Psicopatas não têm nenhum
sinal físico que os identifiquem, nem internamente e muito menos externamente.
O transtorno não é possível de ser diagnosticado por meio de um exame
morfológico, por exemplo, nem com o indicativo de anormalidade estética. Mas
muito pelo contrário: o psicopata ainda se faz passar por alguém comum. Defendendo
esta ideia, o psiquiatra norte-americano Hervey Cleckley criou o termo “máscara
da sanidade”, ao publicar um livro homônimo, em 1941, em que relata a descrição
clínica mais influente da psicopatia do século 20. Pioneiro do estudo do
transtorno, Cleckley acreditava que um psicopata pode parecer uma pessoa como
qualquer outra e até mesmo interessante, mas usando uma máscara que esconde o
transtorno mental. No entanto, até o mais articulado dos atores uma hora deixa
a máscara cair.
Assim como qualquer
transtorno, a psicopatia somente pode ser diagnosticada por profissionais
capacitados, isto é, especialistas no assunto – e mesmo assim, não é algo
fácil. A capacidade de dissimulação do psicopata dificulta uma identificação
rápida e precisa. Muitas vezes, é preciso diversas consultas e conversas para
ter certeza do quadro. Além disso, os sinais podem ser confundidos com outros
transtornos, o que pode levar à solicitação de exames para confirmar o
distúrbio. O diagnóstico é dado por um profissional da saúde mental, que pode
exigir testes psicológicos. Outras vezes, é recomendável um neurologista por
alguns apresentarem sinais EEG (eletroencefalograma, exame que mede a
atividade elétrica cerebral) anormais. A história do paciente é importante para
o diagnóstico, mas, às vezes, o indivíduo mascara os fatos, o que leva o
psiquiatra a pedir os testes e o EEG.
Uma das ferramentas
usadas pelos especialistas é o PCL-R (psychopathy checklist-revised) ou
Escala Hare, um questionário elaborado pelo psicólogo canadense Robert D. Hare,
na década de 1970, a fim de diagnosticar tendências comportamentais
antissociais e a psicopatia. Com 20 questões, o método foi desenvolvido, a
princípio, para avaliar pessoas acusadas de crimes, sendo até hoje usado em
processos criminais. A pontuação, dada pelo especialista, vai do número 0, para
quem não apresenta característica alguma, até o 24, considerado o grau máximo
de psicopatia. O teste se dá em duas partes: uma entrevista com o indivíduo sob
suspeita e uma revisão de seus registros – por mentirem muito, é preciso checar
as informações no histórico familiar, profissional, escolar e criminal. O
profissional que aplica o PCL-R deve analisar as características do paciente
perante os itens do questionário que abrangem as relações interpessoais do
sujeito, seu envolvimento afetivo ou emocional, respostas a outras pessoas ou
situações, provas de desvio social e estilo de vida. Portanto, o material
inclui aspectos fundamentais que ajudam a definir o psicopata, como
vitimização, egoísmo e comportamento antissocial. Reconhecer previamente um
sociopata é complicado, pois normalmente são muito estratégicos, inteligentes e
ardilosos. Costuma-se dizer que, infelizmente, são reconhecidos apenas depois
de terem cometido algum ato lesivo.
É importante observar
como ele lida com seus impulsos. Acredita-se, na linguagem psicanalítica, que o
psicopata é uma pessoa que congenitamente nasceu sem o ‘superego’, ou seja, a
parte da personalidade que serve como limitador e controlador dos impulsos que,
livremente e sem qualquer controle, brotam do seu inconsciente.
Se você convive com o
suspeito há bastante tempo, é ainda mais fácil notar que há algo de errado. Não
raro, na infância, costumavam encantar facilmente adultos pela sua aparente
docilidade e espontaneidade. Entretanto, já apresentavam traços de frieza,
insensibilidade, intolerância à frustração e agressividade – que podem ser
evidentes em condutas tais como mentir e maltratar outras crianças e animais
Identificar um psicopata
é algo muito importante não só para que se possa procurar ajuda e tratamento,
mas também para preservar a integridade de quem convive no mesmo ambiente da
pessoa com o distúrbio. É preciso compreender que o transtorno de
personalidade antissocial é um problema grave de saúde mental e que apresenta
consequências importantes não só para quem sofre da psicopatia, mas para quem
convive em seu entorno. Reconhecer os sinais é um dos passos para lidar melhor
com quem tem esse transtorno, já que, muitas vezes, não é possível se afastar
totalmente.
Sinais de psicopatia
Há diversos
comportamentos e características que enquadram um indivíduo como portador do
distúrbio. Porém, isso não significa que uma pessoa que apresenta alguns dos
sinais seja, necessariamente, um psicopata. E vice-versa: uma pessoa pode ter o
transtorno de personalidade antissocial e não apresentar alguns dos sinais. De
qualquer forma, é indicado prestar atenção nas seguintes características
listadas pelo psiquiatra Hervey Cleckley:
•
Atração superficial;
•
Boa inteligência;
•
Inexistência de delírios ou outros sinais
de pensamento irracional;
•
Ausência de nervosismo;
•
Ausência de confiabilidade;
•
Falta de veracidade;
•
Inexistência de remorso ou vergonha;
•
Comportamento antissocial;
•
Julgamento precário;
•
Incapacidade de aprender com a
experiência;
•
Inexistência de correspondência nas
relações interpessoais;
•
Egocentrismo patológico;
•
Incapacidade de amar;
•
Vida sexual impessoal, corriqueira e pouco
integrada;
•
Incapacidade de seguir um plano de vida.