quarta-feira, 21 de julho de 2021

A Força do Hábito

 


    Era uma vez um cara que, religiosamente, saboreava uma xícara de café após o jantar e consequentemente não conseguia dormir profundamente porque o sono tornava-se “leve”. Era uma vez uma senhora que, religiosamente, ingeria duas térmicas de água quente com erva antes do jantar – chimarrão, e consequentemente não conseguia dormir profundamente pois necessitava urinar duas ou três vezes durante a noite. Era uma vez milhões de pessoas que não conseguiam deixar o celular mais distante do que trinta centímetros porque no primeiro “plim” a ansiedade provocava uma compulsão de visualizar a tela. Impulso que domina toda e qualquer possibilidade de continuar fazendo aquilo que se está fazendo...seja dirigindo, se alimentando, cochilando, caminhando, pouco importa. A ânsia de pegar o telefone e visualizar o conteúdo simplesmente impede a continuidade da vida. Mas afinal, o que faz um ser humano repetir continuamente a ação que provoca uma reação inadequada, desconfortável, perigosa.... Ao perguntar o motivo da incansável e insensata reprise destas e tantas outras manifestações, uma resposta é quase que unânime: “Eu não consigo parar! ”. Não consegue? Por que? A conclusão resume-se no termo: ¨hábito¨. Ou seria ¨mania¨? Ou uma combinação das duas?

    Existe uma sutil diferença entre ¨hábito¨ e ¨mania¨. A mania é um comportamento repetitivo que pode gerar danos a quem pratica, seja psicológico, social ou emocional. O hábito, por sua vez, é uma ação feita de modo inconsciente, mas que não gera problemas tanto quanto a mania. A mania quando se torna intensa pode se transformar em TOC - Transtorno Obsessivo Compulsivo? Afinal, o TOC se caracteriza pela presença de obsessões e compulsões. Obsessões são pensamentos intrusivos, repetitivos, persistentes e indesejados, enquanto as compulsões são comportamentos repetitivos ou atos mentais que o indivíduo se sente compelido a realizar em resposta à obsessão. O perfeccionista quer que tudo que ele faça seja perfeito: seu trabalho, provas, ações e práticas. A pessoa perfeccionista, por exemplo, tem a convicção de que a perfeição é um único caminho para a aceitação pessoal e dos outros. Por isso, busca incessantemente os melhores resultados possíveis.

    O Transtorno Obsessivo Compulsivo pode ser percebido diante da presença de obsessões, compulsões ou ambas. As obsessões ou compulsões precisam atender, no mínimo, um dos quesitos a seguir: - Tomar muito tempo. - Causar angústia significativa. - Interferir com a capacidade funcional da pessoa. Um indivíduo que não consegue ouvir o “plim” do celular sem verificar a mensagem pode não perder muito tempo, mas certamente é movido pela angustia e, inevitavelmente, reduz a sua capacidade produtiva funcional. É importante perceber que as obsessões persistem até o exercício da compulsão que alivia a ansiedade. Provavelmente concorrem vários fatores para o seu aparecimento: de natureza biológica envolvendo a predisposição genética, alterações funcionais e da neuroquímica cerebral, e fatores psicológicos como aprendizagens de formas erradas de lidar com medos e ansiedades. As obsessões/compulsões mais corriqueiras em pacientes com o transtorno são relacionadas a contaminação, limpeza, checagem, insegurança e controle. Estima-se que aproximadamente um em cada 40 a 60 indivíduos na população apresenta o TOC e é provável que somente no Brasil existem entre três e quatro milhões de pessoas acometidas pelo transtorno.

    Enfim, O poder contido no hábito comanda o tempo todo. Isso acontece quando se entra no carro, se ajeita o assento, se coloca o cinto de segurança, se acerta os espelhos retrovisores, se coloca o pé na embreagem, se liga a ignição do veículo, .... Durante todas essas operações entra o “piloto automático cerebral”. Em síntese, a vida do ser humano é constantemente determinada por fatores que nem sempre são plenamente conscientes. Estes são os hábitos revelados por atos impensados e escolhas automáticas. Eles orientam como se vestir, o que comer, como negociar, como se exercitar ou beber um vinho no happy hour.

    Todo hábito pessoal acontece em ciclos. Um ciclo é composto por exatas três etapas. Cada etapa possui um diferente gatilho, uma rotina e oferece uma recompensa única. Certos hábitos são simples e outros complexos, valendo-se de gatilhos emocionais e oferecendo sutis prêmios neuroquímicos. Mas todo hábito, seja simples ou complexo, também é maleável. Um cidadão ébrio, por exemplo, pode vir a se tornar sóbrio. Um estudante que abandona os estudos básicos também pode se tornar um profissional de sucesso. Contudo, modificar, abandonar e até mesmo adquirir hábitos não se resume tão somente em força de vontade. Alguns pesquisadores que se debruçaram sobre a questão perceberam um ciclo neurológico que envolve a questão embrionária de cada hábito que se resume em rotina, recompensa e gatilho, intitulada como o Ciclo do Loop do Hábito.

    O livro “O Poder do Hábito” de Charles Duhigg - repórter do jornal The New York Times -, descreve que os hábitos podem impactar na vida pessoal ou profissional, ou ambas. Segundo Duhigg, “A maioria das escolhas que fazemos a cada dia pode parecer fruto de decisões tomadas com bastante consideração, porém não é. Elas são hábitos”. O autor afirma que a inclusão de hábitos saudáveis e descarte dos inúteis é a principal atitude para avançar no caminho de objetivos traçados. O repórter do jornal descreve que os hábitos são “inclinações” por determinada ação, ou seja, a disposição de agir constantemente de certo modo adquirida pela repetição. O livro baseado na neurociência, explica que o cérebro busca incessantemente reduzir esforços. A ideia em si não é nova, todavia, Duhigg explica como os hábitos são processados dentro do cérebro humano. O Loop do Hábito, anteriormente mencionado, é explicado na edição da seguinte forma:  - Gatilho (ou deixa): qualquer acontecimento que desperte a atenção do cérebro pode ser considerado um gatilho e é ele que impulsiona a ação. – Rotina: acionada pelo gatilho, a rotina é a maneira “comum” de resposta - seja em ações físicas, emocionais ou mentais. – Recompensa: quando o cérebro acredita que determinada rotina funcionou, ele irá armazenar essa informação. Deste modo, quando acontecer novamente uma mesma situação, provavelmente o cérebro irá recorrer pelo mesmo caminho – criando-se, assim, um hábito.

    Após esta sucinta explanação sobre o poder do hábito você pode estar se perguntando: - ok, e como fazer para evitar este processo? A resposta fica para outro texto!

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