sexta-feira, 9 de abril de 2021

O Homem e a Solidão

 

            
            
            Para algumas pessoas, a solidão é percebida como um gigantesco problema, uma monstruosidade terrível e insuportável insurgida de angústias pessoais. Contudo, ao passo que alguns indivíduos buscam fugir da solidão estando rodeados de “amigos”, outros nem tanto...por espontânea vontade decidem ficar em casa ou moram sós sem grandes problemas. Estes, normalmente, são encarados como seres tristes, solitários, afinal, “não têm família ou amigos”.

                Entretanto, algumas pessoas, mesmo vivendo sozinhas, em determinados momentos sentem uma necessidade desesperada de correr para algum lugar (seja qual for) repleto de gente (seja quem for), que transmita a ilusória sensação de segurança. É interessante entender que existem determinados padrões culturais que delineiam as interações no mundo, muitas vezes com incentivo insistente do vínculo social; a valorização da convivência familiar e a amizade são exemplos do modelo cultural vigente.

                A angustia de lidar com a solidão emerge da dificuldade em integrar e administrar as seguintes influências da vida: demandas interiores versus demandas sociais. A dificuldade acontece, justamente, pela frágil consciência que o ser humano (pelo menos a maioria) tem dos próprios sentimentos e que favorecem esse movimento inautêntico no mundo. A sensação é de que viver resulta da perspectiva de agradar ou mostrar coisas aos outros.

                É possível conhecer a si! E, a solidão é o momento adequado e propício para isso, afinal, é na solidão que o ser humano encontra-se só, consigo mesmo. Entretanto, em certos momentos a solidão pode causar um vazio. O ser humano é um ser social e precisa de outro para “se sentir vivo”. As interações interpessoais revelam aspectos humanos individuais que somente são percebidos nas relações com os “outros”. O estar só e estar acompanhado é particular de cada pessoa.

                Assim, é mister aliar a consciência de si com a consciência das forças culturais a fim de fazer as escolhas mais acertadas de acordo com os próprios desejos. Por isso, nem sempre casar, ter filhos, cursar uma faculdade, trabalhar em um emprego formal ou conquistar um status social seja o melhor para todos os indivíduos - na perspectiva de seus desejos particulares.

                A Psicanálise Culturalista que trata das relações humanas a parir do estudo das culturas, explica ou procura explicar, a essência da solidão. Adler, por exemplo, afirma que o poder e a notoriedade são os princípios determinantes na vida de todo ser humano. Erich Fromm, declara que apesar do homem buscar a liberdade na vida, acaba se aproximando da solidão através das condições conflitantes das relações em sociedade. Sullivan, entende que o homem nasce em uma situação interpessoal, e mesmo que venha a ser um eremita -  isolado da sociedade -, levará consigo a solidão através das lembranças das suas relações interpessoais anteriores e que continuarão exercendo influência no seu modo de pensar e ser no mundo. May, percebe a solidão e a sensação do vazio como intimamente ligados às convenções que foram impostas. Por conseguinte, a reação natural diante do sentimento de vazio e solidão é a busca de um “outro” (seja um amigo, familiar, terapeuta, conselheiro religioso, ...) que acolha e console em meio a toda confusão e mudanças da sociedade.

                A percepção da solidão é determinada pela interpretação que o ser humano tem sobre a própria liberdade. Portanto, existem duas maneiras de viver: o autêntico, quando aceita que a solidão é o preço a pagar pela liberdade; e, o inautêntico, quando interpreta a situação como abandono. Maslow, Psicólogo americano, que propôs a Hierarquia das Necessidades, sugeriu um caminho para abrandar os sentimentos (insistentes) de solidão e abandono: a busca pela qualidade do desprendimento, da necessidade de privacidade, individualidade, autonomia e independência com relação à cultura e ao meio que vive. Para este Psicólogo o homem deve respeitar as regras da sociedade, entretanto, sem se submeter cegamente aos padrões. Fromm propõe a espontaneidade como único meio de vencer a solidão sem sacrificar a integridade da personalidade. E isso se faz, através da atividade livre do eu. Ele também confirma que o vazio e a solidão são sentimentos relacionados a ausência de espontaneidade e, portanto, pensar, sentir e se autodescrever conduz a segurança pessoal.

                Uma saída para evitar a solidão, e consequentemente o vazio e ansiedade, é o autoconhecimento. Mas, é sensato e prudente reconhecer que apesar do homem se conhecer, os sofrimentos estarão sempre por aí, pois, o sofrimento e a dor de existir são inerentes à existência humana.

Referência: Os grandes conflitos interiores do homem contemporâneo: solidão, vazio e ansiedade. De: DUARTE, Livia Peretti Duarte.

Nenhum comentário:

Postar um comentário