quinta-feira, 19 de junho de 2014

ADAPTAÇÃO DE TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO AO ENSINO INCLUSIVO

Por Heitor Jorge Lau
Empresário e Educador
Mestre em Educação
Pós-Graduado em Gestão de Recursos Humanos
Bacharel em Comunicação Social – Relações Públicas
Analista de Sistemas da Informação


Capítulo 3 replicado da Dissertação de Mestrado

ADAPTAÇÃO DE TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO AO ENSINO INCLUSIVO


        O avanço das tecnologias da informação fez com que as fronteiras e os limites da educação fossem reavaliados devido aos novos meios de comunicação, em particular, a internet. Com este advento o sistema de educação foi impelido a assumir uma nova missão dos tempos: orientar e contribuir para o desenvolvimento de cada aprendiz face às novas tecnologias da informação. Nesta ótica, fica difícil admitir um ambiente de aprendizado nos moldes da educação bancária, no qual o conhecimento é constituído somente através da lousa. Surge neste cenário desafiador um novo enfoque: a adaptação de tecnologias da informação ao ensino e vice-versa. A inserção desta nova perspectiva nas atividades curriculares invoca o emprego de técnicas de ensino inovadoras que inclui o emprego de tecnologias computacionais e redes de acesso a WEB. Amora et al. (2011) salienta que a tecnologia computacional no ambiente escolar tornou-se importante e até mesmo indispensável na medida em que se tornou possível a adaptação de conteúdos a uma realidade tecnológica latente. Mas também, não menos relevante, propiciou a redução da exclusão digital, fato notório em algumas regiões do país. Somente é possível discutir e responder ao questionamento da importância da tecnologia em sala de aula, a partir das seguintes indagações: Como as tecnologias em sala de aula podem contribuir para acelerar o aprendizado? Como elas podem proporcionar um equilíbrio entre o processo ensino-aprendizagem ‘convencional’ e ‘não-convencional’? Como elas podem, nesta delimitação de estudo, promover o ensino inclusivo? Seriam pertinentes, ainda, dois questionamentos: O professor está preparado para alçar mão das tecnologias? A escola possui recursos para ingressar na era do ensino virtual? Contudo, tais indagações não podem determinar a postergação do uso das tecnologias de informação e comunicação. O professorado tem a obrigação de buscar conhecimentos e soluções para tal. Os avanços das tecnologias da informação e o dinamismo no qual elas se redesenham exige dos profissionais da educação habilidade para reciclar conhecimentos e perspicácia para colocá-los em prática em tempo hábil.


            Lévy (1999) declara que:

Aprendizagens permanentes e personalizadas através de navegação, orientação de estudantes em um espaço do saber flutuante e destotalizado, aprendizagens cooperativas, inteligência coletiva no centro de comunidades virtuais, desregulamentação parcial dos modos de reconhecimento dos saberes, gerenciamento dinâmico das competências em tempo real ... esses processos sociais atualizam a nova relação com o saber.


            Adotar uma estratégia educacional mais arrojada, diferente de qualquer metodologia tradicional de ensino-aprendizagem, é o primeiro passo de uma transição rumo a sociedade da informação. Alçar mão de uma didática totalmente informatizada demanda método inovador capaz de estabelecer relações entre o desenvolvimento de conhecimentos e os preceitos educacionais. É necessário o vínculo entre método, objetivos e preceitos. Contudo, inovar uma metodologia de ensino sem a presença de conceitos compatíveis com as novas interfaces computacionais é tentativa vaga. O êxito do uso da tecnologia e o sucesso da apropriação dos saberes constituídos dependem essencialmente da relação que irá se estabelecer entre o aluno, conteúdo, recurso tecnológico, professor e a interação social do grupo, principalmente.


            Lévy (1999) afirma que:

O melhor uso que possa ser feito dos instrumentos da comunicação com suporte digital é, ..., a conjugação eficaz das inteligências e das imaginações humanas. A inteligência coletiva e uma inteligência variada, distribuída por todos os lugares, que engendra uma mobilização otimizada das competências.


