sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

COMO PENSAM AS PESSOAS DEPRIMIDAS


Ms. Heitor Jorge Lau
 Psicanalista
Mestre em Educação
Pós-graduado em Gestão de Pessoas
Bacharel em Comunicação Social

PENSAMENTOS AUTOMÁTICOS

                O que mais me impressiona em relação à forma como os pacientes deprimidos pensam é que eles são incansavelmente negativos, mesmo quando os fatos são positivos. Os terapeutas cognitivos identificaram que, diante da depressão, a tendência de um paciente deprimido é ter uma visão negativa de si, de suas experiências e de seu futuro. Isto chama-se: “ tríade negativa”. Quando assume essa visão negativa de si, tudo o que se faz parece um fracasso ou um “fiasco”. Mesmo quando alguém acena para os aspectos positivos, o depressivo os descarta como irrelevantes: por exemplo - “Isso não é nada demais – qualquer um pode fazer isso”. Parece não desfrutar de nada; acha que fazer exercício é uma perda de tempo, que as férias foram um desperdício de dinheiro e que relacionamentos são maçantes e exigentes. O paciente depressivo tem uma visão obscura do futuro, prevendo, também, que nunca vai melhorar, que vai ser reprovado no exame, que vai ser despedido do seu emprego e que acabará sozinho pelo resto da vida. O que vem primeiro – o pensamento ou a depressão? Os pensamentos negativos levam à depressão, a mantêm e a prolongam. O importante é capturar os pensamentos negativos, testa-los e modifica-los. Essa negatividade dominante é expressa em vieses específicos no pensamento. Em Terapia Cognitiva, chamamos tais vieses de “pensamentos automáticos”. Existem pensamentos automáticos que chegam até o paciente espontaneamente; eles parecem plausíveis e verdadeiros e estão associados a sentir-se deprimido.

 

           Distorções do pensamento automático

·        Ler a mente: sabe o que as pessoas pensam sem ter evidências suficientes dos seus pensamentos. “Ele acha que eu sou um perdedor”.

·         Adivinhar a sorte: prediz o futuro negativamente: as coisas vão piorar ou existe perigo à frente. “Eu vou ser reprovado no exame”. “Não vou conseguir aquele emprego”.

·         Catastrofizar: acredita que o que vai acontecer é tão terrível que não vai conseguir aguentar. “Seria insuportável se eu fracassasse”.

·         Rotular: atribui amplamente traços negativos a si mesmo e aos outros. “Eu sou indesejável”. “Ele é uma péssima pessoa”.

·         Ignorar os aspectos positivos: desvaloriza as coisas positivas que o próprio paciente ou os outros fazem como se fossem insignificantes. “Aqueles sucessos foram fáceis, então não importam”.

·         Filtrar o negativo: foca quase exclusivamente nos aspectos negativos e raramente nota os positivos. “Olhe só todas essas pessoas que não gostam de mim”.

·         Supergeneralizar: percebe um padrão global de aspectos negativos com base em um único incidente. Vai além de uma experiência e generaliza para um padrão que caracteriza a própria vida. “Isso sempre acontece comigo”. “Eu fracasso em muitas coisas”.

·         Pensamento dicotômico: encara os acontecimentos ou as pessoas em termos de tudo-ou-nada. Ou é um “vencedor” ou um “perdedor” – nada intermediário. “Eu sou rejeitado por todos”. “Foi uma completa perda de tempo”.

·         Deveres: interpreta os acontecimentos em termos de expectativas e demandas em vez de simplesmente focar no que é. “Eu devo me sair bem, senão, sou um fracasso”.

·         Personalizar: afirma uma culpa desproporcional quando ocorrem coisas ruins e não vê que certos acontecimentos também são causados pelos outros. “O casamento terminou porque eu falhei”.

·         Acusar: foca em outra pessoa como a origem dos sentimentos negativos, portanto, se recusa a assumir a responsabilidade por sua mudança. “Eu estou sozinho por causa dela”. “Os meus pais causaram todos os meus problemas”.

·         Comparações injustas: interpreta os acontecimentos segundo padrões irreais – por exemplo, foca primariamente nos indivíduos que têm mais sucesso. Ironicamente, quase nunca se compara a pessoas que são piores. “Ela tem mais sucesso do que eu”.

·         Orientação para o arrependimento: foca na ideia do que poderia ter feito melhor no passado em vez de no que pode fazer melhor agora. “Eu não deveria ter dito aquilo”. “Eu poderia ter conseguido um emprego melhor se tivesse tentado”.

·         E se?: fica se questionando sobre “e se” algo acontecer e se recusa a ficar satisfeito com qualquer resposta. “Sim, mas e se eu ficar ansioso? ”. “E se eu não conseguir recuperar o fôlego? ”.

·         Raciocínio emocional: permite que os sentimentos guiem a interpretação da realidade. “Eu me sinto deprimido”, portanto, meu casamento não está dando certo”.

·         Incapacidade de refutar: rejeita qualquer evidência ou argumento que possa contradizer os pensamentos negativos. Por exemplo, quando pensa “Ninguém gosta de mim”, rejeita como irrelevante qualquer evidência de que as pessoas, na verdade, gostam. Consequentemente, o pensamento não pode ser refutado. É impossível provar que o pensamento está errado, portanto se apega a ele. “Esse não é o verdadeiro ponto. Existem outros fatores”.

·         Foco no julgamento: avalia a si mesmo, aos outros e aos acontecimentos como bons/maus, ou superiores/inferiores, em vez de simplesmente descrever, aceitar ou compreender. Está continuamente avaliando as coisas de acordo com padrões arbitrários e achando que elas estão aquém das expectativas. “Eu não tive um bom desempenho na universidade”. “Se eu jogar tênis, não vou me sair bem”. “Olhe como ela joga bem. Eu não jogo bem”.

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