Um mito comum que a maioria de nós aceita intuitivamente é que existe uma correlação negativa entre inteligência e crença: quando a inteligência cresce, a crença na superstição e na magia desaparece. Na verdade, não é esse o caso, especialmente quando analisamos o espectro do QI. Em profissões em que todos têm um QI superior à média (médicos, advogados, engenheiros e assim por diante), não existe relação entre inteligência e sucesso, porque nesse nível entram em jogo outras variáveis que determinam o sucesso profissional (ambição, disposição de tempo, habilidades sociais, rede de relações, sorte e assim por diante). De maneira semelhante, quando as pessoas se deparam com afirmações sobre as quais pouco sabem, a inteligência também não é um fator que influencie a crença, com uma exceção: uma vez que alguém se compromete com uma crença, quanto mais inteligente ele for, melhor racionalizará essa crença. Portanto: pessoas inteligentes acreditam em coisas estranhas porque têm habilidade para defender as crenças a que chegaram por razões nada inteligentes. A maioria das pessoas, na maior parte do tempo, chega a suas crenças por uma grande variedade de razões, que incluem personalidade e temperamento, dinâmica familiar e ambiente cultural, pais e irmãos, amigos e professores, educação e livros, mentores e heróis e diversas experiências de vida, das quais poucas têm alguma relação com a inteligência. O ideal iluminista do Homo Rationalis nos coloca sentados diante de uma mesa de fatos, pesando seus prós e contras na balança e depois utilizando a lógica e a razão para determinar que fatos apoiam melhor esta ou aquela teoria. Não é só assim que construímos nossas crenças. O que acontece é que os fatos são filtrados por nosso cérebro através das lentes coloridas de visões de mundo, paradigmas, teorias, hipóteses, conjeturas, pistas, tendências e preconceitos que se acumulam durante a vida.
Entre
todos os fatos, selecionamos os que confirmem aquilo em que já acreditamos e
ignoramos ou afastamos mediante uma racionalização os que contradizem nossas
crenças. O dilema do sr. D’Arpino era entender o que aconteceu com ele – não o
explicar como produto de um trauma de vida ou falha neural, mas reestruturá-lo
dando uma voz exterior a um significado interior. A conversão do dr. Collins
resultou da reconstrução de suas experiências em uma justificativa para a
crença, e sua jornada intelectual é uma eloquente demonstração da força da
crença para conduzir a razão e a racionalidade ao resultado desejado, e
vice-versa. O freio da razão está na boca do cavalo da crença. As rédeas puxam
e dirigem, seduzem e persuadem, afagam e instigam, mas no fim das contas o
cavalo seguirá seu caminho natural.
Nenhum comentário:
Postar um comentário