos: - O Modelo de Broadbent teoriza que o ‘nível sensorial’ executa uma filtragem na informação logo após tê-la recebido. Nesta atividade vários canais de entrada de informação sensorial serão direcionados à atenção. Desta feita, o processamento da percepção será executado somente sobre o conteúdo que transcendeu o filtro da atenção. Esta teoria sustenta que um sinal pode ser percebido por um ouvido que não está atento, desde que não demande níveis de percepção superior. - O Modelo de Moray adversa o de Broadbent na medida em que a teoria conceitua que as mensagens com muito destaque ultrapassam os mecanismos dedicados à filtragem. Portanto, os filtros dedicados a atenção seletiva não conseguem (naturalmente) interferir ou bloquear determinados sinais. - O Modelo de Atenuação de Treisman esclarece que enquanto um ouvido dedica atenção para uma mensagem de interesse, o outro pode ignorar uma mensagem que não interessa. Entretanto, se as mensagens forem deslocadas, simultaneamente, de um ouvido para o outro, a tendência natural é de que a mensagem que estava sendo ignorada passe a ser priorizada, e a mensagem que estava sendo percebida passe a ser parcialmente ignorada. Outra questão curiosa é o fato de que mensagens idênticas, transmitidas paralelamente aos dois ouvidos, com timing inicial de emissão diferente, são percebidas como iguais. – O Modelo do Filtro Posterior de Deutsch e Deutsch parece se contrastar aos demais conceitos, por uma particularidade, o filtro que bloqueia os sinais entra em atividade após o processamento da percepção. Neste fluxo a filtragem ocorre imediatamente após qualquer análise perceptiva ou conceitual. Assim, ocorrendo, o ouvido desatento é capaz de perceber todas as informações que chegam até ele. Estas e as teorias anteriormente elencadas possuem algo em comum: a existência de um ‘gargalo de atenção’, pelo qual apenas a informação filtrada irá passar, todavia, diferem sobre o local deste ‘gargalo’. – A Teoria Multifocal apresenta a ideia de que a atenção é arqueável. Diante da teórica flexibilidade a seleção da informação pode acontecer em qualquer localização durante o processo de seletividade. - A Síntese de Neisser propõe duas formas de processamento que norteiam a atenção: o Processo Pré-atencional e Processo Atencional. O primeiro, considerado automático, age com mais rapidez e tem por objetivo identificar somente as peculiaridades físicas da informação que estão em foco, não considerando qualquer sentido ou relação nela. O segundo, considerado controlado, entra em execução logo após. Por ser um processo controlado ele consome mais recursos de tempo e atenção.

 

            Teorias de Atenção Seletiva Baseados em Recursos de Atenção

           A Teoria de Recursos de Atenção explicam a maneira como a mente consegue administrar ou controlar mais de uma atividade que exija tempo simultaneamente. A teoria dita que o ser humano dispõe de frações fixas de atenção disponíveis para uso conforme a necessidade. Esta teoria foi rejeitada por ser considerada ampla, vaga e excessivamente simplista para explicar como ocorrem os processos perceptivos. O princípio declara que determinadas faculdades são específicas para determinadas atividades. Um exemplo, segundo Sternberg, é ouvir música conjuntamente ao ato de redigir. Conforme a hipótese, um conjunto de duas tarefas facilmente realizáveis. Nesta exemplificação torna-se cristalino que o recurso utilizado para escutar a melodia é distinto do necessário para escrever. Seguindo o mesmo raciocínio, seria diferente do ato de prestar atenção ao noticiário e redigir uma carta. Neste contexto são requeridas habilidades similares, as verbais, e por este motivo, dificultosas de executar.

