quarta-feira, 25 de abril de 2012

ENSAIOS SOBRE NEUROCIÊNCIA

* Os textos inseridos nesta postagem foram replicados de um fórum sobre Neurociência versus Educação, do curso Master en Educación da Universidad de Jaén, no qual o autor deste blog é integrante na categoria de mestrando.

Por Heitor Jorge Lau
Tutor da Disciplina Processos Gerenciais da Uninter Pólo Santa Cruz do Sul
Empresário e Mestrando em Educação
Pós-Graduado em Gestão de Recursos Humanos
Bacharel em Comunicação Social – Relações Públicas

    A neurociência relacionada à educação ainda é relativamente recente no Brasil. Porém, a partir da grande quantidade de material vinculado ao assunto, sem dúvida, ela é de imensa importância, uma vez que o objeto principal da tríade neurociência-educação-aprendizagem é o mesmo: o cérebro. E indubitavelmente, o aprender está diretamente relacionado ao desenvolvimento do cérebro, em amplo sentido (serve tanto para o corpo docente quanto para o discente). Deter competências suficientes para colocar em prática as habilidades e gerar conhecimento de forma ininterrupta não é tarefa fácil. Isto somente torna-se possível, não pelo aumento das sinapses, mas pela intensidade de sinapses pertinentes aos objetivos previamente determinados. O conhecimento mais aprofundado da neurociência é que possibilita a construção de artifícios para o aprendizado, retenção de informações e lembrança de “memórias arquivadas”. É sempre relevante ter em mente que apesar do cérebro ser dotado de imensa plasticidade neuronal, o aumento da intensidade sináptica não antevê acréscimo da capacidade de aprender generalizadamente. Portanto, a neurociência é importante, mas precisa ser apreendida com muita cautela.

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    Ao que tudo indica, um ambiente estimulante leva a formação de novas sinapses. Por isso, tão relevante quanto compreender sobre o complexo funcionamento do cérebro (neurociência) é saber como criar a melhor forma de provocar o pleno aprendizado. O aumento gradual das taxas sinápticas e a conseqüente aprendizagem são reflexos oriundos das capacidades (habilidades, competências e conhecimentos) do docente/discente versus metodologia de ensino versus ambientes educacionais. Por este prisma é perceptível que o estudo e concepções sobre a neurociência não comportam, por si só, novos estratagemas educacionais por não serem suficientes para propiciar melhores resultados em sala de aula. Talvez, o maior desafio do professor seja: criar as “ferramentas” apropriadas e o ambiente propício, a fim de contemplar os diversos modelos mentais existentes no contexto escolar. A neurociência trata do assunto de forma não especulativa, e faz emergir significados sobre a eficiência mais acentuada de algumas abordagens sobre outras em sala de aula. Portanto, não se pode negligenciar e desassociar este conhecimento, das outras ciências que abarcam a cognição e educação. Por outro lado, precisam ser percebidas como aliados.

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     A observação (breve e superficial) de uma escola que adotou o modelo cognitivista-construtivista há vários anos, aliás, considerada uma aberração por aquela comunidade local, que na época somente conhecia e admitia o modelo de ensino da Aprendizagem por Transmissão, demonstrou o seguinte: Anos transcorreram e o modelo permanece. Todavia, durante os contatos com alguns profissionais da educação, comentários sobre os problemas decorrentes do modelo praticado por aquela escola não foram promissores. A falta ou carência de noções suficientes para a resolução de questões matemáticas e de português foram as que encabeçam a lista de falhas. Um docente que incrementa a renda através de aulas particulares cita: - Eu adoro a Escola Xxxxxx porque meus alunos são todos de lá (risos). * Nome da escola não será revelada. Não seria razoável declinar ou criticar ferrenhamente o modelo por resultados não alentadores, outrossim, seria sensato considerar (neste caso, sem estudos mais aprofundados) alguma carência no currículo do docente, nas metodologias aplicadas ou ambientes configurados, fatores que poderiam perfeitamente ser ajustados. 

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      É possível afirmar que quando os desafios propostos são altos e as habilidades do corpo discente são baixas o resultado resume-se em ansiedade, preocupação e frustração. Em contrapartida, se as habilidades são altas e os desafios são baixos, o resultado resume-se em tédio e relaxamento. Desta forma, a dosagem correta entre desafios e habilidades converte o aprendizado em experiências do saber. Tal fluxo tende a acontecer no momento que as habilidades de um docente/discente estão completamente dedicadas em superar o desafio que está no limiar da capacidade de controle.
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    Seres humanos comportam uma espécie de organização interna cognitiva fundamentada em informações e conhecimentos singularmente de caráter conceitual, e o grau de complexão se perfaz por intermédio dos links que esses conceitos constroem. Este interessante processo se constitui ininterruptamente através da abstração e da generalização de informações na rede neurônica.

     Ausubel afirmou em seus estudos que a aprendizagem significativa ocorre a partir de duas condições básicas: da disposição para o aprendizado; e da existência de conteúdos significativos. A primeira depende, em parte, da disposição do aluno em desejar aprender, em querer absorver conteúdos, o que é diferente de memorizar arbitrária e literalmente conteúdos ministrados em sala de aula. Neste caso, a aprendizagem significativa cede espaço para a aprendizagem mecânica, que não deixa de ser o processo cartesiano amplamente difundido e utilizado em grande quantidade de escolas.

     Desenhar conteúdos potencialmente significativos exige do educador uma visão sistêmico-analítica aguçada, preparada para tal, a fim de determinar o que possui significado lógico e o que possui significado psicológico. A diferença entre os significados é que o primeiro depende estritamente da natureza do conteúdo enquanto o segundo está intimamente relacionado às experiências que cada educando acumulou durante a vida.

    Portanto, é interessante prever que o aluno efetua, dinamicamente, aquilo que se pode conceber como uma “filtragem" de todo e qualquer conteúdo que chega ao seu conhecimento, separando tudo o que têm ou não, relativo significado para si. Ser educador não é fácil mas ser educando também não. Lembremo-nos disso!

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