            Quanto mais acentuada estas relações, maiores são as possibilidades de construção de conhecimento. Sem esta perspectiva a importância da utilização das tecnologias da informação em sala de aula seria mínima e a aprendizagem seria similar ou inferior a qualquer situação didática sem o recurso da informática. A extensão virtual no contexto educacional propicia a dilatação da criação de situações didáticas nas quais os ‘interlocutores cibernéticos’ comunicam-se verbal e não verbalmente, simultaneamente. No que diz respeito ao acesso de conteúdos e interação on-line, a sociabilização torna-se ainda mais relevante, específica e producente, redesenha todas as noções espaciais e temporais, redefine os conceitos instituídos de didáticas situacionais. Sob uma ótica empírica, o contexto escolar apresenta, na maior parte das vezes, eventos interativos computacionais sem a interlocução humana, nos quais um caráter unidirecional é impingido. Na menor das hipóteses, ainda que não coexistam interlocutores humanos, mais de um no ambiente de aprendizado, o aluno precisa receber estímulos cognitivos significantes do meio virtual. Propor um recurso pedagógico adaptado a sala de aula por intermédio de uma tecnologia da informação não precisa ser enquadrada como tarefa complexa, entretanto, a pedagogia deve ser constituída de objetividade plena.

            Conforme Lévy (1999):

O uso crescente das tecnologias digitais e das redes de comunicação interativa acompanha e amplifica uma profunda mutação na relação com o saber ... . Ao prolongar determinadas capacidades cognitivas humanas (memória, imaginação, percepção), as tecnologias intelectuais com suporte digital redefinem seu alcance, seu significado, e algumas vezes até mesmo a sua natureza.


            Com a adaptação de tecnologias da informação ao ensino inclusivo crescem as chances da experienciação, da solitude do pensamento reflexivo, do debate coletivo, e mais importante, da sociabilização de saberes, sensações e emoções. Este conjunto de possibilidades oriundos do plano psicológico não precisa ser visualizado como uma dimensão antagônica a extensão tecnológica. A complexidade está naturalmente intrínseca no processo de desenvolvimento cognitivo humano e não nos métodos e conteúdos adaptados. De acordo com Pais (2010), “se todo conceito é formado por conceitos anteriores, a síntese resultante da criatividade caracteriza-se como a própria essência da complexidade.” Toda a aprendizagem possui conexão com o desenvolvimento de algum conceito, no qual implicam combinações, rupturas e remoção de barreiras para a construção do pleno conhecimento, seja ele de caráter singular ou social. A experienciação cognitiva significativa apropria um inédito elemento se confrontado com os saberes passados. Portanto, é possível pensar que a criatividade abre caminho para a verdadeira aprendizagem significativa, deveras compatível com a nova escola e sociedade da informação.


            Kenski (2012) verbaliza que:

As redes de comunicação trazem novas e diferenciadas possibilidades para que as pessoas possam se relacionar com os conhecimentos e aprender. Já não se trata apenas de um novo recurso a ser incorporado à sala de aula, mas de uma verdadeira transformação, que transcende até mesmo os espaços físicos em que ocorre a educação. A dinâmica e a infinita capacidade de estruturação das redes colocam todos os participantes de um momento educacional em conexão, aprendendo juntos, discutindo em igualdade de condições, e isso é revolucionário.


            A educação contém em si o principio da dualidade em todas as suas relações. É pertinente resgatar o princípio de Pascal, citado por Mores (2002), que dizia que todas as coisas são causas e ocasionadoras, ajudadas e ajudantes, mediatas e imediatas, e todas elas são mantidas por uma conexão natural e difícil de perceber, que une o mais longínquo ao mais desigual, sendo improvável reconhecer as frações sem reconhecer o integral, ou reconhecer o integral sem reconhecer as frações. Todos os processos de ensino-aprendizagem envolvem alguma espécie de articulação, que interconecta o sujeito ao objeto, o singular ao geral. O dinamismo e a complexidade que envolve a prática educacional transcendem a mera condução do aluno a busca da essência das coisas. O emprego da tecnologia como meio de socialização de saberes, comportamentos e percepções demonstra ao alunado os fatores que delinearam o contexto no qual se encontram e que, necessária e naturalmente, precisam conviver pacificamente.


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