            Sobre a Atenção Seletiva

            Papel das Variáveis de Tarefa, Situação e Pessoa

           Determinados estados físicos ou mentais podem exercer forte influência sobre a atenção. Nesta seção serão abordadas algumas delas. A excitação proveniente do cansaço, da tontura ou da drogadição podem dissipar, reduzir ou até mesmo intensificar a atenção. O interesse sobre a informação também influencia a atenção (a distração é acompanhada da falta de atenção). A natureza da atividade quando dificultosa, complexa ou inédita demanda mais atenção, ao contrário da fácil, simplória ou familiar. A quantidade de prática (a experiência propriamente dita) estará diretamente relacionada aos recursos necessários de atenção para a efetividade da atividade, ou seja, quanto mais acentuadas a prática e habilidade, mais atenção. A etapa do processamento que a atenção é requerida. O processamento perceptual poderá exigir mais atenção antecipadamente, como no decorrer ou posteriormente. Em síntese, é possível compreender que muitos processos de atenção intercorrem fora da consciência e outros, pelo contrário, sob o domínio do consciente. A cientificidade em torno da psicologia cognitiva estuda fenômenos como a ‘vigilância, busca, atenção seletiva e atenção dividida’ a fim de buscar entender que alguns ‘mecanismos de filtragem’ delineiam determinadas dimensões da atenção.

           

            O Efeito Stroop

           Os estudos sobre a atenção buscam respostas nos processos auditivos e visuais. O Efeito Stroop (Johm Ridley Stroop, 1935) comprova o quão é psicologicamente dificultoso dedicar atenção para uma tintura sem deixar de prestar atenção a nomenclatura nela impressa. Ao que tudo indica a leitura é um processo automático que não se encontra sob domínio do consciente. Isto significa que a cor da palavra se manifesta em uma via cortical e o letramento outra, sendo que a primeira exerce influência na segunda. Este confronto de forças corticais ocasiona um tempo de resposta mais delongado porque a mente demora a decidir entre expressar o nome ou ler o nome da cor.

 

            Atenção Dividida

         O reconhecimento simultâneo de variadas particularidades durante a identificação de sinais é coordenado pelo Sistema de Atenção, muitas vezes executando multitarefas concomitantes. A Atenção dividida, em síntese, é a habilidade humana de desenvolver respostas simultâneas para atividades múltiplas, e tal capacidade exterioriza a impressão de que tudo está sendo realizado ao mesmo tempo porque os recursos de atenção são compartilhados. É relevante enfatizar que as atividades controladas quando realizadas simultaneamente são mais dificultosas, porém, quanto mais acentuada a prática, mais tarefas podem ser acumuladas.

 

            Consciência dos Processos Mentais Complexos

           A ciência crê que o ser humano não detém acesso aos mecanismos mentais mais simplificados. Contudo, existe uma questão: até que ponto ele acessa os processos mentais de maior complexidade? Parece que não existe uma unanimidade com relação a este questionamento porque alguns Psicólogos Cognitivos acreditam que o ser humano detém um bom acesso aos processos mentais mais complexos, e outros creem que não. A teoria dita que a maioria das pessoas acredita que está plenamente consciente sobre os processos mentais e decisórios, todavia, esta convicção pode ilusória ou vaga. Uma abordagem importante neste contexto diz respeito à Cegueira à Mudança. A biologia dos seres vivos comporta uma característica singular no que diz respeito à sobrevivência e adaptatividade: identificar ameaças. Contudo, O’Regan (2003) e Simons (2000) citados por Sternberg (2016) mencionam que, mesmo diante desta capacidade conatural, o ser humano sofre de Cegueira à Mudança, que é a ausência da capacidade de perceber alterações em cenários e objetos que se encontram no seu entorno. O curioso desta incapacidade é que fatores culturais podem exercer influência sobre o grau de percepção de mudanças. Estudos comprovaram que norte-americanos, por exemplo, possuem a capacidade perceptual de mudanças das áreas periféricas inferior a das áreas centrais. Em contrapartida, nos orientais a capacidade de percepção central e periférica é oposta, ou seja, maior capacidade de percepção das áreas periféricas e menor das centrais.

 

 

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