sábado, 23 de dezembro de 2023

COISAS ESTRANHAS ACREDITADAS POR PESSOAS INTELIGENTES

 

    Existe alguma  análise e explanação, porém, vaga do que chamamos vagamente de “coisas estranhas”. Infelizmente, não existe uma definição formal de coisa estranha com a qual a maioria das pessoas concorde, porque depende muito da afirmação particular que está sendo feita, do contexto do conhecimento de base que a cerca e do indivíduo ou comunidade que a profere. A crença estranha de uma pessoa pode ser a teoria normal de outra, e o que é uma crença estranha numa certa época pode virar algo normal tempos depois. Pedras caindo do céu foram durante um tempo a crença de alguns ingleses malucos. Contudo, hoje, a teoria dos meteoritos é plenamente aceita. No jargão do filósofo da ciência Thomas Kuhn (1962, 1977), ideias revolucionárias que são inicialmente anátemas em relação ao paradigma aceito, podem, com o passar dos tempos, tornarem-se uma ciência normal, na medida em que o campo de estudo passa por uma mudança de paradigma.

    Não obstante, é possível formular um esboço geral do que poderia constituir uma coisa estranha ao considerarmos exemplos específicos. Na maior parte dos casos, o que se entende por uma “coisa estranha” é: 1º uma afirmação não aceita pela maioria das pessoas naquele campo de estudo em particular; 2º uma afirmação que é não só logicamente impossível como muito improvável; e/ou 3º uma afirmação para a qual a evidência é largamente anedótica e não corroborada. A maioria dos teólogos reconhece que a existência de Deus não pode ser provada em qualquer sentido específico e, portanto, a meta de Dembski e Tipler de usar a ciência para provar Deus é não só inaceitável para a maioria dos membros da sua comunidade de conhecimento como é também não corroborada, por ser logicamente impossível.

    A saber, William Albert "Bill" Dembski (18-07-1960 - ) é um matemático, filósofo e teólogo americano. Foi um proponente americano da pseudociência do design inteligente (DI) e um oponente da teoria da evolução através da seleção natural. Autor de vários livros sobre o design inteligente, teologia e matemática, em 2016 Dembski alega ter abandonado o design inteligente e renunciado a todas as suas "associações formais com a comunidade do DI, incluindo a (sua) relação de 20 anos com o Discovery Institute. Frank Jennings Tipler (01-02-1947 - ) é um físico matemático e cosmólogo norte-americano, tendo um compromisso conjunto nos Departamentos de Matemática e Física da Universidade de Tulane.

    A fusão a frio, para escolher outro exemplo, não é aceita pela quase totalidade dos físicos e químicos. Ela é altamente improvável e os seus resultados positivos não foram confirmados. No entanto, há um quantidade considerável de pessoas inteligentes (Arthur C. Clarke, escritor e inventor britânico, é o mais conhecido) que alimentam esperanças para a fusão a frio no futuro. “Pessoas inteligentes” é outro termo que coloca problemas similares para uma definição operacional, mas nesse caso pelo menos a tarefa é auxiliada por critérios de realização com os quais a maioria concorda, e a própria pesquisa científica já mostra e requer um nível mínimo de inteligência. Graus acadêmicos (especialmente o Ph.D.), cargos universitários (especialmente em instituições reconhecidas e de prestígio), publicações que são revistas por pares e coisas como essas permitem concordar com o fato de que, embora se possa discutir a respeito de quão inteligentes algumas dessas pessoas são, o problema de haver gente inteligente acreditando em coisas estranhas é um problema genuíno, que pode ser quantificado por meio de dados mensuráveis.

    Um pressuposto do movimento cético – na verdade, elevado a uma máxima – é que a inteligência e a instrução servem como uma profilaxia impenetrável contra as bobagens que supostamente as massas não inteligentes e incultas engolem com credulidade. A Skeptics Society (organização sem fins lucrativos devota em promover ceticismo científico e resistir à propagação da pseudociência, superstição e das crenças irracionais, fundada por Michael Shermer -  psicólogo, escritor e historiador da ciência estadunidense) investiu consideráveis recursos em material educacional distribuído em escolas e na mídia, imaginando que isso iria fazer alguma diferença na luta contra a pseudociência e a superstição. Esses esforços sem dúvida são úteis, particularmente para aqueles que, embora tenham conhecimento dos fenômenos estudados, não ouviram nenhuma explanação científica deles. Mas será que a elite cognitiva está protegida das besteiras que passam por coisas com sentido nas diversas culturas? As baboseiras são alimento apenas dos tolos? A resposta é “não”. E a questão é: por quê?

    Para aqueles que se empenham em refutar as bobagens e explicar o inexplicado, paira uma questão: Por que pessoas inteligentes acreditam em coisas estranhas? A resposta pode parecer um pouco paradoxal de início: pessoas inteligentes acreditam em coisas estranhas porque têm capacidade para defender crenças às quais chegaram por razões não inteligentes. Ou seja, a maioria das pessoas constitui as suas crenças por uma variedade de razões que têm pouco a ver com evidência empírica e raciocínio lógico (que, presumivelmente, pessoas inteligentes sabem empregar melhor). Ao contrário, variáveis como predisposições genéticas, predileções parentais, influência de irmãos, pressão dos pares, experiências educacionais e impressões de vida moldam as preferências da personalidade e as inclinações emocionais que, em conjunção com numerosas influências sociais e culturais, levam a fazer certas escolhas de crenças.

    É raro que qualquer ser humano se disponha a sentar diante de uma mesa cheia de fatos para avaliar os seus prós e contras e escolher a crença mais lógica e racional, com independência em relação àquilo em que acredita previamente. Ao contrário, os fatos do mundo surgem por intermédio dos “filtros coloridos” de teorias, hipóteses, pressentimentos, propensões e preconceitos acumulados no decorrer da vida. Então selecionamos dentre a massa de dados aquilo que confirme mais as coisas em que já se acredita, e são ignorados ou racionalizados o que não vem confirmá-las. Todos fazem isso, é claro, mas pessoas inteligentes fazem melhor, seja por talento ou por estarem treinadas. Algumas crenças realmente são mais lógicas, racionais e apoiadas em “evidências” do que outras.

    Mas o que valida uma crenças e como ela aferra tantas pessoas mesmo diante da ausência de evidências como de evidências contrárias?  Em 1620, Francis Bacon (importante filósofo inglês dos séculos XVI e XVII. Foi também político e estadista e ensaísta. É considerado um dos fundadores da Ciência Moderna) ofereceu a sua própria “Resposta Fácil à Pergunta Difícil”: O entendimento humano, depois que adota uma opinião (quer seja ela tolerada ou agradável), leva todas as demais coisas a apoiarem e concordarem com ela. E, mesmo que haja do outro lado um número e um peso maior de coisas e instâncias, ele não obstante negligencia e despreza tudo isso, ou então o coloca de lado e rejeita, por meio de alguma distinção. Faz isso para que, por meio dessa grande e perniciosa predeterminação, a autoridade das suas conclusões anteriores possa ficar inviolada. E é esse o caminho de todas as superstições, em astrologia, sonhos, prognósticos, adivinhações ou outras coisas do tipo. Assim, os homens, encontrando deleite nessas futilidades, percebem os eventos quando os satisfazem, mas, quando isso não ocorre, o que é mais frequente, os negligenciam e deixam de levá-los em conta. Enfim, como diz um antigo ditado: gosto não se discute! Neste caso, além de gosto... crença, futebol, política, hábito e ...fica por conta de cada um.

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