O misticismo pode ser reconhecido como uma prática de cunho religioso - como a meditação, a contemplação e até mesmo a prece-, visando sempre uma comunhão do espírito com o princípio fundamental de todo ser. Mas é importante não confundir misticismo com religião. A saber, a religião evoca algum conjunto de crenças, dogmas, costumes e ritos característicos de alguma comunidade que reverencia um mesmo deus. As religiões, na maioria das vezes, comportam um fundador, escrituras sagradas e edificações para o culto coletivo. Elas são organizadas e hierarquizadas de forma a difundir a fé e arregimentar simpatizantes. Muitos místicos são oriundos da religião, todavia, isto é não é uma regra invariável. Afinal, existem místicos que não são religiosos, e religiosos que não são místicos.
Na prática, qualquer experiência mística jamais dependerá de algum tipo de organização, hierarquia, templo ou escrito sagrado porque se trata de um “posicionamento interior”, com o intuito da percepção imediata do divino. Por isso, ser um místico significa vivenciar, acima de tudo, a realidade divina dentro de si. Essa experimentação é reconhecida como algo transformador, uma vez que a união com o divino transforma o homem material em homem espiritual. Esta “transformação” não requer, em momento algum, a abdicação do mundo, pelo contrário, elucida ao místico, a possibilidade de libertação do apego ao material, dispensando assim, o regozijo pelas tentações do prazer ilusório e momentâneo.
O estado de bem-aventurança que o misticismo propicia pode ser
reconhecido como as virtudes da compaixão e generosidade, típicos de
todo ser humano altruísta. Este estado de perfeita e completa felicidade
aproximam o místico dos seus semelhantes ao invés de isolá-lo. Mas, a
aproximação ou não repúdio pelo diferente, por assim dizer, é uma
escolha particular porque muitos optam pelo isolamento a fim de buscar
um estado de consciência superior.
Gurdjieff - filósofo e mestre espiritual-, denominou o misticismo de o
“4º caminho”. Ele dizia que era o caminho daqueles que queriam
permanecer neste mundo, mas não desejavam pertencer ao mundo. Nesta
escolha o místico buscará encontrar a auto-realização e a compreensão do
universo e da natureza, contudo, sem renunciar aos seus afazeres do
dia-a-dia
A opção pelo misticismo não requer, necessariamente, a união com um
Deus pessoal conforme a concepção judaico-cristã, ao contrário das
tradições orientais, onde se fala da união com o divino através da união
com o todo ou o absoluto. Daí provém a preferência de inúmeras escolas
místicas em substituir o termo Deus por Cósmico, que significa uma ordem universal viva, regente de tudo que existe.
Trata-se de uma questão, essencialmente de preferência, que não
interfere no culto da espiritualidade. Resumidamente, um místico será
sempre um ser que se harmoniza com uma ordem superior (com o Uno,
Absoluto, Tao...) sem qualquer necessidade, para tal, da intermediação
de um sacerdote ou uma instituição religiosa. O conhecimento que todo
místico procura está longe de ser intelectual ou doutrinário, mas sim,
intuitivo e experimental. Trata-se da busca por sua essência (divina)
interior com a qual extinguirá toda e qualquer impureza do seu “eu
inferior”.
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